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Nunca imaginei que minha vida seria decidida assim, sem sequer uma palavra minha. No dia de nossa visita à mansão, uma sensação de inquietação não me abandonava.


Minha mãe, a Sra. Walters, estava mais ansiosa do que nunca enquanto me arrumava antes de entrarmos. 

- Celine, lembre-se de portar-se com respeito - Ela repetia, ajustando meu vestido. Suas mãos trêmulas refletiam o peso das expectativas.

Quando finalmente entramos na mansão, fiquei impressionada com seu tamanho e com a quantidade de objetos valiosos. Contudo, algo me incomodava: a falta de cor e vida. 

Os criados se movimentavam rapidamente pelos corredores, cada um ocupado com suas tarefas. Fomos levados diretamente à sala de jantar, onde uma mesa repleta de alimentos chiques nos aguardava. Mas o ambiente, com suas paredes austeras e silêncio opressivo, fazia o jantar parecer interminável.

Os pais de Lord Duncan também estavam presentes. Lord Duncan, com sua postura rígida e olhar crítico, observava cada um dos meus movimentos. Quando peguei um segundo bolinho que havia achado delicioso, ele me interrompeu bruscamente.  


-Não deveria comer mais, logo seu vestido não servirá mais, e nem os outros vestidos que estão aguardando em seu futuro quarto.

Minha mãe concordou prontamente, pegando o bolinho da minha mão.


- Lord Duncan está certo, Celine. Você precisa se manter em forma e elegante - Uma onda de indignação e humilhação me percorreu, mas me contive.

Depois do jantar, fomos conhecer melhor a mansão Collins. Uma longa e tediosa caminhada pelos corredores, onde quadros e objetos antigos e estranhos nos rodeavam. Quando vi uma porta aberta revelando uma sala cheia de livros e mapas, senti uma ponta de curiosidade.


 Chamei meu pai para ver, já que ele sempre gostou dessas coisas. Porém, ele me repreendeu: 

- Não deveria se preocupar com isso, e sim com os preparativos do casamento - Assenti, engolindo a frustração.

Minha mãe estava envolvida em uma conversa com a Sra. Collins, minha futura sogra, então me ajuntei a elas.


Continuamos a caminhada pelos corredores sem graça até que fomos levados à sala de estar. Lord Duncan me convidou para acompanhá-lo até a varanda. Olhei para o horizonte e tentei apreciar a vista.

- Gostas do que vês? - Ele perguntou, e eu respondi que sim, mesmo não estando totalmente certa disso. Depois de um silêncio constrangedor, perguntei como seria nossa rotina após o casamento.


- Continuarei com meus negócios e viagens - Disse ele, como se fosse óbvio.


E quanto a mim? -  Perguntei, tentando esconder a ansiedade em minha voz. 

- Você cuidará dos futuros herdeiros e dos assuntos da casa.

Minha indignação explodiu.


- Minha vida se resumirá a isso?

- Sim, afinal, o que mais as mulheres podem fazer por um casamento? - Ele se virou e começou a caminhar de volta para dentro da mansão, percebendo que eu não o segui - Não vens? -perguntou.

- Ficarei mais um pouco aqui - Respondi, tentando ganhar um momento de paz.


Depois de longas três horas, nos despedimos e voltamos para nossa carruagem. Dentro da carruagem, desabafei.


- Não suportarei viver uma vida assim! Devemos tomar uma decisão diferente!

Mas meu pai foi firme: 

- Cale-se, Celine. Qualquer outra moça da sua idade estaria radiante em ter uma oportunidade dessas.

Minha mãe, silenciosa, não me protegeu. Resignei-me ao silêncio pelo resto do caminho, sentindo o peso do destino que me aguardava.

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