Era uma vez uma garota que, até então, todos achavam perfeita.
Lá em Palermo, na Itália, vivia uma jovem mulher chamada Alicia Coppola. Seus belos olhos eram grandes, o olho esquerdo cinza e o olho direito de um azul clarinho; havia um certo brilho neles. Seus cílios eram longos e bem definidos, contribuindo para sua beleza. Seus traços eram delicados, ela era alva como a neve, com algumas sardas quase invisíveis nas bochechas. Seus lábios eram rosados e carnudos. Seus cabelos eram longos, ondulados e de um preto intenso, como carvão. Seu nariz era de boneca; sua aparência angelical atraía muitos olhares, que muitas vezes não eram bons.
Alicia, desde pequena, frequentava a igreja, seguindo os passos de sua mãe, que sempre fazia o possível para estar no local, diferente de seu pai. Ao contrário do que os outros achavam, a jovem Coppola não tinha uma vida perfeita.
Em sua casa, viviam apenas a menina, sua mãe e seu pai. Seu pai não era dos mais amorosos; na verdade, ela nem o considerava pai, era apenas um estranho morando em sua casa, um homem bêbado que não queria nada da vida e era bastante violento com sua esposa e consigo mesma. Infelizmente, sua mãe não conseguia se separar dele. Sua mãe, uma bela mulher que tomou a pior decisão ao se casar com seu pai, era tão nova e não tinha conhecimento sobre a vida; acabou se apaixonando pelo homem errado, engravidou e agora estava presa a ele. Ela tinha toda a vida pela frente, sendo uma bela mulher de cabelos negros e pele impecável, mas tomou a decisão errada. No entanto, Alicia sabia que ela era uma boa pessoa e só podia contar com sua mãe.
Mas o que Alicia não esperava era que, aos 12 anos, sua mãe fosse acometida por uma doença grave. O que piorava a situação era que a menina não tinha recursos para tratar a doença e seu pai, marido de sua mãe, não se importava com aquilo. Então, para poder cuidar de sua mãe, Alicia começou a estudar em casa, acumulando as tarefas que antes eram feitas por sua mãe, o que era muito trabalho para apenas uma criança.
Sempre acordava cedo para cuidar de sua mãe, que estava acamada e em estado crítico devido à doença. Apesar de ver sua mãe naquela condição, Alicia tentava manter a esperança em seu coração, esperando pela cura. Não sabia como viveria sem sua mãe, que era tudo em sua vida. Alicia sofreria muito sem ela. Seu pai, mesmo sabendo da situação crítica da esposa, havia saído de casa e até então não havia retornado. Alicia estava preocupada com esse suposto desaparecimento, temendo que ele estivesse contraindo mais dívidas, dívidas que ele nunca pagaria, e descontando suas frustrações nela e em sua mãe.
Estava cansada de ouvir suas piadas sobre a doença de sua mãe, dizendo que era apenas drama ou uma tentativa de chamar atenção, nada sério. Por um lado, estava feliz com o suposto desaparecimento do pai, mas sabia que, infelizmente, ele voltaria.
A menina, de olhos chamativos e beleza de outro mundo, já não estava tão bela assim. A falta de sono, a constante preocupação com sua mãe e a má alimentação estavam afetando sua saúde. Com o pouco dinheiro que tinha, comprava alimentos para a mãe, negligenciando seus próprios cuidados, inclusive a alimentação. Seus lábios, antes rosados como morangos, estavam esbranquiçados pela falta de proteínas.
Chegou dezembro e com ele veio o inverno, um dos mais frios do ano. Devido ao cansaço, Alicia dormiu demais e acordou tarde. Assustada, levantou-se e viu que já era tarde. Vasculhou os armários e resmungou ao ver que não havia nada para comer. Vendo que sua mãe dormia, aproveitou para sair e comprar os ingredientes para o almoço. Logo voltou e foi para o fogão preparar a sopa de legumes que sua mãe sempre comia, pois não tinham dinheiro para comprar carne.
A comida de sua mãe já estava pronta há algum tempo e Alicia estranhava o fato de a mãe não ter acordado. Disposta a interromper o sono da mãe, esquentou novamente a sopa e a colocou em uma bandeja, indo para o quarto dos pais. Ao entrar no quarto, abriu as cortinas e colocou a bandeja sobre a cama. Tocou na mãe para acordá-la e estranhou ao sentir que estava meio gelada, mesmo sendo inverno. Alicia havia feito de tudo para esquentá-la e não deixá-la com frio. Ao perceber que a mãe não acordava, entrou em desespero, balançando-a com mais força até criar coragem para verificar os batimentos.
Não podia acreditar no que via. Seus olhos se encheram de lágrimas, a respiração ficou pesada e sentiu um enorme aperto no coração, como se algo estivesse sendo arrancado. Sua mãe estava morta. Alicia caiu de joelhos no chão, completamente em prantos. Sua respiração falhava e o coração apertava cada vez mais. Ela soluçava alto, incapaz de acreditar no que estava acontecendo, incapaz de acreditar que sua mãe estava morta.
"Minha mãe... minha companheira... meu abrigo. Como vou viver sem você? Como vou conseguir viver sem minha mãe?"
Esses pensamentos dominavam sua mente. Até que ouviu a porta ser aberta. Não... Aquela era a pior hora para isso acontecer. O pai, aparentemente bêbado, estava parado na porta do quarto, olhando para as duas. Ao perceber o que havia acontecido, ele foi bruscamente até Alicia, pegando-a pelos cabelos e a fazendo ficar de pé. Cuspiu palavras de acusação, dizendo que a mãe estava morta por culpa dela, que ela era tão inútil que não conseguia cuidar de ninguém, que suas vidas seriam melhores se ela não tivesse nascido.
Alicia foi jogada ao chão com força, protegendo o rosto com os braços, sabendo que seria inútil. Não tinha forças para lutar contra ele. Os chutes e socos que recebia não eram nada comparados à dor de perder sua amada mãe.
[...]
Havia feito um funeral para sua mãe. Algumas pessoas vieram, mas, sinceramente, não estava nem aí para cada uma delas. Nenhuma esteve presente quando sua mãe, Alice Coppola, mais precisou. Nenhuma estava ali quando Alice apanhava de seu marido. Nenhuma estava ali quando Alice passava fome com sua filha pequena. Alicia queria que todos queimassem por todas as vezes que sua mãe mais precisou e ninguém teve um mínimo de interesse em ajudar.
E foi assim que se passaram os dois anos da vida de Alicia, sentindo raiva e frustrações que não podia compartilhar com ninguém. Parecia que, depois da morte da sua mãe, seu pai havia piorado seu comportamento. Alicia vivia com roxos e arranhões pelo corpo. Todos em seu bairro apenas ignoravam todos aqueles sinais de agressão.
Até que, com seus 14 anos, resolveu que não iria apanhar mais de seu pai. Infelizmente, por sua bela alma, não conseguiria fazer nada contra ele. Esperaria o velho dormir para poder fugir. Já tinha preparado suas coisas e colocado numa bolsa. Claro que não coube tudo ali, por isso teve que abandonar alguns pertences não tão importantes.
Era por volta das 02:00 da manhã. Não havia conseguido dormir por tanta ansiedade. Alicia se levantou e pegou suas coisas, saindo do quarto com cuidado para não acordar o homem que estava no quarto ao lado. Andou em passos cuidadosos e rápidos até a porta de entrada. Quando saiu da residência, soltou um suspiro aliviado. Pensou bem para onde iria e resolveu ir em direção à floresta que tinha ali, já que, caso o carrasco acordasse, seria bem mais difícil dele encontrá-la.
Andou, andou, andou e andou até não aguentar mais ficar de pé. Tinha certeza de que estava bem longe de onde morava. Sabia bem que não era muito seguro ficar ali, mas estava tão cansada que nem ligava para isso. Apenas jogou sua mochila no chão e deitou, apoiando sua cabeça naquela mochila, que, por ter mais roupas do que qualquer outra coisa, estava macia. Esperava que, se fosse aparecer algo, fosse um urso e não um homem.
VOCÊ ESTÁ LENDO
A vingança.
FantasíaAlicia é uma jovem garota que sofreu bastante em sua infância, cansada de sofrer nas mãos de seu pai, Alicia foge em direção a floresta. Quando achava que sua vida iria mudar para melhor, ela nunca esteve tão enganada.