Ainda havia um forte movimento entre as ruas e avenidas daquela cidade escura. As nuvens não permitiam que a luz da lua cumprisse com seu dever, deixando a tarefa apenas para os letreiros que brilhavam nos mais fortes tons. A viatura passava por cima dos transeuntes, deslizando sobre eles como se navegasse por um oceano invisível.
- Você lembra como se destrói um vampiro de dados, certo? - Perguntou Lilian enquanto dirigia o veículo, prestando atenção nas instruções que o monitor de bordo lhe dava para chegar ao Decolagem. - Donald Hung chegou até a escrever um livro inteiro sobre isso.
Henry revirava os bolsos internos de seu sobretudo, verificando se não havia deixado nada para trás. Vampiros eram entidades rápidas e ferozes, que costumam ficar em um único hospedeiro, mas fogem de suas vítimas assim que se sentem em perigo.
- Usaremos estes colares para nos aproximar. - Ele disse ao jogar o acessório no colo de Lilian. - O líquido dentro da capsula irá proteger nossos implantes de uma possível invasão do vírus. Vai funcionar como uma pequena explosão eletro magnética. Porém, ficaremos sem contato com o pessoal da unidade enquanto usarmos.
- Depois cravamos um totem de aprisionamento no crânio dele. - Ela completou enquanto colocava o colar. Os dispositivos implantados nela continuavam a funcionar, todos menos sua comunicação com os demais exorcistas. - Não há como segurar um vampiro em nossas luvas, eles encontram uma brecha facilmente. O totem permite que o apaguemos enquanto ele estiver dentro dele. Mas eu tenho uma dúvida.
- E qual seria?
- Nenhum ocultista jamais tentou selar um vampiro dentro do território de uma das maiores gangues do país. Como impedir que a entidade fuja para um outro kandelabra?
Ele deu de ombros. Aquela era uma daquelas perguntas em que você não tem uma resposta. Teriam que descobrir na prática, talvez até escrever sobre isso se sobrevivessem.
- Você conseguiu falar com alguma das outras duplas antes de sairmos? - Perguntou então Cage ao abrir um pouco a janela do passageiro. Um vento frio e forte o recepcionou, assim como o constante barulho de vozes e passos vindos da rua embaixo deles. - Os gêmeos não tem o costume de dormir.
- Ninguém mais tem esse costume, Henry. - Replicou Lilian ao virar a viatura para a esquerda, adentrando um setor industrial. - A gente fecha os olhos e sonha, mas dormir jamais. Isso é uma das coisas que sinto inveja nos androides.
- Androides não dormem, Lilian, eles apenas entram em um estado de manutenção.
- Mas eles voltam revigorados. Sentem como se estivessem novos! Os modelos mais recentes até sonham, sempre com coisas agradáveis.
Ela mais uma vez tinha um ponto ao seu favor. Henry era prisioneiro de sua própria mente, obrigado ao eterno recordar de seus atos e falhas. Começava a desejar que os implantes do departamento realmente criassem sonhos para eles. Ele sozinho não conseguia mais.
Wanderer Grove era um dos bairros mais violentos de Sybil, situado logo após o setor industrial em que estavam. Centenas de fábricas se alinhavam uma com a outra pelas ruas daquele distrito em que estavam, lançando suas chaminés em direção ao céu, emitindo delas uma constante fumaça, e,em algumas, longas labaredas das mais diversas cores. Era possível ouvir as linhas de montagem trabalhando mesmo de madrugada, aproveitando-se do fato que os robôs não tinham ainda todos os direitos plenos de um trabalhador humano. Ali eram produzidos carros, móveis, roupas, e até armas em algumas delas. Era um daqueles lugares que uma cidade não tem orgulho de suportar, mas, ao mesmo tempo, mantêm dentro de si.
Minutos se passariam antes que a última indústria finalmente ficasse para trás. Estavam oficialmente em Grove agora. Uma névoa esverdeada cobria as ruas daquele bairro, era o subproduto dos anos de negligência ao despejo de produtos químicos diretamente ao esgoto. A fumaça saía de bueiros e das fendas nas calçadas, servindo de cortina para o que acontecia naquele distrito atualmente.
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O CyberExorcista
Fiksi IlmiahÉ o início do século XXI, a humanidade finalmente consegue criar máquinas que pensam e sentem, se equiparando em inteligência conosco. Mas, se os programas começam a agir e pensar sozinhos, assim também fazem os vírus. Um novo tipo de polícia é cria...