Capitulo 1

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Deitados na cama, eu o analisava, ainda ofegante, com seus olhos piscando lentamente enquanto ele tentava recuperar o fôlego. Ele parecia cansado, o suor escorria de sua testa em gotas. Meus olhos seguiram o caminho daquele suor, passando por suas têmporas até alcançar seus lábios, que eu conhecia tão bem.

Enquanto o observava, um pensamento surgiu, inesperado, mas persistente: preciso falar sobre a inscrição. Precisava saber o que ele pensava, talvez desse certo, talvez não, mas pensando positivamente, não era algo que podia adiar mais.

— Você já sabe o que vai fazer no natal? — perguntei, tentando soar casual.

— Não sei, não tenho planos— ele respondeu, sem olhar para mim.

Ele estendeu a mão para a cabeceira, pegando o celular, como se aquilo fosse a coisa mais importante do mundo naquele momento. O observei enquanto ele desbloqueava a tela, completamente alheio ao que eu estava prestes a dizer. Eu tinha que contar logo, especialmente porque, se fosse aceita, me mudaria logo no início do ano novo.

— Me inscrevi para Redwood — disse, enquanto me levantava para pegar minha camiseta no chão. Me sentei na cama novamente e o observei cuidadosamente, esperando alguma reação significativa.

— Você me ouviu? — perguntei me aproximando.

— Que bom linda — murmurou no automático, sem tirar os olhos do celular.

Aquele gesto trivial, aquela indiferença, foi a gota d'água. Ele permaneceu completamente imóvel.

Eu hesitei, mas decidi insistir.

— Dylan, isso significa que se me aceitarem vou ficar longe por três anos.

— Vai ser bom pra você — ele finalmente respondeu, sem olhar para mim. — Você sempre quis isso**.**

Eu senti um aperto no peito ao ouvir aquelas palavras.

****Eu sempre quis aquilo, sim, mas não esperava que ele se mostrasse tão desinteressado com a possibilidade de não me ver. Eu queria que ele dissesse que sentiria minha falta, que não sabia como iria lidar com minha ausência, qualquer coisa que mostrasse que ele se importava.

Eu me levantei e o encarei pela última vez enquanto vestia minha saia. Estava farta.

Ele não dava a mínima e o pior é que eu sabia disso. Sabia, mas não queria aceitar. Era como se eu achasse que, se eu amasse o suficiente, poderia mudar ele. Mas não é assim que funciona. Eu estava me perdendo, me anulando, tentando ser o que ele queria, e isso nunca foi suficiente.

Me senti usada.

— Dylan, o que nós somos? — As palavras saíram com mais força do que eu pretendia — Estamos há quase um ano juntos, mas eu... eu preciso saber o que isso significa para você.

Ele finalmente levantou os olhos, mas a expressão em seu rosto era de surpresa, como se eu tivesse acabado de dizer algo totalmente inesperado, quase inconveniente.

— Por que você precisa rotular tudo, Elowen? — Ele perguntou, apoiando os braços na cama para se sentar. — Não podemos apenas... curtir o que temos? Sem complicações?

Eu o encarei com raiva, tudo o que vi foi alguém que não estava disposto a se comprometer. Alguém que não via valor em mim além do que era conveniente para ele.

— Eu estive ao seu lado esse tempo todo, esperando, esperando que um dia você me valorizasse. Mas eu estava enganada, não estava? Você nunca quis nada sério, nunca quis construir algo comigo. Você só gostava da atenção que eu te dava.

Eu vi a hesitação em seus olhos, o momento em que ele percebeu que talvez eu estivesse falando sério desta vez. Ele abriu a boca para dizer algo, mas eu já estava farta das suas desculpas.

— Você nunca me amou — continuei — você só gostava da atenção, gostava das noites de sexo quando estava entediado. Gostava do que eu proporcionava, mas nunca de mim. E agora, isso acabou.

Ele ficou em silêncio, e por um segundo, pensei que ele fosse argumentar, pedir para que eu ficasse, mas tudo o que ele fez foi desviar o olhar, talvez porque soubesse que eu estava falando a verdade, ou talvez porque não sabia o que dizer.

Minhas mãos tremiam, mas não era mais medo ou incerteza, era o acúmulo de tudo o que eu tinha segurado por tanto tempo.

Com a cabeça erguida, caminhei em direção à porta. Não olhei para trás. Era a última vez que eu permitiria que ele me fizesse sentir tão pequena.

Enquanto atravessava as ruas desertas de Canyon Ridge, uma parte de mim começou a lembrar que não era a primeira vez. Eu queria entender o motivo de sempre acabar assim. Eu me esforçava tanto, colocava meu coração em cada relacionamento, mas, no final, sempre era a mesma coisa. Eu era boa para rir numa noite de sábado, fazer sexo e ter conversas íntimas ao cair da madrugada, mas nunca boa o suficiente para um passeio ao ar livre, de mãos dadas, em uma quarta-feira de manhã. Eu era o segredo, o conforto discreto, mas nunca a escolha pública.

Quando passei em frente à vitrine de uma loja fechada, algo me fez parar. Meu reflexo me encarava do outro lado do vidro, e, pela primeira vez naquela noite, eu realmente me vi.

Olhei primeiro para meus cabelos, que estavam mais amassados do que o habitual, metade por culpa do vento, e metade, eu sabia, por culpa de Dylan. As pontas soltas e os cachos desfeitos pareciam um reflexo do que eu sentia por dentro — despedaçada e desgastada.

Depois, meus olhos. O que mais me chamou a atenção foi o semblante melancólico que eles transmitiam, eu não conseguia esconder, mesmo que quisesse. Parecia que a alegria havia sido drenada de mim, e tudo o que restava era apenas uma casca vazia.

Finalmente, deixei meu olhar cair sobre o restante do meu corpo, procurando... algo. Talvez eu quisesse encontrar uma razão, um motivo que explicasse por que as coisas sempre terminavam desse jeito. Minha pele acobreada reluzia à luz da lua, uma lembrança de quem eu era, de onde eu vinha. Por um momento, eu hesitei, me perguntando se minha cor poderia ser parte do problema, mas logo afastei esse pensamento.

Não era a minha pele. Não era meu cabelo. Não era meu sorriso ou meu jeito de ser. A verdade, uma verdade amarga que eu não queria admitir, era que eu simplesmente tinha um péssimo dedo para escolher homens.

Não era algo externo, não era algo que eu pudesse mudar facilmente. Era algo interno, algo que precisaria de tempo e reflexão para ser compreendido e, quem sabe, superado.

A noite estava fresca, e as luzes da cidade davam à rua um brilho suave, quase reconfortante. A dor estava lá, mas era como se eu estivesse anestesiada, incapaz de sentir tudo de uma vez. Eu queria chorar, queria gritar, mas tudo o que conseguia fazer era caminhar.

O sussurro das mariposasOnde histórias criam vida. Descubra agora