O começo.

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    Vamos lá! Esse só vai ser mais um relato de um jovem, desses que tem vários por aí. Mas pra mim, não foi só isso. Pra mim, foi uma das maiores reviravoltas que já aconteceu na minha vida.

    Você pode me chamar de Matheus, eu tenho 21 anos, sou bissexual e acabei de me entregar de vez ao amor. E quando estou falando sobre me entregar ao amor, também estou me referindo às consequências que ele traz consigo.

  Começo de tudo

    A história que eu vou contar a vocês começa exatamente há um ano e seis meses atrás. Eu ainda tinha 20 anos e estava estreando a peça que, sem dúvida nenhuma, marcou a minha vida:  Cabaret. Eu fiz o Emcee, na versão brasileira desse musical da Broadway que eu tanto amava e sonhava em fazer. Eu não poderia estar mais feliz. Eu estava estreando no palco do Teatro Renault, em São Paulo, junto com a minha melhor amiga. Ela fez a Sally Bowles.

    E quando eu achava que não podia estar mais feliz, eu recebo a notícia de que a gente iria fazer uma turnê pelo Brasil com esse espetáculo. Eu realmente não poderia estar mais realizado! Depois de termos ficado três meses em cartaz, começamos a "rodar" (viajar para outras cidades e estados) com o musical. De acordo com o roteiro da turnê, terminamos os trabalhos em Salvador, na Bahia, minha cidade natal.

    Eu me mudei pra São Paulo com 17 anos pra trabalhar em um espetáculo pequeno, chamado: As Voltas Que o Mundo Dá. Eu fiz um cara que descobriu que tinha câncer e se apaixonou pela enfermeira, que por acaso era a Renata que interpretava ela, que hoje é minha melhor amiga. E depois fiz alguns trabalhos tanto nos palcos quanto nas telinhas. De certa forma, eu já estava me consolidando e ficando conhecido. Eu estava super animado para voltar para Salvador e apresentar no TCA (Teatro Castro Alves, a maior casa de apresentações que temos em Salvador), mas também estava muito nervoso.

    Bom, nessa história vocês já conheceram um personagem, a Renata. Vocês já sabem que ela é minha melhor amiga e protagonizou comigo Cabaret. Agora eu apresento a vocês o segundo personagem dessa trama, André. André completou o trio de protagonistas em Cabaret. Ele fez o Cliff Bradshaw. Bom, como passamos muito tempo juntos, no período de audição, ensaios e estreia, nos tornamos amigos. Renata, eu e André ficamos realmente muito próximos. Tão próximos que decidimos morar juntos. Sim, fomos morar no mesmo apartamento. Éramos inseparáveis.

    André tinha um jeitinho doce de ser, uma voz grossa mas ao mesmo tempo acolhedora, um corpo esbelto, era relativamente alto se imaginarmos que eu tenho 1,80 m e ele não precisava olhar pra cima pra falar comigo, e acima de tudo, ele era super divertido. Sabe aquelas pessoas que você conversa por horas sem se dar conta de que o tempo está passando, quiçá tem vontade de parar de falar com ela? Ele era tudo isso e mais um pouco, com o tempo eu descobri.

    Eu acho que já dá pra perceber que André chamou a minha atenção, né?! Caso não tenha dado, sim, eu me apaixonei pelo meu colega de trabalho. Tudo começou quando nos cruzamos no corredor do colégio onde foram feitas as audições para o musical. Ali foi o meu primeiro contato com ele. Então, desde ali, eu já me encantei por ele.

    O tempo passou, eu recebi a notícia que fui aprovado, tive a maravilhosa notícia que a Rê também foi, e mais outra ótima notícia ao saber que ele seria meu colega de trabalho também. Mas como eu já tinha falado, ele se tornou meu amigo. E por um momento, a atração que eu sentia por ele sumiu, e a gente viveu a mais linda conexão que amigos podem viver. Quando fomos morar juntos, a gente já estava há um mês em cartaz com o musical, então já tinha uma certa intimidade, e tudo continuou como era antes. Trabalhávamos de quinta a domingo, com duas sessões no sábado e duas sessões no domingo. Tínhamos folga segunda, terça e quarta, mas às vezes fazíamos sessões extras na quarta. Uma rotina normal de ator que faz teatro musical.

    Nas nossas folgas, a gente costumava bater texto, fazer aulas de canto e dança, e eu fazia a manutenção do personagem com o meu preparador, o mesmo que me preparou para fazer o teste. Então a gente meio que não se desconectava do trabalho em momento nenhum. Ou estávamos em repouso vocal ou a gente estava estudando e aprimorando nossas técnicas.

    Mas tudo mudou no dia que a Renata decidiu fazer uma noite que fugiria da nossa rotina. Numa quarta-feira, ela entra em nosso apartamento e diz:

- Meninos, vamos fazer algo diferente essa noite. Então não me importa o que vocês iam fazer. A gente vai passar a noite juntos. Uma quarta diferente!

    Ela disse isso e foi pro quarto, e a gente, que estava assistindo a um filme nesse momento, apenas concordou, até porque não teríamos nada mais para fazer de noite, a não ser dormir para estar com a voz boa pra fazer uma peça que levaria duas horas no dia seguinte.

    E quando pensa que não, ela volta e diz:

- Ah! Eu já ia esquecendo. Por favor, se arrumem bem, vamos nos produzir um para o outro. Afinal de contas, somos atores que fazem peças da Broadway. O Brasil tem que perceber o nosso valor!

    Quando ela disse isso, a gente desligou a TV e foi para o quarto procurar uma roupa para usar nessa "quarta diferente" proposta pela Rê. Eu lembro de ter pegado uma bermuda de linho branca, uma camisa marrom e separado um Nike branco para usar. Eu e André dividimos o quarto, então a gente tava escolhendo a roupa juntos. Até que ele me pediu ajuda pra escolher a roupa dele e perguntou se eu tinha alguma roupa interessante pra emprestar. Então a gente começou a revirar a parte dele do guarda-roupa. Não achamos nada legal. Então eu peguei uma bermuda que eu tinha e dei pra ele vestir e ver se ficava boa nele.

Decidimos a roupa, a gente começou a se arrumar. Tomei banho, finalizei o cabelo, e André começou a se vestir enquanto cantávamos All By Myself. Ficamos prontos e esperamos a Renata sair do quarto, de onde ela não saiu desde o momento que anunciou essa nossa aventura. Quando deu 21:00, ela abriu a porta.

    Ela apareceu com um vestido justo no corpo, todo brilhante, um salto preto que eu nunca tinha visto ela usar, um senhor penteado no cabelo e acessórios esplêndidos. Quando eu vi ela daquele jeito, eu falei:

- Porra! Rê, se você não fosse minha amiga, eu iria te comer.

    Eu sei, isso foi muito baixo astral. Mas saiu. Então ela, de forma super animada, mandou a gente descer e se preparar pra viver a melhor noite das nossas vidas.

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