15 anos não apagaram

Verdade

- Fala Christopher! Exigiu

Me mantive calado pelo susto de sua afirmação. Em pensamento praguejei o nome de Anahi por ter aberto o bico.

- Anahi te contou. Não é uma pergunta.

- Não. Ela só disse que você mentiu pra mim. E a forma como te encontrou num bar. Você nunca bebeu para chegar nesse ponto Chris, por que fez isso? Por que mentiu pra mim?

Minha respiração estava descompassada. Eu não sabia reagir bem a pressão quando vinha dela.

- O que você quer ouvir? Dei as costas para ela seguindo para a pequena varanda do apartamento. Ela me seguiria, Dulce não suportava ficar no escuro sobre algo principalmente se envolvesse ela.

- A verdade droga! Você nunca mentiu pra mim, mesmo que me machucasse, nunca mentimos um pro outro. Ela puxou meu braço me fazendo encara-la.

Seus olhos brilhando pela luz fraca da varanda, eu só não sabia se era raiva ou se havia outra coisa.

- Me fala a verdade Ucker.

- Era demais pra mim. Eu não iria aguentar ver você entrar na igreja tão linda e ir para outro homem. Eu cheguei a parar em frente à igreja, vi todos os convidados entrarem vi ele entrar, suas irmãs e sua mãe... mas não suportaria. Então liguei o carro e fui pra um bar, enchi a cara e misturei todo o álcool que podia.

Senti meus olhos ficarem molhados e me forcei a segurar as lágrimas.

- Então inventou sobre o show.

- Sim. Quando acordei estava na casa da Any com uma dor de cabeça e uma ressaca que parecia nunca ir embora. Quando saíram as fotos, você parecia tão feliz, que me forcei a seguir em frente.  Mas só conseguia pensar que deveria ser eu ali. Por fim deixei os dias passarem e ficava feliz em ver que seus sonhos estavam se tornando reais. Você sempre dizia que queria ser mãe de uma menininha e quando anunciou a vinda da Maria Paula, eu realmente fiquei feliz por você. Aceitei que tinha te perdido pra sempre.

Dulce me encarava com os lábios entreabertos de surpresa ou espanto. Aproveitei seu estado de choque para me afastar dela, me encostei no batente da varanda cruzando os braços em
meu peito.

- Por que não foi atrás de mim então? Me contado tudo, tinha que ter me contato Christopher! Eu merecia saber.

- Por que eu sou um maldito covarde Dulce Maria, e quando se trata de você eu tomo todas as decisões erradas! Mas a maior delas foi não ter entrado naquela igreja e te tirado de lá carregada!

Suas mãos atingiram meus braços com força.

- Seu idiota! Imbecil!

Suas ofensas sincronizavam com os tapas deferidos em mim. Deixei que ela descarregasse toda sua raiva por mim. Quando percebi que suas forças já tinham acabado a guiei para dentro novamente.

- Me desculpe. Digo sentando com ela em meu sofá. Deixei que se acalmasse.

- Não Christopher, sou eu que devo pedir desculpas. Não pelos tapas, você mereceu eles. Mas por não ter percebido a burrada que fazia ao me casar com Paco para tentar apagar esse sentimento por você.

Suas mãos vão para meu pescoço e ela me puxa de encontro a si. Seus lábios tão macios quanto eram a 15 anos atrás, exploram os meus. Meu corpo reage de imediato, reconhecendo o seu, matando toda a vontade reprimida por anos.

Não avançamos mais do que algumas carícias. E quando o ar se torna necessário Dulce encosta sua testa na minha, sua respiração de encontro a minha pele.

- O que foi isso? Pergunto. Minha mente está confusa por causa de seu perfume.

- Eu não sei... mas era o que eu teria feito se você tivesse entrado na igreja.

- Está dizendo que não teria se casado com ele?

- Todo meu relacionamento com Paço foi um erro, exceto por uma coisa.

-Maria Paula. Digo deixando escapar um sorriso, ao pensar na pequena que me tinha enrolado em seus dedinhos.

- Sim, Mapi é o que eu tenho de mais precioso na vida. E goste ou não Paco me deu ela de certa forma. Foi a única coisa boa nessa história.

Ela sorri.

- Como ficamos Dul?

- Nós?

- É claro! Não pense que vou deixa-lá escapar de mim depois tudo isso.

- Chris é complicado. Tem a turnê, eu acabei de me divorciar e eu tenho uma filha.

Seguro seu rosto fazendo pequenos círculos com meu polegar em sua pele.

- Não complique o que é simples Candy. Sei que estamos ocupados com a turnê e que tudo será bem louco. Mas eu não posso, eu simplesmente não vou aguentar ficar longe de você nem por mais um segundo.

Ela põe sua mão sobre a minha e percebo que está segurando um sorriso.

- Eu tenho uma filha Christopher tenho que pensar nela antes de pensar em mim.

- Dulce por favor... eu amo aquela criança. Mas entendo seu lado. E me contento em ser o tio Chris, já que não pude participar da criação dela.

Brinco fazendo ela me bater.

- Podemos... deixar isso entre a gente por enquanto?

- Podemos fazer o que você quiser. Dulce, eu espero que entenda que não sou mais aquele rapaz com medo de responsabilidades e sem saber o que quer. Sou um homem agora, e posso ter demorado para ter certezas na minha vida mas agora eu sei o que quero. E o que eu quero, o que eu sempre quis é você.