O sol já havia sumido, dando espaço para uma noite clara de verão. Olhei para o relógio e, ao ver as horas, me apressei. Passei tanto tempo arrumando as malas que nem percebi o tempo passar. Precisava me organizar, então corri para o banho.
Saí do chuveiro e fui direto escolher uma roupa. Um vestido vermelho simples chamou minha atenção, perfeito para a noite quente. Quando terminei, soltei o cabelo, coloquei alguns acessórios discretos e peguei minha bolsa e o telefone para chamar um táxi. Já estava alguns minutos atrasada, mas ainda tinha tempo de sobra para chegar antes que Alice começasse a me bombardear de mensagens.
As ruas estavam vibrantes, cheias de pessoas e iluminadas pelas luzes de Natal que, mesmo depois das festividades, ainda decoravam cada canto. Eu me peguei pensando que, no próximo ano, essas luzes seriam apenas uma lembrança.
Ao chegar ao restaurante, senti o táxi diminuir a velocidade, parando finalmente na entrada.
Respirei fundo, colocando o sorriso no rosto. "Seja a mesma Elowen de sempre", pensei, tentando afastar qualquer traço de melancolia. Assim que entrei, as risadas vieram ao meu encontro como um abraço. Alice, animada como sempre, acenou para mim.
— Ela chegou! — Alice gritou de onde estava sentada, arrancando mais risadas da mesa.
Me aproximei e meu sorriso vacilou por um segundo ao ver Dylan ali, seus olhos fixos em mim de uma maneira que eu não conseguia decifrar.
O que ele estava fazendo ali? Por que veio? Ele disse que não viria.
Ele estava sentado ao lado de Alice, e, ao contrário dos outros, não sorriu nem me cumprimentou. Apenas me observava, como se estivesse esperando para ver minha reação.
Tentei manter a calma, ignorando o aperto no peito. Cumprimentei os outros, um por um, mantendo meu tom de voz leve e descontraído, como se ele fosse apenas mais uma pessoa na mesa. Mas era impossível ignorar a tensão que crescia ali, entre nós, uma corrente invisível que só eu parecia sentir. Alice acenou e apontou para a cadeira vazia do seu lado.
Quando finalmente cheguei perto dele, ele deu um leve aceno de cabeça, frio e distante. Eu me forcei a sorrir.
— Boa noite, Dylan — disse, tentando soar natural.
— Boa noite, Elowen. — Sua voz saiu baixa, quase inaudível, e seus olhos ainda me acompanhavam, mas sem a mínima expressão.
Eu me odiei por pensar assim. Ele estava lindo, claro, com aquela camisa azul que acentuava seus olhos, o cabelo levemente bagunçado de um jeito que parecia despreocupado, mas milimetricamente calculado.
Desviei o olhar, focando no resto da mesa e tentando ignorar o peso da sua presença. Eu queria seguir em frente e deixar tudo isso para trás. Mas, ao mesmo tempo, algo em mim ainda se agarrava à ideia dele — a ideia que eu havia construído, bem longe da realidade.
Alice, sem perceber o turbilhão de pensamentos na minha cabeça, pediu o primeiro brinde da noite, erguendo seu copo e chamando a atenção de todos.
— A um novo começo para a nossa roteirista favorita! — ela disse, os olhos brilhando enquanto me dava um sorriso encorajador.
Tentei corresponder ao entusiasmo dela, levantando meu copo e brindando com o resto do pessoal. O ambiente estava alegre, com todos animados compartilhando histórias e rindo, mas eu não conseguia relaxar completamente. Cada vez que eu desviava o olhar na direção dele, lá estava Dylan, com aquele olhar fixo, como se não quisesse estar ali, mas também não conseguisse sair.
Depois de duas taças de vinho, resolvi ir ao banheiro para retocar o batom. Já estava no meu limite e não poderia ignorar a ressaca da manhã. Avisei Alice e saí da mesa em direção ao banheiro.
Ao sair, a primeira coisa que vi foi Dylan. Ele estava encostado na parede, perto da porta do banheiro, como se estivesse esperando por mim. Tentei desviar, mas ele deu um passo à frente, bloqueando meu caminho.
— Podemos conversar? — perguntou, a voz baixa, quase um sussurro.
Respirei fundo, sentindo o peso de todas as palavras não ditas entre nós, acumuladas. Era a última coisa que eu queria, mas algo em seu olhar — aquele misto de arrependimento — me fez hesitar.
— Sobre o quê, Dylan? Acho que não temos muito o que conversar — respondi, tentando manter a voz firme, mas minha mão tremia levemente.
Ele desviou o olhar por um momento, passando a mão pelo cabelo.
— Eu... — começou, como se as palavras pesassem. — Eu não queria que as coisas terminassem assim entre nós, Elowen.
Senti meu coração apertar ao ouvir aquelas palavras, mas me mantive firme. Ele queria mesmo ter essa conversa agora, depois de tudo?
— Sério, Dylan? Você nunca quis que as coisas fossem diferentes enquanto estávamos juntos, mas agora que eu estou indo embora, é isso que você quer dizer?
Ele abaixou os olhos, como se não tivesse uma resposta. Havia um silêncio entre nós, pesado, cheio de memórias e arrependimentos.
— Eu sei que eu falhei — murmurou ele, levantando o olhar devagar. — Só... não achei que você fosse realmente embora.
Aquelas palavras foram como uma facada. Ele realmente acreditava que eu ficaria à espera de algo que nunca viria? Respirei fundo, sentindo a frustração e a tristeza se misturarem dentro de mim.
— E por que eu ficaria, Dylan? Para esperar por alguém que nunca soube se queria estar ao meu lado de verdade? Eu mereço mais do que isso.
Ele suspirou, desviando o olhar por um momento, como se minhas palavras o tivessem atingido de verdade.
— Eu sei... — respondeu, em um tom quase inaudível. — Foi só... complicado pra mim, Elowen. Eu precisava de tempo para entender o que eu realmente sentia.
Revirei os olhos, incapaz de conter a frustração.
— Tempo? — sussurrei, sentindo meu peito arder. — Dylan, eu estive ao seu lado todo esse tempo. Eu estava lá. E você nunca soube me dar nada além de dúvidas e promessas vazias.
Ele deu um passo em minha direção, como se quisesse me segurar, mas hesitou.
— Elowen, eu sei que estraguei tudo. E talvez seja tarde demais, mas... eu queria que você soubesse o quanto você significa pra mim. Não só agora que você está indo embora, mas sempre.
Olhei para ele, tentando encontrar algum sentido em tudo aquilo. Parte de mim queria acreditar nele, mas a outra, a parte que aprendeu a se proteger, não deixava.
— Dylan, eu mereço alguém que me valorize o tempo todo, não só quando percebe que vai me perder. E você não está sentindo falta de mim, mas sim de como eu te fazia sentir. Se eu não te cumprimentasse quando cheguei na mesa, você não falaria comigo. Eu não quero ser mais o seu segredo, e você veio atrás de mim escondido para falar essas coisas. Você não acha que está sendo egoísta?
Eu o encarei por mais alguns segundos, buscando força em cada palavra que acabara de dizer.
Antes que ele pudesse responder, me virei e caminhei de volta para a mesa. Minha atenção estava completamente alheia a tudo que acabara de acontecer.
Quando me sentei, Alice me lançou um olhar curioso, mas não perguntou nada. Respirei fundo, pegando minha taça de vinho. Naquele momento, eu não me importava mais com a ressaca do outro dia.
Dylan não voltou mais para a mesa, provavelmente deu alguma desculpa e foi embora. Essa era a sua resposta. Isso era tudo o que ele tinha para oferecer? Será que vai ser sempre assim? Ou estou esperando demais? A névoa do vinho me envolvia, mas a clareza da minha dor permanecia.
O que eu realmente queria? O que eu esperava do próximo ano? Não sabia. Tudo que eu sabia era que precisava de um tempo para me encontrar.
A verdade era que não podia confiar em mais ninguém, e não estava disposta a amar novamente.
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O sussurro das mariposas
RomanceElowen sempre foi apaixonada por arte e roteiros, mas depois de uma série de relacionamentos frustrantes, decidiu que o amor não era mais para ela. Ao ser aceita na prestigiada Academia de Artes de Redwood, ela vê a oportunidade de recomeçar e focar...