Volume 1, Capítulo 1

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Ossos Do Ofício

“No mundo espiritual, pronunciar uma palavra envolvida por sua aura equivale a concretizar uma ação

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“No mundo espiritual, pronunciar uma palavra envolvida por sua aura equivale a concretizar uma ação.”

Após uma jornada que durou duas horas e meia, na qual contemplava apenas a mata fechada que cercava a rodovia, Yami Yamasaki finalmente chega à selva de pedra. 

Os arranha-céus que ele avistara uma hora atrás agora se erguem imponentes, projetando suas majestosas sombras. A entrada da megacidade é marcada por uma estátua de bronze, desgastada pelo tempo, de Shikibu Oto, o fundador daquela metrópole e figura central na história da cidade, símbolo do império e sede oficial da ordem dos exorcistas.

O monumento, com seus cinquenta ciclos de idade, divide a estrada em duas vias, separando a saída e a entrada da cidade.

— E aí, velho… — ele murmura ao avistar mais uma vez a estátua, que se tornou a figura humana mais próxima em sua vida desde que ficou órfão.

Após esse reencontro, ele segue adiante. À direita, entrando na cidade. Enquanto dirige pela ampla avenida que o leva ao centro, percebe que tudo continua como sempre.

À medida que avança, o cenário começa a se fechar e a escurecer. Um odor de mofo permeia o ar, enquanto a chuva persistente cria uma cortina que obscurece sua visão, passando das tonalidades verdejantes das árvores ao cinza opressivo do concreto e ao azul do céu nublado. 

Estar ali era como entrar em uma nova realidade, sendo conduzido pela estrada até a morada dos pesares.

Nada cativa naquele lugar, como de costume, mas o jovem mal nota. 

Ele dirige tentando desvincular sua mente do sobrenatural. A velocidade de seu carro diminui aos poucos ao perceber que a maioria dos comércios ainda está fechada. No entanto, a movimentação é intensa, fervilhante e agitada. 

As pessoas transitam com desânimo no olhar, carregando o peso da vida em suas posturas cansadas, enquanto o amargor da chuva nas bocas perturba seu sossego. Como ratos, pareciam condenados à aquela gaiola.

Ele sente uma energia sombria que o serpenteia ao seu redor, envolvente, penetrando sutilmente seus olhares laterais.

Ao observar atentamente as pessoas, percebe manchas escuras em suas auras, projetando uma inquietante melancolia. Um ar de exaustão e frustração paira como um vírus invisível, absorvido por aqueles próximos, perpetuando um ciclo interminável. 

Sentimentos persistentes alimentam a escuridão crescente, preparando o terreno para um mundo ainda mais sombrio. Aquilo é tão cansativo que Yamasaki prefere se concentrar no que está à sua frente, parando o carro diante de um sinal vermelho.

Uma inquietação toma conta, enquanto ele bate os dedos no volante do veículo. 

— Azaael, por que o silêncio? Caramba! Você não me deu sossego em Kyoto; qual é o problema agora?

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