Lembranças, sejam elas boas ou ruins, sempre trazem um aprendizado ou um aviso, com elas você amadurece, sofre e se recompõe para que assim se torne uma nova versão de si. Mas o que acontece quando você não tem elas, e aí que se dá conta do buraco enorme que tem dentro de você, como algo tão fundamental para o crescimento do ser humano pode faltar.
É estranho você ser a única do seu grupo de amigos, da sua escola e do seu bairro, a não saber praticamente nada sobre a sua família, vendo todos compartilharem momentos felizes que tiveram com seus avós e você lá ouvindo enquanto a sua mente suplica para vir nem que seja a mais idiota de todas as lembranças que existem, mas que apareça. Que dê um sinal de vida, uma esperança.
Fico a pensar em como eu era quando criança, será que era comportada ou não parava um segundo quieta? Será que meus avós me amavam? Quais eram seus nomes?
Sempre que me pego pensando sobre meu passado, sinto meu coração apertar e sou rapidamente preenchida pela solidão, e percebo que a única saída é perguntar para Silas e Darla Rein, meus pais, mesmo que não consiga mais contar a quantidade de vezes que cheguei a essa conclusão. Tudo seria mais fácil se decidirem cooperar, porém, eles se recusam por algum motivo a qual os mesmos não podem contar também.
Estou tão cansada disso que decidi dar o meu melhor em fingir que está tudo bem ou tentar ignorar o vazio constante que sinto e simplesmente viver o presente, ou pelo menos tentar.
Meus melhores amigos, Rose Altard e Vicent Welfer, entendem a situação que me encontro e não ficam fazendo perguntas às quais sabem que nem mesmo tenho à resposta, os agradeço muito por isso. Apesar de tudo não culpo meus pais, pois sinto que um dia eles iram me responder, só não podem falar agora.
Norvina, a cidade onde moro é perfeita até demais, sem muita criminalidade ou discussões entre os vizinhos, é como se todos os residentes tivessem feito algum tipo de acordo de fingirem que estão vivendo em um conto de fadas, o que mais incomoda é deles não largarem esse filtro por nada, nem por um segundo.
Atualmente estou sentada em um banco qualquer da praça, vendo meus amigos rirem de algo que eu não entendi por não estar prestando atenção.
— Stacy, você ouviu o quê o Vicent disse? — Diz Rose querendo rir novamente.
— Desculpa, acabei não ouvindo. — Espero que não fiquem chateados com isso.
— Tudo bem, não era nada tão bom mesmo. — Vicent se pronuncia.
— O que vocês pensam em fazer agora que estão de férias? — Pergunto.
— Ainda não pensei direito nisso. — Minha amiga faz uma cara pensativa. — Mas, tenho certeza que devemos fazer algo que nunca fizermos antes. — Disse animada.
— Tipo o quê? Todas às vezes que você fala isso acabo me lascando. — Diz ele indignado.
E assim eles começam a discutir sobre os lugares que Rose já sugeriu nas férias passadas e as enrascadas que ficamos por conta disso.
Com um pouco de desinteresse pela discussão, começo a reparar as pessoas em volta de nós, muitos estão passeando com seus filhos que devem ter entre 6 a 12 anos, eles parecem felizes. Deve ser legal ir ao parquinho com a família toda, ter primos, tios e avós.
— O que você acha amiga? — Sinto a mão da Rose encostar no meu braço.
— Sobre o quê? — Caramba, eu não prestei atenção de novo.
— Sobre o que a gente estava discutindo agora. Sabe sobre as coisas que podemos fazer. — Ele me olha esperando uma resposta assim como Rose está fazendo também. Ouço algumas pessoas falando sobre um filme que estreará em uma data próxima.
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O despertar para à realidade
FantasyStacy Sanchez, uma adolescente aparentemente normal, vive com a família em Norvina, uma cidade tranquila que transpira vida, com flores e árvores bem cuidadas e vizinhos e animais amigáveis. A cidade é harmoniosa, parecendo até um sonho. No entanto...