01

23 4 0
                                    

O relógio da parede marcava exatamente 20:15 quando me sentei na mesa do restaurante. O lugar estava quase vazio, uma cena contrastante com as lembranças dos jantares que compartilhávamos ali.

Estou sentada na mesa do canto que costumava ser nossa, a mesa com vista para a cidade iluminada. Desde que ele se foi, assombro esse canto com a minha presença semanalmente, presa aqui revivendo cada momento que passamos juntos.

Três meses se passaram desde aquela noite fatídica, e cada detalhe ainda está vívido em minha memória. A conversa abrupta, o silêncio ensurdecedor, e a despedida que ficou presa na garganta. As palavras não ditas ecoam em minha mente, preenchendo o vazio deixado por ele. O garçom, sempre atencioso, se aproximou com o mesmo sorriso melancólico de quando soube sobre o término. Ele sabia. Todos ali sabiam. Mas ninguém ousava mencionar, não perto de mim pelo menos. Mas eu ouvia os cochichos dos funcionários  com dó e sentia os olhares de pena em mim.

Peguei o celular e, como tantas outras vezes, abri as redes sociais de Carlos. As fotos das corridas, os momentos de vitória e derrota, tudo está ali. Meus olhos se fixaram numa imagem recente: Carlos, ao lado de sua irmã e minha amiga, Ana, sorrindo. O casamento está próximo, um evento que deveria trazer felicidade, mas que agora só acentua a dor da ausência.

No último domingo, enquanto Carlos cruzava a linha de chegada mais uma vez, me peguei pensando em como nossas vidas seguiram caminhos paralelos. Ele, sempre em movimento, buscando a próxima vitória, pulando de país em país, enquanto eu permaneço estagnada no mesmo ponto, como se o tempo tivesse congelado desde aquela noite. As lembranças de quando nos conhecemos invadem minha mente. Os sorrisos, as conversas intermináveis, a sensação de que o mundo inteiro cabia em um só momento juntos.

Naquela noite específica, ele parecia diferente. Havia algo nos olhos dele, uma distância que eu não conseguia decifrar. Quando ele finalmente falou, foi como se o chão tivesse se aberto sob meus pés. Ele disse, quase sem emoção, que precisava focar cada vez mais na Ferrari, que suas ambições não deixavam espaço para nós. A explicação foi breve, fria, e deixou um vazio que palavras não poderiam preencher. Ele foi embora e deixou uma vida de "e se" e "por quê".
Mas o golpe final veio quando ele começou a aparecer na mídia ao lado de uma modelo, sorrindo como se o nosso tempo juntos tivesse sido fácil de esquecer.

Lembro-me do primeiro encontro, da forma como ele me olhou, como se eu fosse a única pessoa no mundo. A química instantânea, as risadas compartilhadas e a sensação de que, finalmente, eu havia encontrado alguém que entendia todas as minhas complexidades. Mas agora, sentada naquele restaurante, o vazio é palpável. O futuro que eu havia imaginado com ele está desfeito, espalhado como cacos de vidro que eu não sei como recolher sem me cortar.

Enquanto o garçom que costumava nos atender serve a única taça de vinho presente na mesa, observo a vida acontecer na rua. A cidade, com todas as suas luzes e sons, parece indiferente à minha dor, mas também, como poderia não estar? Noventa dias já se passaram, todos já deveriam ter seguido em frente. Mas a cada esquina que observo me traz à tona uma memória: o café onde costumávamos tomar brunch aos domingos com a família dele, a livraria onde ele me surpreendeu com uma edição rara de Orgulho e Preconceito, o parque onde passamos tardes inteiras apenas conversando.

Me pergunto como ele pode seguir em frente tão facilmente, como se tudo o que vivemos juntos fosse apenas um capítulo encerrado, uma página virada. Mas para mim, cada dia é uma luta para não me afogar nas lembranças. Ver sua família nas redes sociais, os momentos de alegria e de dor compartilhados, só faz aumentar o sentimento de exclusão, de estar à margem de uma história que eu achava que era minha também.

A preparação para o casamento da Ana é um lembrete constante de tudo o que eu perdi. Me imagino ao lado dele, compartilhando da felicidade daquele dia. Mas a realidade é amarga. Eu sou apenas uma espectadora, presa no passado, enquanto a vida segue adiante sem mim.

Eu queria poder dizer que ninguém me encontra onde me deixou, mas Carlos Sainz Jr. encontraria. A verdade é que ainda estou presa exatamente onde ele me deixou.

🏁

Oi, gente!!!

Sendo bem sincera, não sei como essa história vai se suceder, ela surgiu na minha mente de noite e eu escrevi.

Eu também tenho outra história que é sobre o Max Verstappen, então dá uma conferida também.

Espero que gostem de acompanhar essa história, eu já estou gostando muito de escrevê-la.

Beijinhos e até logo
🏁

Onde você me deixou | Carlos Sainz C.S 55Onde histórias criam vida. Descubra agora