Capítulo 2

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Largo o cachorrinho na cama,do lado do meu travesseiro, dou uma volta com as mãos na cabeça e penso "o que faço contigo, gatinho... Ops, cachorrinho?".
Tá, eu também me enrolo pensando, acho que tenho o direito.
Pego um pouco de ração e coloco na cama pra ele, e depois desenterro debaixo da minha cama, uma caixa que tinha minha coleção de penas de pássaro que achava na rua, junto com várias folhas em branco que eu separava pra desenhar. Tiro tudo da caixa e coloco na cômoda.

Vasculho o quarto em busca de uma tesoura pra ajeitar a caixa como uma caminha pro Mike. Arranjo a caixa, coloco no chão com uma camiseta da Alice in Chains, me afasto e olho pro filhote.

-Filho, antes da meia hora eu volto. - digo como se ele pudesse me escutar. Saio do quarto, tranco ele com a chave, e vou pra sala arrumar a sujeira do vaso que destruí.

Depois de limpar tudo, vou pra cozinha, onde encontro minha mãe sentada na mesa.

-Sua avó já foi dormir. - diz ela. - Vou ficar aqui por uns tempos.

-Que bom... Que?! - pergunto surpresa e irritada. - Não tem lugar aqui pra você.

-Eu vou ficar dormindo no sofá, e nem vou incomodar. Preciso ficar aqui, Luis sofreu um acidente e não quero ficar sozinha na casa dele. - diz ela com a voz baixa.

Eu já estava preparada pra me atirar na parede, até sentir um choque e uma dor na cabeça insuportável. Olho pra baixo tonta, e sinto meus olhos lacrimejarem. Eu sou muito sensível às notícias, e sempre solto umas quedas de pressão quando meus pensamentos se embaralham demais.

-Eu sinto muito. - falo, atordoada.

-Eu também sinto. Você está bem? Ficou pálida.

-Sim. E você? - dou de ombros.

-Estou bem, na medida do possível. Mas, voltando às suas notas, fico feliz por ir tão bem em todas disciplinas. - diz ela.

-Obrigada. Vou dormir agora, tenho aula amanhã. Quando a Vic chegar, avisa ela que é pra bater na porta. - Vic era minha irmã mais velha, e dormia no meu quarto. Já que manteria ele trancado, ou ela teria que bater na porta, ou arrombar ela.
Acho que tavez ela usasse a segunda opção.
Espero que não.

Vou em direção ao quarto, entro e acendo a luz. Mike estava quieto dormindo na caixa, e tudo estava nos conformes, fora penas estarem soltas por todo o quarto, e ele ter cagado no meu cobertor. Ótimo. Enrolo o cobertor, jogo no canto do quarto, chuto as penas espalhadas para debaixo da cômoda e vou dormir.

Acordo com a porta fazendo barulho.
Quer dizer, alguém fazendo barulho na porta.
Quer dizer, a Vic tentando entrar. Levanto, abro a porta e olho nos olhos dela.

-Eai sapa. Que cara de piedade é essa? - diz ela.

-Vic, novas regras. - digo saltando os olhos.

-Não viaja, Andy. Tô com sono. Fala de uma vez o que foi.

-Achei um cachorrinho na rua. - Vic já sorria olhando pra mim. - Me ajuda, ele tá aqui, e se a vó ver que tem mais um cachorro nessa casa, me engole viva.

-O QUE?! - mal paro de falar e ela berra. Só que abafado, porquê coloco minha mão pra cobrir a boca dela. - Para, cara. Me mostra, cadê? Quero veeeer, me mostra de uma vez! - os olhos dela brilhavam. Vic ama animais.

-Tá ali na caixa, entre minha cama e a tua. Ele tá dormindo, e acho melhor deixar que ele continue, porquê já sujou meu cobertor. - falo apontando pro canto do quarto onde o cobertor estava enrolado.

-Tudo bem, eu tô cansada. O trabalho hoje foi pesado, tiveram muitas ligações e eu preciso dormir. - Vic fala se espreguiçando. Vic trabalha em um call center atendendo ligações na parte da noite. Então, ela costuma se cansar, porquê estuda feito louca as contas de engenharia naval na faculdade pela manhã, e à tarde em casa, e por fim, de noite, ouve uma tribo de pessoas reclamando e complicando vidas.

-Tá, obrigada mana. - abraço ela e lembro sobre o nome que ainda estava indecisa. - O nome dele pode ser Mike?

-Deixa eu ver. - Vic se aproxima com cuidado do filhotinho e começa a rir. - Ele tem cara de Osvaldo, mas Mike é um bom nome. Pode ser sim, Andy.

Vic joga a mochila em cima das penas debaixo da cômoda, e algumas delas voam.

-Uhul, vai fazer exposição livre das penas agora,é? - Vic brinca.

-Não, tirei elas da caixa pra dar uma cama pro mendigo Osvaldo Mike. - puxo um falso sorriso. Me sinto carente, então resolvo desabafar. - Vic, você tem um tempinho pra falar comigo? - pergunto com expressão de dúvida. Vic e eu temos uma diferença de 5 anos, mas sempre fomos muito ligadas. Ela sempre me ajudou, e eu sempre tentava ajudar ela, mesmo que os conselhos dela parecessem sempre impagáveis.



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