Há horas que se ouvia ele tocar, repetitivo, maçante, qual fosse a importância, meu corpo se recusara exercer qualquer movimento. Ecoava pelo cômodo, sobre a quadrada, arranhada, pequena e suja mesa de centro, presente da tia Seulgi, se tratava da própria impedindo meu descanso.
Se é que eu podia considerar isso um descanso.
Meus olhos pesavam, a visão se tornara turva, suspirava com cautela. Enquanto sentada na poltrona de odor pouco agradável, sentia gradualmente meu torso se fundir com ela, as costas compressas eram engolidas, o suor escorrendo pela espinha, meus batimentos frenéticos, quase que sentira meu coração na garganta.
Há horas que se ouvia meu celular tocar, se tratava da minha tia Seulgi, dando uma trilha sonora a esse eterno pesadelo.
Capítulo II
— 014-82-57-833-4126...
A sequência dos números se prendia firmemente na ponta da língua, como a letra de um Pop Chiclete. Isso já faz alguns dias, talvez semanas, sinto-me avulsa no tempo, esse ciclo de turno noturno finda minhas memórias, que ainda se entrelaçam e somem. Como dito por mim há algum tempo não específico: "[...]parece um dia que nunca aconteceu". Lembro-me dessas palavras, elas parecem únicas, lembro-me desse dia, porque ele me lembra a Mei.
Estava presente para ver todas as facetas de seu — "descontrolado" — humor, ela queria estar presente no dia anterior ao incidente, como eu estava. Fez-me centenas das mesmas perguntas, lhe respondi da mesma forma, não sei o que quisera arrancar de mim, como um coadjuvante tão pouco importante no assassinato de Choi Soo-Ha, minha presença era meramente inútil.
Pôs à culpa em todos a sua volta, Kim Seok-jin foi seu alvo principal, ele deveria cumprir o último turno de Choi Soo-Ha com ela, como se sua presença fosse ter qualquer diferença. Depois foi a vez do meu problema de memória, o que quase ocasionou em nosso acidente na estrada.
Minha porta não estava trancada afinal, mesmo com as dúvidas que surgiam durante o percurso até o Shizuka, queria pensar que minha mente estava enganando-me.
Enquanto o teto escuro de um cômodo se tornara o mais interessante, às vezes a claridade dos faróis de carros na rua atingia meu quarto, não que fosse esse o único motivo, me tirava o sono. A cortina verde musgo fora descartada, o peso de lembranças que ele carrega são como correntes nos meus pés. Como sempre dizem: "Não é você, sou eu."
Enquanto o teto escuro de um cômodo vazio não era tão interessante assim, onde a luz forte dos faróis clareava meu guarda-roupa, esse ponto específico era o único que não me causara gastura, não traria meu sono a mim. O recipiente transparente alaranjado cilíndrico ainda sobre a mesa de canto estava metade cheio, talvez metade vazio, o que importará? O copo de vidro sem nada, quando o organismo ainda se acostuma com as doses da recém vazia garrafa de vinho tinto barato, não terá pílula e copo d'água.
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Disparate
TerrorNas movimentadas ruas de uma metrópole Coreana, June Lee ocupa o cargo trabalhando durante as tardes na conhecida aconchegante Shizuka Coffee's. Quando o choque de uma fatídica notícia ocorre, a morte da atendente do turno noturno no mesmo local, Ju...