O Mar De Desamparo

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O silêncio se fazia absoluto na vasta extensão da noite, interrompido apenas pelos murmúrios insidiosos de Madara que ecoavam em minha mente, reverberando como um cântico de loucura

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O silêncio se fazia absoluto na vasta extensão da noite, interrompido apenas pelos murmúrios insidiosos de Madara que ecoavam em minha mente, reverberando como um cântico de loucura. Cada sussurro seu era um punhal cravado em minha sanidade já tão frágil. Jogada na cama, o corpo exausto e a alma exaurida, refletia sobre a futilidade da noite anterior, onde me entreguei aos vapores etílicos na vã tentativa de obliterar o caos interior. Agora, na crua luz do dia, a realidade se erguia diante de mim, implacável.

O esconderijo, vazio e opressivo, refletia meu próprio desamparo. Não havia ali vestígio de vida além do meu corpo jogado sobre os lençóis, um reflexo cruel da minha solidão. A tentativa de afogar minhas dores no álcool foi infrutífera, e agora me encontrava sozinha, completamente desprovida de amigos. A lembrança de minha irmã, o sangue compartilhado transformado em ódio, me assombrava. Madara, havia me usado como um peão em seu jogo cruel, levando-me a tentar contra a vida dela. E agora, até Mitsuki, o único que outrora foi minha âncora, havia me traído. Ele, que esteve ao meu lado nas horas mais sombrias, agora estava ausente, um traidor que se voltou contra mim após conseguir o que queria, eu me sentia enojada comigo mesma, entreguei meu corpo sem mais nem menos.

A exaustão era uma companheira constante, um peso insuportável que me impedia até mesmo de derramar lágrimas. Estava tão esgotada, tão consumida pela dor, que chorar se tornara um luxo inacessível. Cada pensamento era uma tortura, uma reflexão amarga sobre meu estado deplorável. O que eu faria agora? Orochimaru já havia morrido, e Mitsuki, que antes era meu sustento emocional, havia virado as costas. Sentia-me fraca, inútil, e o ódio por essa fraqueza corroía cada fibra do meu ser.

O último mês foi um labirinto de desespero, saltando de esconderijo em esconderijo, tentando fugir de um inimigo que vivia dentro de mim. A notícia de que os demais do esconderijo também haviam partido foi o golpe final. Estava sozinha, completamente abandonada. Meu cansaço psicológico era um fardo esmagador, e a sucessão de abandonos havia erodido qualquer resquício de confiança na humanidade. Os dias passavam como um borrão indistinto, uma luta constante para impedir que Madara tomasse o controle. Quando ele finalmente silenciou, deixou para trás um rastro de caos.

Desamparada, encontrei-me no topo de uma torre, uma sentinela solitária na vastidão do inverno. A neve caía incessante, cobrindo o mundo com seu manto branco e gélido. Estava encostada na grade do terraço, observando a vilinha abaixo que fiquei passageiramente, onde um festival se desenrolava. A alegria das celebrações era um contraste cruel com minha desolação. A torre sombria, abandonada e fria, refletia o estado do meu coração. O frio exterior era insignificante comparado ao gelo que me consumia por dentro.

Depois de tanto tempo, as lágrimas finalmente vieram, silenciosas e inexoráveis. Elas escorriam pelo meu rosto como um rio calmo, sem som, sem soluços. Mordi o lábio rosado, sentindo o gosto metálico do sangue. Minha pele, mais pálida que o habitual, contrastava com a escuridão ao meu redor. A vista da torre era bela, mas essa beleza parecia uma ironia cruel diante da vida que se desdobrava abaixo, uma vida que eu não mais reconhecia como minha.

Cada lágrima era um testemunho da minha dor, um símbolo da angústia que consumia minha alma. A beleza da vida estava além do meu alcance, uma visão distante que eu observava de cima, incapaz de participar. Estava presa em minha própria torre de solidão e desespero, enquanto o mundo seguia em frente, indiferente à minha agonia.

O que me restava agora? A batalha interna continuava, um confronto incessante contra a voz de Madara e a escuridão que ele semeou em meu coração. Estava perdida, sem um caminho claro à frente, desprovida de esperança e sem ninguém em quem confiar. Naquele momento, compreendi a profundidade do meu isolamento, a verdadeira extensão da minha tragédia. A beleza do mundo abaixo não era para mim. Eu era uma sombra, uma existência marginal, condenada a observar e sofrer.

Envolta em minha capa negra que arrastava pelo chão e com o capuz ocultando minha cabeça, desci a escadaria da torre. Não era pelo frio que vestia tal manto, mas pela necessidade de esconder o estado deplorável em que me encontrava. As olheiras profundas e o rosto inchado de choro denunciavam minha fraqueza, uma fraqueza que eu não permitia ser vista. Nessas horas, a saudade de minha mãe se tornava um fardo insuportável, mas ela estava distante, inacessível. A solidão era uma companheira constante, mesmo em meio à multidão, sua presença era avassaladora.

Adentrei um bar, um refúgio momentâneo onde a escuridão do meu espírito poderia se ocultar. Pedi vinho, a única bebida que conseguia consumir sem que meu corpo rejeitasse. Garrafa após garrafa, mergulhei em meus pensamentos, tentando afogar as vozes que me assombravam. Treze garrafas depois, estava profundamente embriagada e absorta em minha miséria, quando a televisão do bar capturou minha atenção.

Uma cerimônia em Sunagakure se aproximava, a nomeação do novo Kazekage. Meu coração quase parou quando vi Shinki sendo entrevistado. O tempo havia sido generoso com ele; estava tão diferente, tão maduro, bonito, muito bonito, ele seria o significado de homem perfeito. O orgulho inflou meu peito ao saber que, em dois dias, ele seria oficialmente o Kazekage. Apesar dos anos de silêncio entre nós, minha admiração e torcida por ele nunca diminuíram. Desejava, ainda que à distância, assistir à cerimônia. Não pretendia falar com ele, mas minha presença seria uma forma silenciosa de desejar-lhe felicidade.

Enquanto a entrevista prosseguia, o repórter perguntou a Shinki se Sunagakure teria uma primeira-dama. Algo desconhecido e violento se agitou dentro de mim. Nem mesmo as insinuações de outras meninas sobre Mitsuki haviam provocado tal reação em anos. Shinki respondeu que estava disposto a ir até o inferno para garantir que a tal garota que ele não disse o nome aceitasse. Segundo ele, seu coração já tinha dona há anos.

Meu sangue ferveu. Quase instintivamente, cruzei os braços e comecei a amaldiçoar a garota que nem conhecia em mil línguas diferentes. Ciúmes? Eu? Não podia ser. Não podia permitir tal vulnerabilidade.

Ainda assim, o desejo de ir à cerimônia permanecia. Não falaria com Shinki, mas vê-lo seria suficiente. Seria tão ruim assim? A ideia de vê-lo receber aquela honra, mesmo sem interação, era um alento para meu espírito destroçado.

Levantei-me com dificuldade, eu estava extremamente embriagada, sempre fui muito fraca para bebida, usei meu chakra para tentar ficar consciente e agir com lucidez, a determinação renovada. Tinha que chegar a tempo. A jornada seria árdua, mas me esforçaria para estar presente. Ver Shinki se tornar Kazekage seria um lembrete de que, apesar de tudo, algo ainda podia prosperar e florescer.

𝐎 𝐒𝐀𝐍𝐆𝐔𝐄 𝐔𝐂𝐇𝐈𝐇𝐀Onde histórias criam vida. Descubra agora