Mara abria o porta mala do carro e ajudava seu pai a colocar as coisas da família dentro. Por sorte, era só um final de semana, não precisaria de muita coisa. Seu irmão Pedro, de apenas 5 anos, vinha com um dinossauro de plástico na mão, enquanto sua irmã Lorena aparecia com um belo laço na cabeça. Lorena adora laços.
-Queridos, tudo está na bolsa?-A mulher com uma maquiagem no rosto para disfarçar suas olheiras sorria calorosamente. Estava com um vestido longo e aproximou-se do marido esperando um elogio do mesmo.
-Esta belíssima, minha obra de Deus!-Ela sorriu envergonhada.
Aquilo despertava em Mara uma vontade absurda de vomitar.
-Por que não usa roupas sem mangas mamãe? Está muito calor.-Lorena falava enquanto procurava seu tablet.
Sua mãe Juliana semicerrou os olhos e sentiu-se pressionada. Seu pai, Fabiano, ficou calado e só fechou o porta malas e mandou todos entrarem no carro. O pai sentiu o bolso vibrar e parecia que deveria ser um dos irmãos perguntando que horas ele ia sair e se tinha como dar carona para um de seus filhos. Fabiano negou educadamente e se prontificou para pagar uma passagem para o garoto. Depois de acertar tudo, Fabiano desligou o telefone e entrou no carro.
Sua feição mudou.
-Que merdinhas lascados, não tem dinheiro, nem inventa de ir para essas reuniões. Esse filho dele, até drogado deve ser.
O carro ficou em silêncio. Quando o pai tinha esses surtos ninguém podia se meter. Era uma lei. Minha mãe ensinou que era para sobrevivência, olha para ela. Totalmente rendida a um homem igual ao meu pai. Às vezes eu tinha certa raiva dela.
-E você dona Mara, não quero falando com aquela vagabunda da Rebeca, ouvi falar que tá mexendo com bruxaria, não acho bom pra você.
-Mas pai...
-CALADA.
O pai estressado olhava no GPS e seguia a estrada. Deviam passar em uma floresta um pouco afastada. Mara não queria ser afastada de Rebeca, era a única coisa boa de sua vida. Estava totalmente estressada e não pensou na ação seguinte.
-Lorena, sabe por que a mamãe usa roupas tãooo longas?-Lorena tirou a visão do tablet e Pedro dormia.-Porque o papai é um homem bem agressivo que só sabe bater e resolver com violência.
Após essa fala o carro freou bruscamente fazendo todos terem impacto e irem para a frente. Fabiano, não, seu pai a mandou descer. Ela engoliu seco e fez o que lhe foi mandado. Já imaginava o que iria vir. Seu pai foi no porta malas e pegou uma espécie de madeira, tinha pregos.
Ele falava que como o nosso salvador usava pregos na mão, cada vez que a gente comete um pecado precisa ser castigado por esses mesmos pregos. Ele mandou eu me ajoelhar e virar as costas para ele, por sorte dele a floresta era afastada de tudo.
-Suba a blusa.-Eu via o pedaço de madeira comprida e rodeada de pregos e começava a pedir misericórdia.-SUBA A MERDA DA BLUSA.
-De-desculpas pa-pai. Eu... Eu errei.
-Você merece ser castigada, sabe qual foi o seu erro?-Me virei enquanto ele falava e me ajoelhei na pista, mesmo eu usando calças meus joelhos doíam.
-S-sei, eu fui respondona e dev-devo,-recebeu a primeira batida nas costas fazendo seu corpo ir para a frente.-de-devo...
-FALE.
-Devo honrar o meu pai e minha mãe. Principalmente... o-o pr-provedor da ca-casa.
Falava entre soluços e sentia a cada respiração que era solta, era uma batida, sempre mais forte que a anterior. Juntava as mãos e pedia desculpas a Deus, ao meu pai. Em certos momentos eu não sabia para quem eu tinha pecado. Entre meus soluços, ouviam-se meus pedidos de misericórdia.
-Me dite os versículo da bíblia sobre isso.
-Pa-pai.
-Me fale.-Dessa vez foi em um ponto certeiro fazendo Mara ir direto para o chão.-ME DIGA SUA IMUNDA.
-Em...-Lara tentava falar deitada naquele chão onde estava totalmente quente.-Em êxodo 20 pai.
Sua voz falha, suas costas que sangravam, seu suor que se misturava com seu sangue e isso fazia arder mais. Ele segurava aquela madeira como se fosse um cajado, igual ao de Moisés, porém invés de fazer milagres ele usava o cajado para ditar as pragas e esses pragas era Mara. Mara era o pior erro do seu pai.
-Em que versículo, querida?
Após ser chamada daquele jeito, o estômago de Mara embrulhou. Ela odiava qualquer apelido do seu pai. Na realidade, odiava cada vez que o pai se referia a si. Ela tentou levantar, olhou para o lado sua mãe segurava sua irmã que tentava ir para proteger a irmã. Enquanto Pedro dormia tranquilamente.
Sua irmã não merecia presenciar aquilo.
-No versículo 12 papai.-Mesmo com dor forçava falar sem gaguejar tanto.
-Muito bem. Agora dite para o papai e diga o que você aprendeu.
-Honra o teu pai e a tua mãe,-evitava olhar nos olhos do pai,-a fim de que tenha vida longa na terra que o senhor, o teu Deus, te dá.
Por desleixo da mãe, Lorena correu em direção da irmã ajudando-a levantar. O pai mantinha um olhar frio. Logo a mãe veio ajudar a colocar a filha no carro.
-Lorena.
-Eu aprendi que o senhor é minha figura máxima de respeito. O senhor é o provedor da casa, aquele o qual eu respeito muito e devo sempre respeitar.
-Muito bem. Porque, afinal quem amaldiçoar seu pai ou sua mãe...
-Deve ser executado, papai.
-Fico feliz.
O pai retornou abrindo o porta malas e entrou no carro. Juliana passava medicamentos em alguns ferimentos externos da filha e entregava o remédio que ela não tinha tomado. Ela olhou a hora. 15:20. Só atrasou vinte minutos.
Todos aos seus lugares, o pai ligou o carro e continuou. O carro estava em um clima pesado. Entraram em uma parte e o pai achou estranho. Afinal estava escurecendo rápido. O GPS só o enviava para locais estranhos e sem saída. O pai xingava. Estavam perdidos.
O pai viu uma lanterna e uma figura conhecida. Era o irmão da ligação. O pai deveria fingir que tinha esquecido do dinheiro e simplesmente pedir ajuda. O moço sorriu simpático e chegou perto da janela batendo. Meu pai desceu o vidro e logo sorria calorosamente.
-A paz do senhor pastor, muitas pessoas falaram que essa parte do caminho é difícil e a maioria decidiu só vir amanhã na hora do batismo. Desculpas avisar em cima da hora.
-A paz meu querido, tudo bem! Acontece. Porém está tarde para voltar com meus meninos.
-Minha pousada está logo aqui, ela é bem aconchegante e grande, só me seguir.
Meu pai agradeceu e estacionou o carro perto da pousada. Quando olhei para a pousada, não senti uma coisa boa. Na verdade, eu estava toda quebrada, já não estava sentindo nada de bom por natureza.
Entramos na casa, o homem atrás de nós trancou a porta após todos passarem. Quando meu pai olha desconfiado vejo ele cair no chão. Por um minuto todos estavam, sinto perder minha consciência. Tudo ficou escuro.
{...}
Em meio a gritos eu acordo e vejo todos sentados e amarrados em fileira. Meu Deus, o homem estava na frente com provavelmente o filho dele. O filho dele segurava um machado e o pai sorria enquanto o filho olhava para a gente com desdém.
-QUE MERDA É ESSA?
-Que é isso pastor? Só estou querendo ver se você é bom o suficiente para me batizar. Já que negou ajudar meu filho vir aqui na pousada ver o seu pobre pai.
-Eu-Eu ia ajudar.
-Você realmente iria?
O silêncio se instalou. O homem mais velho começou a rir.
-Vamos começar uma brincadeira.
-Bem vindos ao seu próprio inferno pessoal!
(História sem menção a ofender nenhuma religião, somente com meio de entreter.)
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Quando o Diabo assombra
TerrorUma família religiosa pretende fazer uma viagem tranquila, mas não foi isso que o destino os destinou. conto curto somente para entreter.