I

44 3 0
                                    

"Caminhar com um amigo no escuro é melhor do que andar sozinho na luz."
- Helen Keller

Neteyam

Eu sempre amei a sensação de voar; gostava da liberdade oferecida em um ato tão simples. Mas, nos últimos anos tal sentimento não me era permitido; eu sempre deveria estar focado e estar no aguardo, nunca relaxado, e tudo isso era culpa deles.

O povo do céu havia voltado para destruir tudo o que tínhamos. Nosso lar e nosso povo estavam em perigo, e nós estávamos fugindo. O guerreiro que meu pai havia criado não aceitava isso; deveríamos lutar até o fim. Porém, o filho que a minha mãe criou entendia perfeitamente a necessidade de proteger nossa família acima de tudo.

Eles queriam nos proteger e...

- Estamos chegando, se preparem - meu pai nos alertou, interrompendo meus pensamentos.

O alerta do meu pai foi o suficiente para me libertar de meus devaneios. Havíamos feito pausas significativas no decorrer da viagem, mas agora, ao olhar para baixo, a visão de awa'atlu me trouxe de volta ao presente. A água cristalina e a estrutura exótica me fizeram desejar visitar as vilas em qualquer outra circunstância.

À medida que nos aproximávamos da vila principal, um vibrante som emitido por conchas enormes atraía metkayinas, que formavam, aos poucos, uma multidão. Assim que nossos ikrans pousaram os cochichos começaram a ser perceptíveis.

" Eles são tão magros.."

" Que braços finos.."

" Como eles nadam com isso?"

" Eles são estranhos.."

Antes que eu percebesse, meus punhos já estavam fechados e meus olhos estreitados. Mas não era momento para isso.

Ainda não.

Um jovem metkayina saiu de dentro da multidão; seus olhos azuis nos analisavam com um misto de curiosidade e desdém. Nós fizemos sinal de respeito, mas ele apenas nos encarou.

Olhando ao redor, uma jovem garota metkayina que saía da água chamou a minha atenção. Ela era inegavelmente bonita, e certamente Lo'ak concordava comigo, o mesmo estava vidrado nela de uma forma que chegava a ser indecente. Ela repreendeu os outros dois com um comentário antes de se virar para nós, oferecendo um sorriso acolhedor.

Não demorou para que o Olo'eyktan, Tonowari, chegasse. O mesmo se destacou na multidão, sua figura imponente e musculosa parecia dominar o espaço que o cercava. Sua presença transmitia autoridade suficiente para silenciar os metkayinas ao seu redor. Mas o meu pai já havia nos alertado de que nossa preocupação não era ele e sim Ronal, a Tsahìk dos metkayinas, que veio logo em seguida. As histórias são de que ela é uma mulher muito séria e rígida.

- Eu vejo você, Tonowari, Olo,eyktan dos metkayinas.

- Eu vejo você, Jake Sully.

Então, a conversa entre os adultos havia começado, mas eu definitivamente não estava prestando atenção. O rapaz de antes não parava de me encarar como uma presa e chegava a ser desconfortável, eu podia sentir seus olhos azuis me analisando. Não seria errado se eu fizesse o mesmo, certo?

Marés do Destino Onde histórias criam vida. Descubra agora