O dia do meu casamento finalmente havia chegado, e a casa estava em um frenesi de atividades. Eu observava, paralisada, enquanto todos corriam de um lado para o outro.
A sensação de sufocamento me envolvia, não apenas por causa do vestido branco de renda que me apertava em cada movimento, mas pela pressão que sentia em meu peito. O espartilho parecia uma prisão, e o coque ruivo que adornava minha cabeça me fazia sentir ainda mais aprisionada.
Quando minha mãe entrou no quarto, segurou minhas mãos e sorriu, seu olhar repleto de orgulho.
- Ótimo, uma verdadeira dama, esposa de um lorde - Disse ela, como se minhas emoções não importassem. Eu abaixei os olhos, tentando esconder a frustração que borbulhava dentro de mim - Não abaixe a cabeça! Hoje você se tornará uma pessoa importante, ajudando sua família na sociedade. Por acaso isso não é motivo de alegria? - A voz dela ecoava na minha mente, uma lembrança constante do que se esperava de mim.
- Certamente, sim - Respondi, mas as palavras saíram pesadas, como se fossem um fardo. Ela não percebeu minha insatisfação e virou-se para convocar todos, dizendo que o casamento começaria em breve.
O coração acelerava em meu peito, e eu me perguntava se algum dia conseguiria me libertar de todas essas expectativas.
Descer as escadas da casa onde cresci foi um desafio. Cada passo parecia um peso, e meu olhar se fixava na porta da frente, como se fosse uma barreira entre mim e a liberdade.
Quando entrei na carruagem que Lorde Duncan organizou, percebi que ela era linda, mas isso pouco importava. Os cavalos pretos e formosos puxavam a carruagem branca adornada com detalhes dourados que pareciam ouro, mas eu não sentia encanto. Apenas um vazio.
Enquanto olhava pela janela, via os convidados bem vestidos, animados para o casamento. Um nó se formava no meu estômago. Eles estavam felizes, mas eu sentia como se estivesse caminhando em direção a um destino incerto. O que eles não sabiam era que, para mim, tudo aquilo era uma fachada. Quando avistaram a carruagem, todos começaram a se acomodar, e a pressão aumentava.
Minha mãe, sempre atenta, tocou meu queixo, levantando-o suavemente.
- Sorria, tenha postura e não diga sempre o que pensa para os convidados.
Eu queria gritar que eles não eram meus convidados, mas as palavras ficaram presas na garganta.
- Seja gentil, mas não excessivamente. Hoje você pertencerá a uma nova classe - A voz dela ressoava como um eco, uma lembrança constante de que não tinha escolha.
Meu pai ofereceu o braço de um lado e minha mãe do outro, ambos com sorrisos satisfeitos. Mas eu estava perdida em meus próprios pensamentos, meu olhar distante, como se estivesse flutuando entre dois mundos.
Quando finalmente percebi, já estava no altar, diante de Lorde Duncan. Ele estava elegante, mas sua expressão de satisfação apenas intensificou meu desconforto. A cerimônia começou, e todos se levantaram para os votos.
De repente, meu coração começou a palpitar
descontroladamente, como se quisesse escapar do meu peito. A pressão aumentava, e a sensação de pânico tomou conta de mim. Eu estava paralisada, perdida em pensamentos desesperados, quando uma voz me trouxe de volta à realidade.
Minha dama de companhia estava ao meu lado, segurando meu buquê.
- Senhorita Celine? Está tudo bem?
- Sim - Respondi, mas as palavras saíram como um sussurro, e a pressão em meu peito só aumentava.
O padre percebeu minha hesitação.
- Muito bem, vamos voltar ao início, senhorita Celine, repita...
Mas então, algo dentro de mim se rompeu.
- Espera! - Gritei, e o burburinho se espalhou pela igreja.
Todos ficaram em silêncio, me olhando, e eu me senti exposta.
- Posso apenas respirar um pouco? - O padre, visivelmente desapontado, consentiu e pediu para todos se sentarem novamente.
Olhei para Lorde Duncan, que me lançou um olhar cortante, e a mesma expressão de desapontamento estava nos rostos dos meus pais.
- A senhorita gostaria de companhia? - Perguntou minha dama de companhia, mas eu sabia que precisava de um momento a sós.
- Não, só preciso de cinco minutinhos - Respondi, já saindo apressada.
Lá fora, o sol começava a se pôr, e o vento frio gelava meu rosto, arrancando o véu que se mantinha preso ao meu cabelo. Olhei ao redor, sem ver uma saída, apenas a pressão das expectativas me envolvendo como uma sombra.
Corri até o túmulo de minha avó, um lugar que sempre me trouxe conforto. Debrucei-me sobre ele, chorando.
- Vovó, como eu queria que estivesse aqui para me entender. Me ajude, por favor!
As lágrimas escorriam pelo meu rosto, e eu sentia que ali, naquele momento, era o único lugar onde eu poderia ser eu mesma.
Ali, exausta e sem esperanças, acabei adormecendo. O mundo ao meu redor se dissolveu, e, em meio ao frio e ao desespero, sonhei com um futuro onde pudesse ser livre, onde minhas escolhas importassem, onde a felicidade não fosse uma obrigação, mas uma verdade.
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Onde Cantam Os Corvos
Hombres LoboCeline, uma jovem da classe média da Inglaterra, é prometida em casamento a um importante lorde após um acordo comercial feito por seus pais. Sempre acreditando no casamento por amor, a jovem se recusa a se casar e decide desaparecer para evitar uma...