Capítulo um - Vida na vila

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Talvez morar em uma vila não seja tão interessante como muitos pensam. É a mesma rotina cansativa de sempre, embora tenhamos muitas vantagens como a boa vizinhança, o espaço e a segurança, não se compara com a experiência de viver na cidade.
Lembro de ouvir os relatos da Sra. Hilda nas tardes de quinta-feira, embaixo da árvore viva a qual sua sombra encobria todo lago azul de tão alta que era.
Era a maior árvore da vila de além, e o nosso ponto de encontro.
É lá onde os moradores mais antigos costumam contar as mesmas histórias, as quais fazem questão de relambrar o quanto é necessário para mantermos nossa tradição.

Sinceramente poderíamos pular essa parte, me pouparia de ter que ouvir Elizabeth se gabando pela milésima vez por ser neta de Ellie Jones. Uma das mulheres mais destemida de todos os tempos. infelizmente não se encontra mais entre nós, Ela se foi há um bom tempo, não entram em detalhes de como aconteceu, mas podemos imaginar.
Mesmo que não tenha chegado a conhecê-la, ela foi muito importante para nosso povo, Não me canso de ouvir sobre como era corajosa e gentil. estará sempre em nossos corações.

Diferente de sua avó, Elisabeth é soberba, não perde a oportunidade de querer humilhar alguém da vila ou de usar o nome de Ellie para benefício próprio (mesmo sabendo que isso não irá acontecer).
Eu não descarto a ideia de estar disposta a repreendê-la sempre que vejo que está prestes a fazer algo estúpido assim.

- Ela nunca cansa? - Sussurrou Anya, depois de levantar a cabeça que estava apoiada em meus ombros e se inclinado para falar ao mais perto do meu ouvido. É minha irmã caçula de dez anos, e apenas dois anos mais nova que eu.

- Xiu! - respondi fazendo um sinal de silêncio com a mão na boca e olhando ao redor para certificar de que ninguém tenha escutado.
- se não quiser ser proibida de ir a celebração, é melhor retirar agora o quê disse sobre a senhorita Elizabeth . - Disse num tom ironizado, trazendo sua cabeça para meu colo.

- Ela ri. - não está mais aqui quem falou - disse fechando seus olhos largos e brilhantes como o sol, enquanto eu acariciava seus curtos cabelos encaracolados cor de castanha.

O momento mais aguardo. Sra. Hilda então se levanta sacudindo seu vestido branco com bolinhas pretas que faltava pouco para ser arrastado pelo chão todo vez que desse um passo. parecia que ela encolhia cada dia mais. Nessa hora não existe tristeza, dona Hilda arranca risadas sinceras de todos, o quê se não é difícil com aquelas caretas.
Ela morou na cidade durante cinco anos, precisou por causa do trabalho na prefeitura, parecia ser assistente, não sei ao certo.
Por problemas de saúde, voltou para vila para se cuidar melhor, mas conta como é as coisas lá e como as crianças podem ser crianças, diz que os risos e os gritos de felicidades estão até hoje em sua mente.
É nítido o receio que tem de entrar em detalhes, pois sabe que nossa realidade é dura comparado com a dessas crianças, mas não podemos negar o quanto adoramos ouvir ela falar com tanta paixão sobre a cidade e poder sonhar com algo assim para nós.

Não é algo de outro mundo, não vamos à cidade com tanta frequência, não precisamos. Temos tudo aqui. Escola, médico, comércio. O problema é que para isso nós pagamos um preço maior.
Pela manhã temos aula com a Clarice em uma das casinhas de madeira da vila, próximas ao riacho que foi separada somente para isso. Foi com ela que aprendemos a ler e escrever.
Logo depois é separado um grupo para ir próximo ao poço, pois é lá onde Omar o médico da vila ensina técnicas de primeiros socorros, remédios caseiros e outro bando de coisas. Normalmente o restante costuma ir para suas casas, eu mesma, por exemplo, volto para casa e vou direto para os afazeres, fico responsável por buscar a água no poço e manter a casa em ordem. Dessa forma temos limite e organização na vila e em nossas casas.
Acaba sendo apenas muito exaustivo, mas seguimos em frente.

- isso ai pessoal, está na hora de ir. - interrompeu o Sr. Leôncio, esposo de Hilda. Batendo leve palmas, e ajudando eu e Anya a levantarmos.

- obrigada! - Anya agradece com um leve sorriso.

- Blém, Blém - ouvimos um barulho vindo dos arredores da vila.

- É o sino! - falamos todos ao mesmo.

Toda noite as 9horas ele toca indicando que precisamos estar em casa nos preparando para dormir. Nunca ocorreu de dá o horário e ainda estarmos na árvore viva, sempre terminamos antes. Mas nos empolgamos um pouco, A Sr. Hilda, então, nem sequer percebeu o tempo passar contando sobre a cidade.

- Vocês estão bem, meninas? - Perguntou o Sr. Leôncio.

- estamos bem sim! - respondi.

- A noite está fria. Acabei esquecendo meu casaco em casa. - continuei, me aproximando de Anya e esfregando as mãos nos braços para tentar me aquecer.

- está mesmo, Ande. Vão, vão logo para não acabar pegando um resfriado. - disse Sr. Leôncio.

- Amanhã será um longo dia, vê se não esquece da próxima vez hein. - disse A Sra. Hilda aparecendo por trás do Sr. Leôncio.

- pode deixar! Tenham uma boa noite.- respondi, baixando levemente a cabeça em sinal de reverência.

Nos despedimos do restante do pessoal, e seguimos para casa.

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