Não consegui encontrar cicatrizes ou um machucado sequer ao tocar Mon no escuro, Ela ria enquanto eu a tateava às cegas.
— O que está fazendo?
— Você levou tiros. No parque. — Não parei de tocá-la, mas dessa vez era apenas pelo prazer de sentir sua pele macia.
Ela se sentou e tocou meu ombro.
— Você também. Doeu?
— Sim, mas não parecia real. Você se feriu?
— Apenas no abstrato. Haraniel cuidou disso. — Ela suspirou e correu as pontas dos dedos pela minha mandibula.
— Eu devia ter contado. Haraniel e eu somos parte um do outro há muito tempo.
— Como foi que isso aconteceu?
— Eu orei e elu respondeu. Era criança quando Haraniel veio até mim pela primeira vez. Elu cuida de mim há anos, sempre esteve presente. Até que um dia eu finalmente entendi o que elu estava fazendo e o que esperava de mim. Então aceitei e me ofereci para ser sua hospedeira.
Eu me apoiei em um cotovelo para poder observar o brilho suave da cidade em seu rosto.
— Então elu está dentro de você?
— Os anjos eLivross na terra acreditam que, se conseguirem
se unir a um hospedeiro para viver uma vida humana, ascenderão ao Céu no momento que o hospedeiro morrer.— É mesmo? Isso acontece?
Mon se virou de frente para mim e entrelacou nossas pernas.
— Ninguém sabe. Mas é preciso ter fé.
— Soa familiar — disse. — Mas o Vampiro da Cidade Branca não tem tanta fé assim.
— Pelo que sei, não é algo fácil de ser feito. Os elivross não estão acostumados com humildade, e viver uma vida humana, ou seja, abrir mão da própria autonomia, é desafiador justamente neste aspecto Mas quando eu vi aquela fotografia, quando nós vimos, foi demais.
— Então, a rigor, Haraniel não devia estar no controle.
— Isso mesmo respondeu Mon. Haraniel não deveria estar tão envolvide, mas elu montou o quebra-cabeça e está... Bem, enojado mal descreve o sentimento. O que esse anjo corrompido está fazendo é abominável. Elu precisa ser detido. — Abaixei a cabeça e a puxei para mais perto de mim.
— Envolver você nessa confusão era a última coisa que eu queria. Eu só quis que você ficasse em segurança, e, no fim das contas, você é uma guerreira.
- Haraniel é o guerreiro — corrigiu Mon. — Elu geralmente se contenta em ficar dentro de mim, mas essa situação é importante demais para isso. Quando tudo acabar, elu vai se acalmar novamente. Agora feche os olhos, você precisa dormir.
Ela se aninhou em mim e apagou um minuto depois. Eu precisava muito dormir, mas fiquei observando a geada que subia pelas janelas. Estávamos seguras e quentes, graças ao aquecedor ronronando no canto do quarte. Afundei meu nariz no cabelo de Mon e inspirei fundo, fechando os olhos e relaxando.
Tentei pegar no sono, mas eu voltava a ficar nervosa sempre que estava prestes a apagar, o sono era muito parecido com o desamparo da translocação. Eu não conseguia me soltar. Talvez nunca mais fosse conseguir relaxar nos braços de Morfeu.
Levou muito tempo até que eu perdesse aquela luta e descansasse.
E de repente eu estava completamente alerta outra vez, com um pé descalço no tapete de tecido e o outro no piso frio, com a arma na mão. Algo tinha fragilizado minhas proteções. O ar parecia gelado, vulnerável. Eu me agachei e segui pelo chão de madeira, entrando abaixada na sala de estar do escritório. As luzes do corredor lá fora brilhavam do outro lado do vidro fosco da porta, onde se lia ANUNTRAKUL INVESTIGAÇÕES-ENTRE SEM BATER
E alguém entrara. Uma sombra estava sentada à mesa,
irreconhecível no escuro, usando um chapéu de aba larga tamborilando com os dedos sobre o braço da cadeira. Baixei a arma e soltei um suspiro, apertando o interruptor e dando
de cara com Ted.
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𝑴𝒆𝒔𝒎𝒐 𝒔𝒂𝒃𝒆𝒏𝒅𝒐 𝒄𝒐𝒎𝒐 𝒕𝒖𝒅𝒐 𝒂𝒄𝒂𝒃𝒂
FanfictionSamanun vendeu sua alma para salvar a vida de seu irmão e recebe uma última missão antes de ir eternamente para inferno. Ao recusá-la, sua cliente melhora a oferta ao oferecer o único pagamento que ela não pode resistir - a chance de ter um futuro o...