Capítulo 2 - No Recesso de Nossas Mentes

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- Quantas foram desta vez? Duas, talvez três? - Perguntou a mulher que sentava-se na mesa em frente a dele. Tinha cabelo curto, caindo até um pouco antes de seus ombros, e com sua franja cortada em uma ligeira diagonal, descendo da direita até quase esconder sua sobrancelha esquerda. Seus olhos eram azuis, e brilhavam com o sarcasmo de suas palavras. - Ou talvez tenha sido apenas o nariz desta vez?

Henry jogou-se na própria cadeira, dando um longo olhar para sua parceira. Ela vestia um velho casaco de couro sem mangas por cima de uma simples camisa azul. Usava calça jeans escura, apoiando suas pernas sobre a própria mesa, permitindo que todos vissem suas botas de cano alto com plataforma. Cage deu uma curta risada para sua colega.

- Apenas uma desta vez. - Respondeu ao mostrar apontar uma de suas costelas, afastando seu sobretudo para tanto. - E o nariz.

- Você deveria agradecer aos médicos da enfermaria por toda a tecnologia que eles gastam para te arrumar. O que foi desta vez? Ele lançou um carro em você? Ou talvez tenha sido jogado escada à baixo?

- Foi janela a baixo. Uma bem alta!

Ambos deixaram suas risadas preencherem o salão vazio da unidade de CyberExorcismo de Sybil. Já era de madrugada, e apenas os dois faziam o turno daquela noite. Haviam apenas cinco pares de exorcistas para toda a cidade, e não parecia existir planos para ampliar o efetivo.

- Você sabe que a sua informante é uma androide cartomante, certo? - Henry então disse para puxar uma conversa com Lilian. - Ela não é cem por cento confiável.

- E quem neste mundo é? - Lilian respondeu enquanto procurava por uma música mais animada no seu computador. Cage pode observar a longa cicatriz que ela carregava na mão esquerda enquanto caçava pelo novo álbum de sua banda favorita.

- Você não pretende colocar "Cinco Cometas" de novo, pretende?

Ela apenas deu uma rápida olhada pelo canto do olho para ele, deixando o sorriso em seu rosto denunciar suas intenções. A banda de punk rock fora criada em Sybil, e hoje era um dos poucos orgulhos da cidade.

- Você tem conseguido sonhar com qualquer coisas nestes últimos dias? - Lilian lhe perguntou após jogar seus braços para trás, usando-os para apoiar sua cabeça enquanto balançava uma de suas botas no mesmo ritmo que a bateria. - Não sei se é o estresse provocado pelas últimas caçadas, ou se estou com alguma doença sem eu saber, mas dormir sem sonhar tem sido um problema para mim.

- Isto normalmente é falta de atualização no implante novo da unidade. - Ele rapidamente respondeu enquanto pesquisava por qualquer distúrbio na cidade em seu próprio computador. - Tenta atualizá-lo antes de dormir, os sonhos voltarão a acontecer.

Ela olhava para cima, observando as pás do ventilador lentamente girarem em cima deles. Por mais frio que o inverno fosse em Sybil, ali sempre se encontrava quente e abafado. Culpa da falta de janelas e das dezenas de equipamentos e computadores no salão.

- Mas são os meus sonhos ou os sonhos que o implante criará?

- Acho que são os seus, mas não posso confirmar nada.

- E como você descobriria se são verdadeiros ou não?

O computador de Lilian recebeu então uma notificação. Ela desviou seu olhar, lendo com curiosidade a mensagem que lhe fora enviada.

- Foi você que prendeu um cara ligado ao pessoal da Kandelabra?

- Jason Feng. Me ameaçou a chamar a gangue antes de me informar a localização de seu filho.

- Bem, parece que ele tem informações sobre um vampiro de dados que trabalha para a organização.

Não era novidade para ninguém que os criminosos mantinham em seu meio entidades cibernéticas capazes de drenar toda a informação mantida em um equipamento ou androide, os transformando em carcaças vazias, sem nem ao menos saberem o que são. Mas ter alguém disposto a entregar um deles era sempre uma novidade bem-vinda.

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