CAPÍTULO 2

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Ao acordar Marina se sentia ainda mais cansada do que quando foi dormir, o que não era novidade, uma vez que isso já vinha acontecendo a mais tempo do que ela poderia se lembrar. Aparentemente após anos dormindo de três a quatro horas por noite estava cobrando seu preço e ela tinha plena ciência de sua culpa nisso, porém, ainda sentia certo desgosto enquanto se levantava para começar seu dia.

O primeiro passo do seu dia era sempre colocar o café para passar, antes mesmo de seu cérebro estar funcionando completamente a água já estava no fogo fervendo. Depois de tomar banho e se vestir tirava um tempo para olhar seu telefone. Naquele dia se arrependeu disso ao ver três ligações perdidas do Coronel.

Se tratando de qualquer outra pessoa, normalmente, três ligações não eram muito, porém, se tratando do Coronel, três ligações era sempre coisa grande, por isso pegou sua xícara com o café intocado e despejou o líquido quente na pia, saindo de seu apartamento em passos rápidos após recolher sua arma. 

A garagem do prédio estava vazia e quando entrou em seu carro colocou a chamada no viva voz, já acelerando em direção ao trabalho.

— Vai ter operação hoje no Jacarézinho, já vem preparada que recebemos informação que vai chegar uma carga grande pela madrugada.

"Já vem preparada" significava que ficaria em plantão, teriam que estabelecer toda a estratégia para entrar na favela porque todo a bandidagem esperaria por eles armados até os dentes, portanto, não era uma opção estarem despreparados e correrem o risco de perder homens.

— Estou a caminho já, chego aí em vinte.

Eram nove horas da manhã, o trabalho não ficava muito distante de sua casa mas o trânsito estava tão ruim quanto todos os outros dias no horário de pico e o fato de sequer ter conseguido cumprir seu rito matinal deixava Marina um pouco mais estressada do que gostaria.

Ao estacionar o veículo ainda ficou cinco minutos dentro dele, criando coragem para entrar no prédio. O dia estava já estava agitado, alguns soldados andando de um lado para outro, o operacional já estava funcionando e ela só teve tempo de largar suas coisas em sua sala antes de ser convocada para uma reunião.

— Bom dia, garotos.

— Ótimo dia, Capitão. Ótimo dia. – olhou para Gustavo Mendes, aspirante, de canto de olho, seguindo até a primeira cadeira vazia que achou.

— Está felizinho, Mendes. Vamos ver se quando o pipoco estiver comendo solto ainda vai estar com sorriso no rosto.

— Os meninos estão animados, fazia tempo que não pegávamos nada no Jacaré. – Coronel explicou, recebendo apenas um olhar cético da mulher pela justificativa. Não era um playground para estarem animados em visitar, mas não entraria nesse tópico.

— Não sei nem se isso é bom ou ruim, dada as circunstancias de como são as coisas lá. Abre o mapa pra eu ver.

Com o mapa aberto em sua frente se inclinou um pouco pra frente, analisando as ruas. Pegou uma caneta largada na mesa e circulou alguns pontos enquanto o Coronel voltava a falar.

— A informação que tivemos é que vai chegar pela ponta, vão subir de madrugada que o movimento está menor, carga grande.

— A gente tem que entrar vindo pela Maria da Graça, vai ser mais seguro se entrarmos de duas equipes, uma pela esquerda e outra por aqui. Dá menos chance deles fugirem e ainda conseguimos encurralar eles aqui. – apontou para o mapa, onde tinha circulado o topo do Jacarézinho, onde a maioria dos becos terminavam.

Pela primeira vez desde que entrou a sala notou quem estava ao seu lado direito, de braços cruzados, rosto sem expressão mas aparentemente desconfortável o suficiente para se remexer na cadeira após Marina finalizar a rota que fariam.

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⏰ Última atualização: Jul 15 ⏰

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