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[Moscou, na capital da Rússia.]

<Em 2009>

Pessoas doentes era o que Dostoevsky mais via em seus últimos seis anos, não que sua situação esteja diferente. O russo possui anemia, quando completou seus oito anos a doença foi descoberta, depois de vários exames rotineiros e de sangue. Na época não sabia o que isso significava, mas depois da descoberta nunca mais teve sua vida como antes. Agora se encontrava em uma cadeira consideravelmente confortável, com uma enfermeira já bem conhecida pelo menino, e ao outro lado sua mãe que lhe olhava com uma espécie de pena. Fyodor desprezava aquele sentimento, mais ainda quando direcionado a si.

Você é muito forte sabia disso?— A enfermeira diz sorrindo para o garoto pálido. O que ele é afinal? Uma criança de três anos pra ser tratado como tal? O mesmo nem se dá o trabalho de responder, nem mesmo uma reação de sua parte. Não foi por mal, longe disso, ele estava extremamente cansado, seus olhos pesavam mais qualquer coisa no momento. Não demora para que caísse no sono novamente. A voz da mulher agora está abafada e distante, elas conversavam algo sobre a mudança da família. Este fim de semana irão se mudar de Moscou para a cidade de Verkhoiansk. Para Fyodor se mudar ou não, não faria diferença alguma em sua vida.

[...]

Filho?— Esta é a senhora Kemi, sua mãe. A mulher lhe chamava calmamente alisando os cabelos pouco destruídos por conta de sua condição atual, porém era tratado aos poucos por vitaminas e outros produtos indicados por médicos. O garoto sonolento olha pra sua mãe que continuava com o olhar desprezível de pena direcionada ao filho. Já estava acostumado, sempre recebia olhares como estes. Acostumado? Sim, gostava? Obviamente não. Sem falar nada verbalmente a mulher já entende que estava escutando.— Acabou por hoje, vamos?- Dito isso o menino tenta se levantar só, mas não consegue. Só resulta numa breve queda de pressão, o mesmo se senta colocando a mão na cabeça e esperando sua visão voltar ao normal.— Ei, calma tá?— A mulher fala olhando o menino se recuperar.

Com licença...— A mesma enfermeira que estava colhendo seu sangue mais cedo entra na sala revelando uma cadeira de rodas.— Estás muito fraco meu bem, não pode ir andando.— A sua mãe então o ajuda a se levantar e se posicionar na cadeira.— Sentirei muito sua falta Fyodor.— E enfermeira na qual o moreno sempre se esquecia o nome fala enquanto o guia até a saída.

Igualmente...— Sua voz ainda era cansada e sonolenta, não estava raciocinando muito, mas mesmo assim a moça escuta e dá um leve sorriso, mesmo que o menino não o veja. Agora no dentro do carro sua mãe o pede para por os cintos, Dostoevsky ignora o pedido e se deita nos bancos traseiros.

Meu amor, seu pai está na linha perguntando onde quer almoçar.—A mulher diz tirando o celular do ouvido e se virando para bancos de trás, onde estava o menino quase adormecendo de novo.—Filho?— Fyodor responde com a voz carregada de cansaço que em qualquer lugar serviria.— Tudo bem...— Ela assiste ele pregar os olhos mais uma vez.— Não querido ele está bem, apenas cansado.— A mulher responde ao seu pai do outro lado.

[...]

Olha aqui meu garotão!— Seu pai fala empolgado olhando o menino e sua esposa se aproximarem. Fyodor ainda andava meio devagar, mas comparando com uma hora atrás, ele estava bem melhor. Seu pai tinha ido do trabalho até um restaurante perto de onde residiam. O mais velho o puxa pra um abraço que foi mal retribuído, mas quem conhece sabia que o garoto não era fã de toques. Seja ele de um mínimo contado onde as peles se tocam sem querer, ou os abraços demorados.— Peça algo pra ele.— Seus pais conversavam, porém algo estava grudado na mente de Fyodor. Eles com certeza brigaram de novo.

Meu amor, veja o que quer.— A mulher então lhe entrega o cardápio. Estava tudo uma bagunça na sua vida, principalmente com a mudança de cidade. Ele não ligava por não ter amigos o "prendendo" aqui em Moscou, mas era uma mudança grande.

Button Eyes-FyolaiOnde histórias criam vida. Descubra agora