Capítulo 2

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Maya

— Que inferno, puta que pariu. — Tomás murmura assim que passamos pelos portões.

— Não foi exatamente como eu estava esperando — acrescento, descansando a cabeça no encosto do banco e fechando os olhos.

Tomás dá um riso seco, enquanto apoia os antebraços no volante.

— Não foi pior do que eu estava esperando — Ele diz, mexendo nos controles do carro até que a rádio começa a tocar. — Eu não acredito que a gente fez isso. E pior: funcionou.

— Eu já me arrependi. Como nós podemos ser tão... Meu Deus. Seu pai perguntando sobre o meu. Como a gente não pensou nisso? — Dou um tapinha na minha própria testa pelo meu raciocínio atrasado.

Dessa vez ele gargalha, estalando os dedos de uma mão contra a própria perna.

— Exportação...

— Ah, claro. Porque seria incrível eu meter um "Então, meu sogrinho, o meu papai trabalha levando carga roubada pra fora do país e de quebra lavando um dinheiro. Legal, né? Por que a gente não aproveita e vai fazer uma visitinha pra ele? Você pode levar a polícia federal com você. Que tal?".

Tomás ri mais alto, apoiando a cabeça no banco e soltando as mãos do volante por um momento para cobrir a boca.

— Quase esqueço que você é tipo o Michael Corleone mulher — diz finalmente, respirando fundo — Que clichê.

— Sim, claro — Eu rio também. — Não exagera, além de que eu não falo com o meu pai há séculos. E eu não tenho um mundaréu de mafiosos indo pra todo canto comigo, só você.

— Que honra — Ele groceja depois que para de rir, apoiando o queixo no volante. — A gente devia ter criado um roteiro melhorzinho.

— Devia — Digo com pesar — Eu fiquei repassando e repassando o papinho de católica devota só pra chegar lá e ele não perguntar nada sobre religião.

— Eu achei que pelo menos ele iria perguntar se você vem de uma família que respeita os bons costumes — continua — Pelo menos você conseguiu se passar pela humilde que faz trabalho voluntário.

— Ei, ei — Eu o corto, dando um tapa no braço dele. — Não faz parecer que eu menti. Eu realmente faço.

— Eu sei, eu sei— Ele mordisca a boca — Só tô falando que aquele seu jeito humilde te ajudou a parecer mais boa samaritana ainda pra ele. Ele deve ter adorado. Pena que você não disse ser casada com Deus.

— Até porque eu tenho certeza que todos os dias ele pensa em como adoraria ter uma nora católica e boa samaritã.

— Claro! Pra impressionar toda a rodinha de velhos jurássicos que ele tem no círculo social, né? — Estala a língua. — Eu adorei como ele reagiu quando eu falei do lance do violão.

— Poxa, Tomás, eu toco piano e você me vem falar de violão? Cruzes. Mas imagina eu tocando um Hosana Nas Alturas com um vestidinho todo modesto?

— E véu na cabeça — Tomás concorda, batendo os dedos no volante, rindo — Nossa. Vou ter pesadelos agora.

— Acho que eu devia comprar uma saia até os pés nova e uma blusa cheia de babados pra usar da próxima vez que eu ver os seus pais — provoco — O que você acha?

— Não, meu Deus, não — Ele finge uma expressão de horror. — Minha mãe ia ter um treco só de olhar pra você.

Eu quase tive um treco só de olhar para ela. Já havia visto a mãe de Tomás com ele em fotos, mas pessoalmente ela é muito mais... Intimidante. Parece capaz de ler tudo a respeito da sua vida só pela maneira com a qual você pisca.

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