Erupção?

50 6 0
                                    



— Peônias rubis! — Erza exclamou, como se suas palavras dispensassem qualquer outro tipo de explicação.
O que elas não faziam.
Ao menos, não vieram sozinhas, mas acompanhadas do folheto que a ruiva praticamente enfiou sob os narizes de Lucy e Natsu, ambos sentados em uma das mesas da guilda, onde haviam passado o último par de horas atando os laços dourados das caixas que comportariam as lembrancinhas do casamento.
Correção: Natsu tentava e Lucy corrigia suas empreitadas fracassadas. Não que tal fato, que a estressara absurdamente nessas duas horas — assim como ser obrigada a desenvolver atividades decorativas com quem vinha tentando evitar ultimamente —, fosse relevante agora.
O que importava, aparentemente, era o anúncio de uma floricultura de Rosegarden, que dava sentido às palavras de Titânia.
— "Para a noiva sofisticada: o vermelho perfeito, nunca visto, tão precioso como uma joia, disponível em uma flor" — apanhando o folheto, a maga estelar recitou as palavras cafonas nele escritas, para depois contemplar a imagem da modelo vestida de noiva rodeada por grandes e reluzentes flores vermelhas.
Enquanto Natsu permitia a morte de seu interesse na razão da aparição repentina da maga de armadura antes mesmo do término da leitura, Lucy sentiu o corpo tensionar, imaginando exatamente onde aquilo acabaria.
— Eu preciso ser uma noiva sofisticada! — a ruiva declarou, de forma obstinada.
— Nós já encomendamos as flores do seu casamento, Erza! Não dá para alterar os pedidos e os fornecedores faltando menos de duas semanas da cerimônia — vendo seu temor se concretizar, Lucy argumentou, desesperada, enquanto Natsu, que sabia melhor que ninguém o quanto a maga classe S odiava ser contrariada, sabiamente escapava para outra mesa.
Um observador mais atento perceberia, inclusive, a escassez de membros masculinos da Fairy Tail no raio de algumas mesas, iniciada de imediato após a chegada de Titânia.
— Elas não são para decoração! São preciosas demais! — Erza corrigiu, como se o fato fosse óbvio. — São para o meu buquê! — acrescentou, empolgada.
— Oh, o buquê! — Lucy exclamou aliviada, sem se importar com as nove horas que gastaram na semana anterior para decidir que lírios seriam uma escolha perfeita, descartadas como se fossem nada. Porque claro, o buquê não era algo tão difícil de se trocar.
— Mirajane entrou em contato com eles e negociou o fornecimento de um buquê. Eu serei a primeira noiva da história a usar as peônias rubis, que são a última criação dessa floricultura, em troca de eles divulgarem tal fato e as fotos do casamento para publicidade — contou, exultante.
A maga estelar se absteve de comentar a conveniência da publicação de um anúncio tão apelativo às vésperas do casamento da maga guerreira mais famosa do reino com um ex-criminoso anistiado pela princesa, que vinha atraindo a atenção nacional, assim como tinha certeza que Mirajane fizera.
Afinal, mudar um buquê não era grande coisa, se significava manter a felicidade de Erza e a incolumidade física de todos ao redor. Até porque, as flores rubras ficariam bem em combinação com o cabelo da noiva, tinha que admitir.
— Que ótimo! — limitou-se a declarar, demonstrando empolgação.
— De fato — a ruiva concordou. — Por isso preciso que você e Natsu viajem até Rosegarden para buscar o buquê.
Claro, não poderia ser tão simples e a loira se recriminava por ter acreditado que sim.
— Por que eles simplesmente não enviam o buquê para cá, como todos os outros fornecedores de flores farão? — arriscou-se a perguntar.
— Oh não, Lucy! As peonias rubis são encantadas, porém, com um feitiço muito sensível! Elas podem durar semanas em perfeito estado, desde que permaneçam a salvo de movimentos bruscos e de recipientes fechados.
A maga estelar encarou a ruiva por alguns instantes, no intento de processar se havia compreendido corretamente.
— Se entendi direito, você está pedindo que Natsu e eu busquemos seu buquê em Rosegarden. A pé — enfatizou a última parte, apenas para ver se a ruiva assimilaria o absurdo de sua requisição.
— Bem, apenas a volta necessita ser a pé. — Aparentemente não.
— O Natsu, de todas as pessoas. Especialista em destruir qualquer coisa que possa ser destruída — insistiu, tentando desencorajá-la porque, Mavis sabia que ela não queria caminhar um percurso tão longo e, pior, na companhia do dragon slayer do fogo.
Viajar e acampar com Natsu poderia não ser um problema antes, mas era demais exigir que ela continuasse agindo normalmente quando ficassem à sós, uma vez que, em uma de suas últimas interações nesse contexto, ele havia prometido que o filho dele, um dia, cresceria na barriga dela.
E tentado veementemente colocá-lo lá.
— Bem, os fornecedores me alertaram que essa espécie encantada vem chamando muita atenção após o surgimento de um rumor que supostamente possui propriedades de cura milagrosas e, como eles só tem algumas unidades disponíveis, por enquanto, me orientaram a providenciar a segurança no transporte — explicou. — É aí que o Natsu entra. E também no fato de ser o nosso andarilho mais ágil, graças à sua limitação com veículos em geral — divagou.
— Mas não necessariamente precisa ser eu a acompanhá-lo — a loira tentou. — Veja, eu sou uma das damas de honra, tenho centenas de lembrancinhas para terminar e muitas outras tarefas — lembrou, apontando para as caixas que vinha trabalhando.
— Está brincando? — Erza contestou. — Que outro mago além de você conseguiria manter essas flores à salvo com Natsu por perto? Todos sabem que você possui mais afinidade de trabalho em dupla com ele — explanou. — Além disso, como os outros membros do nosso time, você está habituada ao ritmo de caminhada dele, o que vai garantir que cheguem a tempo. Por isso, está dispensada dos deveres de dama de honra até voltar — decretou, colocando as mãos enluvadas sobre os ombros da companheira de equipe e adotando expressão solene, como se praticasse um grande favor.
— Talvez os outros membros do time... — a maga estelar fez uma última tentativa desesperada.
Com a paciência no limite, o semblante de Erza obscureceu.
— Eu sou a noiva; Gray está cuidando da namorada grávida; Wendy e Happy saíram em uma missão de aniversário. Você ainda vai me contestar? — A loira limitou-se a engolir em seco.
Foi assim que ela se viu a caminho, ao lado do mago do fogo, em busca do que ela esperava muito que fosse o buquê mais especial que contemplaria em vida, ou teria um surto, se toda aquela jornada, nas condições psicológicas em que se encontravam, servissem para nada.
Ao menos, lhe aliviava o fato de não ter que calcular o seu comportamento ao redor de Natsu no trajeto da ida, que felizmente pôde ser feito de trem, já que o próprio dragon slayer não poderia fazer qualquer outra coisa além de se concentrar o suficiente para não vomitar o próprio sistema digestivo. Isso não impediu, no entanto, que sofresse antecipadamente pela volta, a mochila de camping do dragon slayer, jogada nos assentos da frente, lembrando-a que, se seus cálculos estivessem corretos, dormiriam ao menos um par de noites, sozinhos, na estrada.
A viagem terminou muito depois do escurecer e, foi com afobação que Lucy ignorou todas as luzes, brilho e magia transbordante de Rosegarden, seu maior atrativo turístico, para correr até o hotel e se enfiar no primeiro quarto individual que reservou em anos, deixando para trás um Natsu indiferente à mudança de hábito repentina, o que a exasperava ainda mais.
Por que apenas ela estava tão perturbada, afinal?
Em que dimensão seria normal o dragon slayer prometer colocar um bebê em sua barriga, quando eles não eram nada além de colegas de quarto, de fato tentar cumprir sua promessa e seguir a vida como se nada tivesse acontecido?
As dúvidas ainda atormentavam a mente da maga estelar quando eles se encontraram para tomar o desjejum, na manhã seguinte, que se viu mais frustrada ao perceber o mago do fogo completamente descansado, enquanto ela exibia olheiras por ter passado a maior parte da noite acordada, sem conseguir se livrar de suas preocupações recentes.
E das lembranças aterradoras daquela noite.
Ao menos sua mente pôde se concentrar em outra coisa quando compareceram na floricultura, momentos depois, para retirar o buquê encomendado por Erza. Lucy tinha que admitir, o encanto que envolvia as flores, deixavam o vermelho que coloria suas pétalas com aspecto místico e etéreo. Definitivamente, um acessório que uma pessoa tão exuberante quanto Titania, sustentaria muito bem.
Sua distração, todavia, durou apenas até que começassem a caminhar o trajeto de volta, quanto a maga estelar tornou-se, novamente, hiperconsciente de cada movimento de Natsu ao seu lado.
Como se o fato de o dragon slayer caminhar, tranquilamente, com as mãos atrás da cabeça, fosse realmente digno de nota.
— Vamos ter que apertar o passo, se quisermos chegar num período razoável e impedir que Erza use esse buquê para esmagar nossas cabeças, por sua impaciência — após quase um dia de caminhada, Natsu observou.
— Pode parecer que não, mas essa coisa pesa — Lucy reclamou, movimentando os pulsos para aliviar o incômodo de sustentar o buquê durante todo o dia.
— Eu pensei que estaria mais descansada após passar a noite sozinha — o mago do fogo comentou, em tom despreocupado.
E se Lucy não tivesse certeza de estar conversando com a pessoa mais obtusa em sutilezas sentimentais que conhecera na vida, poderia jurar que aquilo havia sido uma alfinetada.
— A intenção era estar — respondeu, com rispidez. — Algum problema em querer descansar sozinha em um quarto, para variar? — perguntou, com irritação.
— Eu diria mais que é estranho, já que além de morarmos juntos, sempre dividimos quartos em missões, e você nunca mostrou ter problemas para descansar antes — o tom do rapaz parecia pender entre a confusão pela animosidade repentina da loira, e a obviedade das próprias palavras, o que apenas a enfureceu ainda mais, por ser a única a demonstrar alteração em seu comportamento.
Seu furor, no entanto, teve que esperar.
— Estamos cercados — Natsu declarou, de supetão, estacando no meio da estrada e estendendo o braço diante dela de maneira protetora.
Lucy grunhiu, revoltada.
É claro que eles seriam atacados e a missão dada por Erza incorreria em todas as hipóteses de dificuldade previstas.
Levou segundos para que eles fossem cercados por cerca de uma dezena de magos, todos com expressão de diversão sádica.
— Você poderia passar isso para cá, docinho? — o bandido careca e atarracado que havia tomado a dianteira, solicitou, olhando para Lucy com zombaria. — Fica bem na sua mão, mas vale mais no mercado negro.
— Um buquê de noiva? Sério? — a maga estelar troçou, segurando o objeto pelo cabo com ainda mais firmeza.
— A mocinha não imagina quantos ricaços moribundos venderiam todos os seus bens apenas pela possibilidade de cura — o malfeitor não esperou pelo fim de sua resposta para começar a atacar, sendo seguido de pronto pelos demais.
Lucy revirou os olhos. Eram todos fracos, ela podia sentir o nível baixo de poder mágico que emanavam. O desafio, na realidade, era manter o buquê intacto enquanto o protegia dos oponentes e de Natsu, que não era famoso por sua contenção em combate.
Firmando o buquê apenas com a mão esquerda, a loira apanhou seu chicote com a direita, ativou o Fleuve Étoilé e, girando o braço, manteve o fluxo dourado circulando ao redor de si, para manter os inimigos longe, ao mesmo tempo que corria pelo campo de batalha, para evitar as labaredas de Natsu e os feitiços dos magos contra quem ele lutava.
— Áries! — gritou a maga estelar, que logo em seguida, invocou o star dress do mesmo espírito, sem sequer vacilar na manobra que executava com o Fleuve Étoilé — Mantenha-nos a salvo, mas em hipótese nenhuma envolva o buquê com sua lã — orientou, lembrando-se da orientação de Erza a respeito da sensibilidade do feitiço que envolvia as flores a recipientes fechados.
— Sumimasen! — com seu jargão característico, o espírito do carneiro sinalizou compreender a ordem de sua contratante e passou a bloquear com suas nuvens rosas, qualquer magia perdida que fosse na direção dela.
A própria Lucy invocou bolos de lã quando a defesa de Áries era perfurada, o que se mostrava difícil com um buquê numa mão e o chicote na outra, mas como esperado, a batalha não durou muito, terminando com um rugido de fogo poderoso de Natsu, que varreu os inimigos ainda de pé para longe.
No resto do dia, aproveitando a luz que ainda tinham, os dois magos da Fairy Tail se afastaram tanto quanto podiam do ponto de batalha sem correr, uma vez que a mercadoria transportada, sensível ao movimento, já havia sido exposta a um combate.
Quando finalmente pararam, próximos a um riacho, Lucy não pensou duas vezes antes de enxotar Natsu dos arredores, para que pudesse se lavar.
O próprio Natsu foi até o leito d'água para se limpar quando ela terminou, mas voltou rapidamente para encontrá-la sentada sobre o saco de dormir que havia estendido aberto, momentos antes.
— Não dá para caçar, porque não podemos acender a fogueira e correr o risco de uma fagulha destruir o buquê da Erza — explicou, enquanto se aproximava.
— Tudo bem. Podemos usar os suprimentos que pegamos em Rosegarden e conseguir mais amanhã, já que há algumas vilas no caminho — Lucy respondeu. — Por sorte, é uma noite clara — acrescentou, observando a lua cheia que se erguia gradualmente no horizonte, sem ignorar a guinada que sentiu em seu peito enquanto o dragon slayer se sentava ao seu lado.
Os magos não demoraram a se alimentar com as tiras de carne seca que haviam trazido, de modo que, cedo demais para o seu gosto, Lucy viu-se preparando para dormir.
— Talvez devêssemos fazer turnos de guarda — sugeriu, na esperança de evitar qualquer proximidade.
— Considernado os desafios que enfrentamos nos últimos anos, duvido que qualquer mercenário contratado ofereça grande problema — o dragon slayer desdenhou. — Além disso, em campo, eu acordo com facilidade — lembrou-a de seus sentidos aguçados. — Pode descansar tranquilamente, já que não dormiu bem na noite passada.
— Ok — concordou Lucy, aliviada apesar de tudo.
Com cuidado, a loira ajustou o buquê sobre uma manta que havia estendido previamente no chão, antes de deitar-se de lado no saco de dormir, voltada para o objeto que deveria proteger.
Segundos depois, Natsu acomodou-se atrás dela, passando um dos braços em torno da cintura, em um gesto familiar.
Apesar de apreciar o calor emanado pelo mago do fogo, especialmente por estar deitada a céu aberto, a maga estelar não conseguiu evitar de sobressaltar.
Contudo, o abraço de Natsu a manteve no lugar.
— O que você está fazendo? — guinchou.
— Deitando para dormir? — respondeu, confuso.
— Mas precisa ser assim? — insistiu ela, remexendo-se, incomodada.
— Não é diferente do que costumamos fazer — lembrou. — Além disso, assim eu a manterei aquecida — encerrou o assunto, tornando a se acomodar, sem oferecer indícios que afrouxaria seu aperto um milímetro que fosse.
Lucy engoliu em seco, mas tentou se ajeitar para dormir, ainda que estivesse rígida como um defunto.
— Você está com cheiro de casa — Natsu comentou casualmente, após alguns segundos.
— Isso é normal, já que moramos juntos — respondeu ela, sem dar muita importância ao significado daquelas palavras.
— Você tinha cheiro de casa muito antes disso, já que seu cheiro lembra ao da Anna-sensei — o dragon slayer contrapôs. — Mas não foi isso que eu quis dizer — continuou, antes de levar o nariz até a nuca da loira e inalar profundamente.
Naturalmente, Lucy sentiu o corpo estremecer com a ação e sobressaltou, sendo novamente impedida de afastar-se pelo braço forte de Natsu.
— O que diabos está fazendo? — censurou, estapeando o braço que lhe rodeava.
— Foi só para sentir melhor — o mago do fogo esclareceu. — O seu cheiro, sempre foi familiar. E o cheiro da floresta também, já que é o primeiro lugar que eu lembro de ter morado. Com Igneel — explicou. — Por isso, quando você toma banho em água natural, fica com um cheiro que parece ainda mais "cheiro de casa" — concluiu.
A maga estelar não conseguiu evitar que seu coração disparasse, antes a explicação extremamente infantil, porém, adorável, fornecida pelo dragon slayer.
E por mais que ela tivesse sentimentos mistos com em relação de a aproximação repentina de Natsu quando se conheceram, ter sido instintiva, para aproximar-se de um cheiro familiar que não se lembrava, não podia negar que o fato de isso, em outras palavras, significar que ele reconheceu a casa dela como um lar, desde o princípio, a comovia.
Se ela ao menos soubesse disso na época, teria ficado menos confusa e irada com todas aquelas invasões.
A quem ela queria enganar. Se a própria Anna tivesse aparecido para explicar o fato no primeiro dia em que Natsu invadiu seu apartamento, Lucy provavelmente teria corrido tão rápido quanto conseguisse na direção oposta, certamente interpretando tal realidade como fruto de mentes completamente malucas. Mas ali estava ela, calma e passiva, envolvida nos braços de Natsu, enquanto ele seguia inalando, pacificamente, em sua nuca.
Era preciso uma convivência longa, inusitada e turbulenta, como a deles, para que tal realidade fosse processada tranquilamente.
— Natsu? — ela finalmente chamou, após alguns minutos, porém ele apenas murmurou em resposta, sem mover o nariz do emaranhado de cabelos loiros. — Você também tem cheiro de casa — confessou, sentindo o rosto esquentar imediatamente em seguida.
Talvez seu corpo tenha esquentado também, dada a posição em que permaneciam. Ou quiçá isso fosse apenas reflexo da temperatura de Natsu, naturalmente elevada em razão de seus poderes.
O pensamento fez com que ela se tranquilizasse, pois se o calor adviesse dela, Natsu não saberia dizer em razão da própria temperatura, saberia?
Ela descobriu que saberia.
Depois daquela noite, a viagem transcorreu sem maiores intercorrências.
Aparentemente, a notícia da surra bem dada que Natsu deu no primeiro grupo de bandidos que tentou abordá-los, se espalhou dentre possíveis outros interessados, porque eles conseguiram chegar em Magnólia sem adentrarem qualquer outra luta, para intensa frustração do dragon slayer.
E por mais que Lucy não tenha tido a certeza que os dois dias e meio que caminharam e as duas noites de acampamento turbulentas foram inteiramente compensados pelo olhar brilhante que Erza ostentou no momento em que colocou as mãos nas peônias-rubís, a opinião da loira certamente mudou quando, quase duas semanas mais tarde, a viu sustentar as luxuosas flores contra o vestido de renda chantilly, enquanto caminhava pelo corredor ricamente decorado da Catedral Cárdia, em direção ao amor de sua vida.
Claro, nada chamava mais atenção que o casal protagonista daquela noite, e Lucy percebeu que mal tinha percebido as flores depois daquilo, seus olhos sempre acompanhando Erza e Jellal, onde quer que eles fossem. Foi assim, desde a cerimônia na igreja, até a grande festa de recepção na sede da Fairy Tail, onde Titania teve sucesso em arrastar o seu marido para uma série de danças lentas desajeitadas e, posteriormente, para algumas mais agitadas.
Suspirando, a loira jogou-se na cadeira de uma das mesas que ladeavam a pista de dança, sentindo todo o vigor ser drenado de si, após as semanas infernais como dama de honra, tendo energia apenas para apanhar uma taça de vinho da bandeja do garçom que passou ao seu lado.
Natsu, acomodado na mesma mesa, ainda aproveitando tudo o que o buffet tinha a oferecer, quando a maioria dos convidados já havia passado pela sobremesa há tempo, queria seguir seu exemplo em pegar uma bebida, mas vinho não estava no topo da sua lista de favoritos.
— Vem, vamos procurar algo para você beber — a voz gentil que Gray direcionou à Juvia, quando geralmente era seco e ríspido em público, fez com que Natsu erguesse uma das sobrancelhas, ao passo que Lucy novamente suspirou, dessa vez por outro motivo.
Longe de querer entender a fonte das divagações da loira, Natsu apenas seguiu os magos do gelo e da água, a fim de achar uma bebida para si próprio.
Foi quando o cenho do dragon slayer franziu novamente.
— Vocês vieram procurar suco? — questionou, um tanto impaciente.
Gray o encarou de maneira exasperada.
— Por que outro motivo teríamos saído da mesa, se Juvia pudesse tomar bebidas alcoólicas? Elas estão sendo servidas aos montes na pista de dança — o mago do gelo declarou.
— Ela não pode? — Dessa vez, Natsu parecia genuinamente confuso.
Gray piscou, encarando o companheiro de time como se ele tivesse algum problema mental — o que não era muito incomum, na verdade, após tantos anos de exposição às ideias estapafúrdias do outro —, ao passo que Juvia apenas dava uma risadinha.
— Grávidas não podem ingerir bebidas alcoólicas, Natsu-san — a maga da água explicou.
— Elas não podem? — o mago do fogo perguntou, surpreso.
— Não faz bem para o bebê — acrescentou Juvia.
O casal de magos esperava, sinceramente, que Natsu fosse descartar a informação com um estalar de língua, ou murmurar para fingir que ouviu antes de atacar novamente o buffet, porém de tudo que poderiam imaginar, certamente não previram o cenário em que ele voltaria correndo em direção à mesa, para arrancar a taça de vinho da mão de Lucy, com violência.
— Meus olhos devem estar me enganando — Gray murmurou, chocado demais para perceber que o copo de suco que vinha servindo para Juvia, naquele momento, transbordava em suas mãos.
De volta à mesa, os olhos castanhos arregalados de Lucy, direcionados à Natsu em razão do comportamento abrupto, não demoraram a estreitar-se em irritação.
— O que pensa que está fazendo? — a loira perguntou, ofendida com a tendência que Natsu tinha de querer controlar sua bebida.
Tudo bem, ela sabia que era uma bêbada trabalhosa, mas ainda estava muito longe de beber o suficiente para adotar o comportamento vergonhoso e excessivamente carinhoso da "Lucy Bêbada".
— Quantos deste você tomou? — indagou ele, ignorando a ira dela.
— Eu não vou fazer um número no casamento da Erza, Natsu! Eu tenho amor à minha própria vida — discursou, embora isso não fosse, realmente, um impeditivo. Todos sabiam que, casamento de Titânia ou não, em algum momento, no fim da noite, os membros da guilda estariam completamente loucos e provavelmente dormiriam espalhados pelo salão.
— Não é esse o problema — asseverou ele. — Droga, precisamos pedir para a Porlyusica dar uma olhada em você — decidiu, puxando-a pelo pulso.
— Porlyusica-san? — Lucy mostrava-se extremamente confusa, enquanto era arrastada para longe da pista de dança. — Natsu, o que diabos está acontecendo? Eu estou bem, por que incomodaria à Porlyusica-san? — fincando os pés para impedir que continuasse a ser puxada, questionou, tentando conter o arrepio que percorreu seu corpo ao imaginar o que a venha antissocial faria com eles, caso fosse perturbada atoa.
Natsu parou para encará-la, antes de responder, de forma preocupada:
— Juvia disse que o álcool não faz bem para grávidas.
— É claro que ela diria isso, porque ela está... Oh! — o raciocínio da loira terminou com uma exclamação de compreensão.
— Sim — Natsu respondeu a pergunta em seus olhos.
— Tem certeza? — questionou, atordoada.
— O cheiro das grávidas mudam. Foi assim com a Levy, e também com a Juvia. Bem, faz uns dias que você cheira assim também — contou.
— E você não pensou em me contar antes? — dessa vez, a voz da loira assumiu um tom estridente.
— Você sempre reclama que eu sempre falo as coisas no momento errado! Eu estava pensando em como deveria contar isso, já que desde que eu coloquei esse bebê aí, você tem me evitado — explicou.
— Shiii!!! — chiou ela, mortificada, enquanto cobria a boca dele com ambas as mãos, já que, por algum motivo que ela não havia captado, a música e as danças haviam parado.
— Natsu, eu vi você arrastando a Lucy para longe, o que acontec... GAH!!! — o questionamento de Happy, que vinha voando preocupado em direção ao casal, foi interrompido pelo objeto voador que o atingiu naquele momento.
A compreensão caiu sobre Lucy no momento em que ela percebeu o que havia acertado o exceed: as peônias-rubis, que eles sofreram tanto para buscar, que após o impacto, caíram sobre os braços de Natsu, assim como o gatinho azul, desacordado.
Aparentemente, Erza havia jogado o buquê com muita força e atingido o pobre coitado gato alado que acidentalmente interceptou a trajetória, e era em razão do tradicional lançamento que a música havia parado, em primeiro lugar.
— Talvez precisemos ver a Porlyusica-san, afinal — a maga estelar comentou, com a nítida impressão que a alma de Happy estava prestes a deixar seu corpo peludo.
E aparentemente, ela não foi a única com esse sentimento, já que Natsu simplesmente jogou o buquê de flores vermelhas e encantadas contra seu peito, a fim de liberar as próprias mãos para sacudir seu melhor amigo, na tentativa de reanimá-lo.
Felizmente, Happy abriu seus olhos chorosos segundo depois, mas não foi isso que chamou a atenção da multidão.
E sim o fato de o mago do gago ter jogado o buquê da noiva para Lucy, que permanecia segurando as flores contra o corpete de seu vestido de chiffon pêssego, enquanto centenas de olhares maliciosos lhe eram lançados.
— Que porcaria, Natsu! Você e seu raciocínio de ameba! — esganiçou ela, o rosto tingido de vermelho, tamanha a vergonha que sentia.
— O que eu fiz? Foi a doida da Erza que transformou essa coisa em uma arma mortal, como tudo que cai nas mãos dela! — sem compreender a situação, o mago do fogo defendeu-se, enquanto embalava Happy em uma posição mais confortável em seu peito.
— Aww! Parece que o Natsu não sabe o significado de pegar o buquê! — puderam ouvir a voz sonhadora de Mirajane exclamar de algum lugar, e as risadinhas dos demais convidados, que seguiram o comentário.
— Se ferrou, Salamander! Você entregou o buquê para a coelhinha. Agora vai ter que casar com ela — Gajeel, que estava acomodado com Levy e seus gêmeos em uma das mesas mais distantes do palco, atiçou e fez com que as risadas aumentassem exponencialmente.
— Como se eu já não fosse fazer isso de qualquer maneira, por causa do bebê — Natsu gritou de volta, o que o lembrou de seu propósito original.
Certo, bebê! Lucy havia bebido e eles precisavam consultar a Porlyusica.
O que ele não percebeu, enquanto tornava a arrastar Lucy em direção à saída, é que os olhares zombeteiros que todos lhes lançavam antes, tornaram-se atônitos, e os risos debochados, converteram-se em um silêncio atordoado.
Mas Lucy percebeu.
Percebeu, também, a feição irada que Erza, a qual assistira toda a confusão de seu lugar privilegiado acima do palco, adotou, ao perceber a existência de um segundo bebê arruinando seus planos de casamento.

Progressão Onde histórias criam vida. Descubra agora