O melhor abraço.

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    Chocado. Eu fiquei exatamente assim. Renata era, de longe, a pessoa mais legal que eu já conheci, mas, infelizmente, ela já tinha passado por tudo aquilo que algumas pessoas não acham pesado por terem tido acesso a histórias piores e mais sofridas. Mas quando se trata de alguém que você ama, o menor dos sofrimentos é capaz de dilacerar o coração. Sem dúvidas, aquela noite levou a nossa amizade a outro patamar.

    Depois de uma longa conversa com Renata, ela acabou dormindo. Eu apaguei a luz e fechei a porta. Quando estava entrando no meu quarto, André estava deitado na cama. Eu me lembrei de ter brincado com ele:

   - Nossa! Que homem gostoso é esse deitado aí na cama?

    E ele respondeu rapidamente:

   - Só estou vendo um homem gostoso em pé na minha frente. Kkkkkkkk Matheus, deita aqui comigo. Bora lembrar dos velhos tempos.

    Logo quando a gente se mudou, não tínhamos três camas. E como ficou decidido que eu e ele iríamos dividir o quarto, dormimos por um mês na mesma cama. Eu rapidamente deitei ao lado dele, e ele me abraçou. Por um minuto, eu me senti no céu. Aquele abraço me fez esquecer que ele era o meu amigo. Depois de meses, eu desejei ter o André para mim. Só pra mim. André, que era gay, um gay discreto, plantado que mais parecia ser hétero, nunca tinha deixado nenhuma pista que pudesse sentir algo por mim. Mas a vontade que eu tive quando o vi pela primeira vez, que outrora estava adormecida, foi despertada apenas por um abraço. Naquele exato momento, eu deixei de ver André apenas como o meu amigo; naquele exato momento, eu tive vontade de beijar a boca dele, de navegar minhas mãos naquele corpo-mar, eu tive vontade de me entregar a ele e, ao mesmo tempo, dominá-lo.

    Deitados na cama, abraçados, ele começou a me falar como ele me admirava enquanto artista. Conforme ele falava sobre as minhas performances, eu, de forma extremamente racional, reparei que ele me observava. Veja bem, o primeiro número do espetáculo é "Welcome", e eu particularmente arraso nele. Mas ele não está em cena nesse momento, é uma música longa, dividida em duas partes, e quando ele entra em cena eu já não estou mais no palco. Não tinha como ele saber detalhes tão específicos. Ele notou modificações que eu fiz e que só os diretores tinham reparado, porque estavam me dirigindo. Fiquei impressionado, mas não havia a possibilidade de ele estar me encantando naquele momento. No minuto que ele me abraçou e eu me peguei desejando ele de novo, decidi fingir que nada aconteceu. Mas, puta merda, ele sabia como mexer comigo.

    Conversamos sobre coisas banais e decidimos dormir juntos. Naquela noite, eu não dormi. Eu só me perguntava o que fez ele mudar daquela forma comigo na quarta-feira. A gente se amava, aquilo não era apenas uma alucinação minha por efeito da bebida. O André que eu conhecia estava abraçado comigo na cama, não era o André que estava quase tendo um piripaque no elevador ou mal falava no carro. Vira e mexe, ele fazia um cafuné na minha cabeça. Todas as vezes que ele acordava, eu percebia que ele logo se atentava a ver se eu ainda estava sendo abraçado por ele, e todas as vezes que ele deixava de me abraçar, ele voltava assim que despertava. Eu acho que não quis pensar em nada naquele momento, por saber que eu poderia estar me apaixonando.

    Quando o sol ainda estava se levantando, ele acordou. Como o braço e a perna dele estavam em cima de mim, quando ele se mexeu eu percebi que ele tinha acordado, e, de forma muito inesperada, ele me disse:

    - Essa foi a melhor noite de sono que eu tive nesses últimos dias. Bom dia!

    Eu achei curioso ele ter falado isso. Eu percebi que ele não tinha dormido de forma contínua, ele acordou várias vezes durante a noite e todas as vezes que acordou foi para me abraçar de novo. Eu sabia que algo estava acontecendo.

   - Bom dia! Eu nunca estive tão preso em um abraço como estive no seu essa noite.

    Puta que pariu! Eu falei isso. Ele me olhou e respondeu:

   - Você tem o melhor abraço desse mundo! Me traz segurança, mas me deu uma sensação muito diferente essa noite. Ele me fez bem.

    A gente sabia que estávamos tendo uma química enorme naquele raiar do sol. Aproveitamos. Conversamos até o despertador tocar. Quando ele tocou, André me soltou e eu levantei da cama. A tristeza estava nítida no nosso rosto. Estava tão estampada na nossa cara que quando Renata levantou, a primeira coisa que ela perguntou foi:

   - O que aconteceu? Por que vocês estão tristes?

     A minha vontade era de gritar: eu estou triste porque fui obrigado a sair do melhor abraço do mundo!

    O dia continuou normal, eu e Renata fomos para a academia e ele foi correr. Mas eu não parava de pensar nele. Ele não saía da minha cabeça. Quando chegamos em casa, os dois saíram, eu fui fazer um trabalho de manutenção com o meu preparador e, quando acabou, eu fiquei sozinho. Entrei no quarto para pegar alguma coisa, não lembro o que eu fui buscar, até porque não lembrei de pegar quando vi a minha cama perfeitamente arrumada e apenas a cama do André desarrumada. Saber que eu passei a noite inteira ali foi como se eu tivesse ganhado na loteria. Mesmo que a gente não tivesse feito absolutamente nada, só o abraço dele já era suficiente para me deixar feliz. Eu fiquei por um bom tempo olhando aquilo. Eu fiquei tão feliz que peguei o meu violão, que fazia anos que eu não tocava, e comecei a cantar músicas de Gal, Elis, Bethânia, composições que reverenciavam o amor.

Eu me apaixonei.

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⏰ Última atualização: Jul 04 ⏰

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