Eu respirava com dificuldade, ouvindo Aurora falar comigo, mas não conseguia entender nada. Olhava para ela e para a lança em meu peito. Doía, e eu sentia meu coração se esforçar para bombear o pouco sangue que me restava enquanto também era cortado pela lâmina. Olhei para cima; o céu estava nublado, tão cinza quanto a fumaça de uma fogueira. Sentia o frio em torno do meu pescoço, pois meu cachecol não estava lá. Pela primeira vez, me vi desamparado. De repente, a dor que estava sumindo voltou rapidamente, me retorcendo de dor. Ouvi minha carne sendo cortada, mas em um instante rápido, tudo parou. A dor cessou e eu me senti leve como uma pena, tão leve que poderia voar.
Meus olhos que estavam fechados se abriram repentinamente. Uma luz forte me atingiu, eu senti um calor sobre meu corpo e minhas mãos sentiam algo macio que eu acariciava levemente. Minha visão calmamente foi se acostumando com a luz, e quando percebi, eu estava deitado em um gramado verde, tão verde quanto esmeraldas. Eu me levantei assustado, me sentando. Olhei para trás e vi uma árvore com flores roxas que balançavam com a brisa. Rapidamente, lembrando do que aconteceu, olhei minha barriga e ela estava intacta. Aliviado, apoiei-me na árvore e me levantei.
Quando terminei de levantar, olhei em volta. Eu estava em um lugar imenso que só tinha grama, mas ao longe eu via uma fumaça que subia no horizonte. Ainda processando o que estava acontecendo, comecei a andar na direção da fumaça. Depois de um tempo, cheguei na origem da fumaça: uma casa de tijolos com uma varanda.
Nessa varanda, havia alguém que se balançava em uma cadeira de balanço calmamente enquanto tricotava algo e cantarolava uma melodia que o vento tinha dificuldade de trazer até mim. Continuei a me aproximar cautelosamente. Quando cheguei mais próximo, finalmente consegui focar minha visão na pessoa que estava lá: uma mulher, de cabelos brancos com as pontas detalhadas em roxo. Suas orelhas eram pontudas e nelas havia brincos dourados detalhados com gemas vermelhas no centro.
A mulher não notou minha presença até eu chegar mais perto. Quando finalmente notou, ela soltou o crochê e lágrimas cobriram seu rosto. Eu vi os seus olhos, olhos azuis quanto o céu, e suas pupilas eram em forma de uma estrela de quatro pontas. Ela veio na minha direção e me abraçou fortemente, gritando.
"YURI!? É mesmo você? Você cresceu tanto, está a cara dele, ou melhor, você é literalmente uma cópia dele! Peraí..." - terminou a mulher que se afastou e me olhou melhor, voltando a falar: "Você não deveria estar aqui, não deveria estar aqui mesmo! O que aconteceu, filho?"
Quando ela falou essa palavra, eu congelei. Na mesma hora, me lembrei da mulher com quem eu cantarolava. Aquele ar estranho que a cobria desapareceu, e eu finalmente vi seu rosto, seus cabelos, tudo! Meu corpo amoleceu e eu caí. Minha última visão foi a mulher correndo até mim para me segurar enquanto ela gritava: "YURI!"
Eu senti um cheiro estranho que me fez acordar rapidamente. Abri os olhos e vi a mulher segurando um frasco com algo na frente do meu nariz. Repentinamente, espirrei. A mulher me sentou no chão e olhou para mim. Aquele rosto era tão familiar, tão... nostálgico. Ela provavelmente percebeu que eu a estava encarando e falou:
"Que foi, Yuri? Nunca viu uma pessoa tão bonita?" Ela colocou a mão no queixo, tentando morder os lábios, algo que não teve sucesso. De forma involuntária, comecei a rir descontroladamente. Ela deu um leve sorriso, e eu parei de rir ao ver aquele sorriso. Tudo era tão estranhamente nostálgico que já estava me dando dor de cabeça. Ainda sentado, me levantei e a olhei, perguntando de forma séria, mas tímida: "Quem é você?"
Ela, que estava sentada no chão, se levantou, bateu a mão no vestido e olhou para mim, falando de forma calma:
"Sou sua mãe, bobinho. Mas é claro que você não se lembra de mim. Você devia ter uns 9 meses quando eu parti. Mas de uma coisa eu sei, seu pai com certeza te contou tudo sobre mim, não é?" - falou ela enquanto se virava, se vangloriando.
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☆ O olhar da Magia ☆
FantasíaNum mundo onde a hostilidade entre os dotados de magia e os desprovidos dela atinge níveis brutais, uma era de perseguição e extermínio assola as terras. Os corações dos sem-magia são consumidos pela inveja, alimentando uma ânsia implacável de errad...