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[Pela manhã do domingo.]

—Ontem eu quase caí num poço mãe.— Fyodor mexia curioso em alguns pacotes de sementes, enquanto os arrumava no batente da janela. Sua mãe imersa no computador apenas resmunga algo em concordância.— Eu poderia ter morrido...!— O garoto se exalta de uma forma quase imperceptível.

—Que legal...— De fato ela não estava prestando atenção na criança.

—Hum...— Terminando de organizar os pacotinhos, ele dá uma última olhada na janela e se vira para a mulher.— Então eu posso ir lá fora? A chuva faz bem pra jardinagem.— Mesmo que ele já tivesse ideia da resposta não machuca perguntar.

—Não Fyodor...— A mais velha dizia com uma voz carregada de tédio e desinteresse.— ...você vai ficar doente, sua imunidade é baixa.— Falava sem tirar os olhos da tela.

—Mas mãe...— Odiava o fato de sua mãe estar correta em quase tudo. Era chato levar uma vida igual a do moreno.

—E você tem que desempacotar suas coisas, muitas coisas!— Diz agora olhando pro menino, dando a honra de pelo o menos o mínimo de atenção. Fyodor revira os olhos e cruza os braços, apenas uma criança fazendo birra.— Ah, sim. Um garoto passou aqui e te deixou isso.— Estende a mão com alguma coisa embalada com jornal velho e empoeirado.

Desconfiado, Dostoevsky abre já esperando uma dinamite. Dentro tem um bilhetinho escrito:

"Olá Dostoy!
Olha só o que eu encontrei no baú velho da vovó. Isso te lembra alguém?

De seu amigo, Nikolai Golgol."

—Tinha que ser.— Abrindo tudo agora, via um boneco de pano igual a si.— Um mini eu?— O russo confuso apenas aceita e sai da cozinha.

—Pai.— Fyodor chama seu pai enquanto brinca com o boneco em seus braços.— Ô pai!— Tomando um susto, o mais velho se vira pra o garoto com uma expressão cansada.

—Oi Fyodor...— No mesmo tom que sua mãe usava ele pergunta o que seu filho quer.— E... mini... Fyodor?— Ele fala inclinando a cabeça.

—Onde estão as ferramentas de jardinagem?—Dostoevsky fala ainda da porta.

—Tá chovendo.— Seu pai diz olhando o menino pelo reflexo do computador.

—Ahhh, por favor...— Fyodor pisa forte no chão enquanto olha para seu pai, que não o dava nem um pingo de atenção.

—O que a chefe disse?— Pergunta se referindo a sua esposa. Ainda digitando no computador.

—Nem pense em por seus pés na lama, Fyodor Dostoevsky!— Ele grita com seu boneco como se fosse com ele.

—Então não vai precisar das ferramentas...— O garoto estava indignado, ele nunca podia brincar. Por pura birra, Fyodor segura na maçaneta e fica se balançando na porta que rangia. Essa porta com certeza precisava de óleo. Dmitry cansado revira os olhos por causa do garoto mimado.— Olha, essa casa tem mais de 150 anos...— O de fios escuros arqueia uma sobrancelha incentivando o mais velho a continuar.— Vai explorar, conte quantas janelas e portas tem... só, me deixa trabalhar.— Lhe entrega um bloquinho de notas e uma caneta. Acatando a ideia do pai, o menino sai do escritório e desce as escadas

—Doze janelas com goteiras.— Fala anotando, até que uma gota de água cai sob o papel. Irritado, o russo sacode o caderninho para secar. Entrando no banheiro ele sente um cheiro terrível, parece que não é limpo a anos.— Eca!— Depois de abrir a cortina do banheiro se depara com uns bichinhos peçonhentos na parede. Ele prefere apenas ignorar e sair.— Insetos nojentos...— Mais uma coisa a ser anotada.— Num pequeno quartinho havia algo tipo um gerador enferrujado.— ...e um troço velho e enferrujado.— Saindo de lá o russo apaga a luz. Porém escuta um grito de seu pai lá de cima. O garoto volta na salinha e liga novamente.— "Não mexa."— Lê o que havia no papelzinho dobrado acima da luz. Sorrateiramente, Fyodor sai com as mãos pra trás, típico de criança levada que fez alguma coisa. Agora passando pelo corredor, ele entra onde julga ser a sala de estar. Era escura, talvez por causa da chuva, passava a sensação de ser observado o tempo inteiro.— Um menino chato de azul, num quadro extremamente chato.— Ele fala com uma careta enquanto escreve.— quatro janelas incrivelmente chatas. E acabaram as portas.— Joga o caderninho na mesa de centro. Cansado, Fyodor volta para o sofá ali perto procurando o boneco.— Tenho certeza que estava aqui...— Ele faz uma bagunça procurando. Jogava almofada pra lá, outras pra cá. Até procurar com os olhos pela sala, e sem mesmo sair do lugar ele acha o mini Dostoy perto de uma portinha que estava coberta pelo papel de parede.— Mãeeeeee, olha o que eu achei!

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⏰ Última atualização: Aug 10 ⏰

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