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O orvalho da noite ainda cobria o chão quando saí para ajudar meu pai a empilhar os cantis na parte de trás do heliciclo. A superfície plástica dos cantis brilhava ao sol da manhã. Apertei bem o cinto ao redor da carga e, depois de me certificar que tudo estava bem preso, coloquei a bolsa feita de algas no ombro e subi no veículo.Vá no Jukara disse meu pai. Ele dá um desconto. Jukara era o mais antigo artesão especializado em plástico do vilarejo, um amigo do meu pai. Mas eu não confiava nele desde que, no ano anterior, cantis arrumados em sua loja tinham dado problema após pouquíssimo tempo de uso. Portanto, não respondi, simplesmente fiz um movimento com a cabeça que podia ser interpretado como um aceno positivo.
─E não demore o dia todo─ acrescentou ─ Temos convidados amanhã. Preciso de ajuda para limpar a casa de chá.
Afundei o pé no pedal para dar a partida. Um dos painéis solares estava quebrado e o motor falhava, então tive que manter o pé afundado por quase toda a estrada empoeirada, cobertas por árvores verdedouradas, que se estendia nos arredores de casa. Só depois que saí do bosque é que o veículo ficou mais estável. Já na estrada principal, travei o pedal e descansei os pés enquanto a moto se movia sem pressa pelo vilarejo. O ar da manhä gelava meus braços nus. A essa hora, as mutucas ainda não tinham aparecido. Tirei o capuz antimosquito, deixando o vento e o sol se espalharem pelo meu rosto. O tempo estava seco, o céu, azul, e a terra, silenciosa, Cheguei a ver alguns pequenos animais se mexendo na poeira em busca de água.
Passadas as casas mais distantes do vilarejo, cheguei à separação da estrada. O caminho para a loja de Jukara era à esquerda, Parei, em dúvida, mas decidi pela direita, onde logo distingui a velha cerca azul tão familiar.
Como a maior parte das construções do vilarejo, a casa de Sanja era uma herança do mundo antigo, uma construção grande com múltiplos quartos, um quintal e uma garagem em que a maior parte das pessoas ainda possuía veículos de tecnologias hoje muito ultrapassadas. As paredes haviam sido consertadas inúmeras vezes e os pais de Sanja me disseram que, antigamente, a casa tinha um telhado praticamente plano, sem painéis solares, embora isso seja muito dificil de imaginar.
Quando parei do lado de fora do portão, vi Sanja no jardim, esvaziando o último cantil dentro de um barril de metal enquanto enfileirava xingamentos. A porta da frente estava aberta e um fluxo quase inaudivel de pod-news saía da casa, atravessando a tela antimosquito que cobria a porta da frente. Sanja não estava usando seu capuz e, quando olhou para mim. Vi logo que não tinha dormido.
─ O maldito farsante me vendeu água salgada- disse e logo arrumando furiosamente o cabelo atrás das orelhas. ─Não sei como eu provei a água, como sempre faço, e era potável. O preço era um absurdo, então só comprei meio cantil, mas mesmo assim foi dinheiro jogado fora.
─ Que tipo de recipiente era?- perguntei, passando pelo portão para estacionar no jardim.
─ Um desses antigos. Daqueles grandes e transparentes que ficam apoiados num estrado, de onde sai um cano com uma torneira.
─ Fraude do cano duplo ─ Expliquei. ─ Vi acontecer na cidade, ano passado. Dentro do estrado tem um segun do recipiente escondido com água salgada. O cano tem duas saídas. A primeira é da água potável e a segunda, que fica escondida, da salgada. O vendedor oferece a prova do cano de água potável, depois muda a bica sem você perceber e vende a salgada.
Sanja me encarou por um instante e, enfim, desabafou:
─ Burra, idiota.
Eu sabia que os xingamentos não eram endereçados a mim. Ela devia ter gasto a maior parte do salário mensal em água salgada.
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~Memória Da Água~
Historical FictionEm 1984 onde a China dominou a Europa o lema prinvipal era "Quem tem água tem poder!". A água passou a ser controlada e distribuída em cotas pelos militares. E Noria a próxima Mestra do Chá está destina a guardar o maior segredo de sua família, Uma...