capítulo três - novo projeto

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   Não me recordava desse lado da vila ser tão enfeitado assim. Havia balões amarrados em linhas estiradas no chão prestes a serem colocados de um lado a outro da vila, luzes piscando como vaga-lumes iluminando as varandas das casas e fitas coloridas trançadas.
Pelo chão, havia caixotes cheios de vasos, quadros, livros e outros objetos antigos, mas que por algum motivo me parecia ser de grande valor.
Eu e Anya paramos ao lado da casa da Sra. Griselda enquanto observamos toda a agitação, até que ouvimos algo se aproximando.

— Ei, Ande, Anya. Me ajudem aqui! —Exclamou Sra. Griselda, saindo de trás de sua casa.
Parecia cansada, estava ofegante e enxugava o suor que escorria por seu rosto no avental branco que usava por cima de seu vestido marrom com lindos botões pretos na frontal. Carregava com si três caixotes cheios um por cima do outro.
Anya e eu corremos para ajudá-la, retiramos cada um caixote de sua mão.
Ela apontou para frente, onde estavam os outros. Então, seguimos, eu do lado esquerdo e Anya do lado direito da Sra. Griselda.

— Ufa! Que bom que chegaram! Estava morta. Já é bem a quarta viagem que dou com esses caixotes cheios. — disse sorrindo, olhando para mim e Anya.

— Mas para quê tudo isso, afinal? — Questionou Anya.

— Para o maior evento de todos. Esse ano vai ser diferente, fomos avisados.

— Diferente de quê, avisados por quem?

— Ora, Anya, não posso crer que já tinha se esquecido da nossa celebração. — disse Sra. Griselda enquanto colocamos os caixotes no chão ao mesmo tempo.

Nessa hora, me perco totalmente da conversa entre Anya e Sra. Griselda. Estava ocupada demais, olhando fixamente para a saída da vila, especificamente para a primeira casa. Já não morava mais ninguém ali, e é doido pensar que sinto arrepios e uma vontade inexplicável de chorar sempre que estou perto dessa casa. Não tenho relação nenhuma com ela, muito menos com os antigos moradores, nem cheguei a conhecê-los, as pessoas da vila não falam disso e até hoje não tive coragem de perguntar à Sra. Griselda já que ela é a única que se abre comigo, mas não quero abusar de sua boa vontade e em insistir em certos assuntos. Deve existir um motivo para tudo isso.

O Sr. Leôncio, com mais outros três homens da vila, estavam esvaziando a casa. Do lado de fora já estava cama, penteadeira, um sofá e em cima deles três quadros, bem empoeirados por sinal. Havia um cobertor laranja para tentar disfarçar, mas isso era impossível. Os quadros me chamaram a atenção, suas molduras eram diferentes, lindas. As cores alternavam entre um marrom-claro e escuro e, devido ao reflexo do sol com a poeira, estavam brilhantes como diamantes. As suas pinturas passavam o ar de solidão, como se as três tivessem uma mensagem ali (e elas realmente tinham, sempre têm) e era muito confortante ao mesmo tempo.
Automaticamente imagino como seria morar dentro deles.
A vontade era de ir até lá, perguntar por qual motivo estava tirando os móveis para fora e claro, ver os quadros de mais perto, porém hesito logo após escutar a voz da Sra. Griselda me chamando, tornando-a cada vez mais próxima e alta.

— Ande, Ande. Alô, estou falando com você!

— Claro, Senhora. Estou ouvindo. — respondi, virando-me para ela.

— Seria possível relembrar sua irmã aqui, o que seria a celebração.

— Bom Anya a celebração é um evento que ocorre durante um dia a todo ano na vila, na qual o prefeito da cidade com seus parentes que chegam do exterior visitam e desfrutam do que é do nosso esforço, fingem anotar coisas que aos olhos deles precisam ser melhorados aqui, vão embora e nunca mais dão sinais, fim.

— Nossa, isso é... — Anya para de falar após ser interrompida pela Sra. Griselda.

— Dessa vez, o prefeito mandou avisar que será diferente, disse que um novo projeto está por vir.
Esse é o motivo dessa bagunça toda, vamos poder trocar nossos objetos por dinheiro e provavelmente pessoas ricas novas virão, por isso decidimos enfeitar a vila.

Deixa só eu ver se entendi, o prefeito que durante anos passou se aproveitando do povo da vila, sem ajudar no que realmente devia. Decide criar um projeto e precisa dos mesmos para isso, sendo que esse projeto provavelmente não agregará em nada na nossa vida. É, isso é confuso para mim.

— É melhor entrarmos para comer algo. Já estou com fome. Vocês já tomaram café da manhã?

— Não. Viemos justamente por isso. — respondeu Anya, seguindo a Sra. Griselda para dentro de casa.

— Ótimo. Deram sorte, preparei um bolo de banana delicioso.

Humm, o bolo de banana da Sra. Griselda é realmente delicioso. Minha boca encheu-se de água em só ouvir falar dele.

— Não demorem muito para não se atrasarem para a aula. Eu precisarei de vocês mais tarde. Vão ter a missão de escolher as flores mais belas do jardim para a decoração.

— Pode deixar. — respondi com a boca cheia, logo em seguida tapando-a com a mão. A Sra. Griselda ri.

— Por favor, convidem Nélia e Hillary para virem também. — continua.

— Faremos isso sem dúvidas — disse Anya.

Continuamos a tomar café da manhã enquanto a Sra. Griselda decide contar mais uma de suas histórias até dar o horário de irmos para a aula.

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⏰ Última atualização: Aug 07 ⏰

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