Não Queria Ser Assim

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Morgana era grata por poder voltar às graças do piano e, sobretudo, por não precisar de ver claramente para tocar qualquer música que desejasse. Não tinham passado muitos dias desde o incidente com a poção, mas tinha sido tempo suficiente para começar a sentir-se preocupada com a sua visão. Estava melhor, era facto, mas ainda havia momentos, mais do meio para o final do dia, em que a nitidez começava a escassear; precisamente quando eram as aulas de dança.

Um dia, depois do equinócio de outono, quando os trabalhos de cada matéria começavam a pesar e a ansiedade para o baile a aumentar, receberam uma visita especial: Eleazar Fig. Com ele veio também Aesop Sharp — um pouco contrafeito, dada a carranca e o olhar mortal oferecido a cada um dos alunos que conteve uma risada à sua chegada. Quanto a Morgana, Aesop ignorou como vinha a fazer desde a última conversa; ou, deveria nomear, discussão acesa. Doía em Morgana cada vez que se recordava, mas mais ainda em Aesop por pisá-la de forma a mantê-la longe. Era para o bem de todos — sobretudo para o bem de Morgana—, dizia a si mesmo quando a força de vontade ameaçava abandoná-lo. Merecia uma estrela-guia que irradiasse vida, não uma casca do que um dia foi. Não podia fraquejar.

— Ouvi boas referências sobre a tua aula, Matilda, pelo que tive de vir e ver com os meus próprios olhos.

— Eleazar, Aesop, são sempre bem-vindos. Sentem-se, fiquem à vontade.

Os primeiros minutos foram para organizar os pares. Matilda Weasley dividiu-os em grupos de quatro pares pelo salão e posicionou-os a norte, a sul, a este e a oeste do círculo que formavam. A cada um dos grupos deixou as indicações de como segurar o seu par e qual a rotação que deveriam fazer.

Num primeiro momento, os alunos estranharam. Até então só tinham treinado valsa. Ensinar uma só dança em pouco tempo já era um desafio e tanto. Tinham menos de dois meses e três aulas por semana, quase impossível de conseguir aperfeiçoar. No entanto, o professor Ronen contara à professora Weasley sobre os rumores que saltavam de boca em boca nos corredores. Os alunos estavam a perder o interesse frente à repetitividade e exigência. Por isso, para a aula daquele dia tinha preparado algo especial. Não precisavam de sair dançarinos; bastava que pudessem aproveitar o baile da melhor forma e, acima de tudo, divertirem-se, aconselhara-lhe Abraham Ronen.

Porém, quando analisou cada dupla, notou um grupo em desfalque.

— A senhora Reyes e o senhor Abbott? Não vêm?

Ninguém respondeu. Matilda Weasley levou as mãos à cintura com um suspiro.

Eleazar Fig interpretou como uma oportunidade e ofereceu-se como par.

— Não será incómodo nenhum, Matilda. Na verdade, ainda no outro dia, eu e o Aesop conversávamos sobre isso mesmo. Inclusive, ele sugeriu que a senhora Malfoy também se juntasse e fizesse par com o senhor Weasley.

De olhos esbugalhados, Morgana fitou Aesop. Ele, por sua vez, permaneceu impassível, sem esboçar qualquer reação.

— Alguém... Alguém precisa de ficar encarregue da música, professor Fig. — Morgana tentou, mas sem sucesso. Eleazar já tinha o plano arranjado. Ficaria Aesop com a tarefa de vigiar os instrumentos encantados.

Garreth não cabia nele de felicidade quando viu Morgana erguer-se do banco e vir na sua direção, completamente alheio à derrota escrita em cada traço do seu rosto. O ruivo estendeu as mãos para segurar a sua cintura e a sua mão.

— A meio das costas, Garreth — sussurrou ao segurar o seu ombro.

Matilda Weasley tinha decidido começar por uma quadrilha. De certo que uma dança mais animada, repleta de passos saltitantes e que envolvia mais interação do grupo, aumentaria o empenho de cada um, como se fosse um joguinho de crianças. Por conseguinte, também ocasionava mais falhas, mas não menos gargalhadas. Tropeçavam nos pés uns dos outros, sucedidos por abraços de forma a evitar quedas. Era um aliviar de tensões depois de dias de aulas e trabalho.

Masquerade (Morgana Malfoy x Aesop Sharp)Onde histórias criam vida. Descubra agora