Chimmy
— Podem entrar.
A pequena ômega destrancou a porta, e nos deu passagem. Ao contrário do que imaginei, o apartamento de Badda era quase todo branco, exalando a frieza e a impessoalidade de um hospital. A impressão de limpeza e organização era quase opressiva, como se cada detalhe estivesse ali para nos lembrar da nossa própria desordem.
Quase sorri ao me lembrar que poucas horas atrás estávamos dormindo na rua, expostos ao vento gelado e à indiferença da cidade. Agora, diante de nós, estava um refúgio digno da alta sociedade, um lugar que parecia inatingível para pessoas como nós. Retiramos os sapatos, e aguardamos enquanto Audrey desaparecia por uma das portas, voltando pouco depois com uma pilha de roupas cuidadosamente dobradas.
— O quarto dos hóspedes fica no final do corredor — disse ela, a voz suave contrastando com a dureza do ambiente. — A alfa pediu para eu lhes entregar essas roupas limpas. Por favor, tomem um banho e descansem até ela voltar.
O sorriso de Audrey era genuíno, alcançando seus grandes olhos brilhantes. Ela emanava uma beleza quase etérea, algo que qualquer pessoa em sã consciência se apaixonaria instantaneamente. Era fácil entender por que a alfa desejava largar tudo para construir uma vida ao lado dela.
Não consegui evitar sentir um pouco de inveja; eu nunca me imaginei tendo uma família, e muito menos alguém querendo uma comigo. Será que Kookie pensava sobre isso? Um aperto no peito me fez engolir o choro que ameaçava sair, enquanto a saudade me envolvia.
— Obrigada.
Tata agradeceu antes de me puxar pela mão na direção que ela indicou. Assim que chegamos ao quarto, minha boca se abriu em um "o" silencioso de surpresa. A janela panorâmica se estendia do chão ao teto, revelando uma visão deslumbrante de toda a cidade, iluminada como um mar de estrelas urbanas.
— Uau.
— Aqui é muito alto.
Tata falou, aproximando-se do vidro. Eu o segui, sentando-me na grande cama de frente para a vista. Normalmente, isso me instigaria a fazer algum tipo de brincadeira ou piada com o ômega, mas, desde que Badda nos informou sobre o que estava acontecendo, um nó constante em minha garganta me impedia de sorrir.
Senti os olhos do ômega sobre mim. Ele se aproximou, sentando-se ao meu lado. Nossas mãos se entrelaçaram sobre o tecido macio enquanto eu olhava para os pontos brilhantes da cidade, que pareciam alheios à minha saudade do alfa.
— Você está bem? — Tata perguntou, a voz suave e cheia de preocupação.
— Sim. — Minha resposta saiu automática, quase vazia.
— Nós iremos encontrá-lo.
Eu forcei um sorriso para ele, tentando parecer confortável, mesmo que não sentisse nem um pingo de esperança sobre a situação. Decidi não falar nada; meus sentimentos estavam uma bagunça dentro de mim. Expor isso só incentivaria uma discussão que eu não estava disposto a iniciar.
— Vamos tomar banho?
Ele fez menção de me ajudar a tirar a camisa, mas eu o parei, segurando suas mãos suavemente. Seus olhos se encheram de confusão.
— Pode ir primeiro — murmurei, tentando evitar o olhar dele.
— Chimmy, o que está acontecendo?
VOCÊ ESTÁ LENDO
Serpente
FanfictionTata e Chimmy, dois jovens ômegas, que desconhecem a palavra "controle", veem suas vidas virarem de cabeça para baixo após uma festa que deveria ser apenas diversão. Desnorteados e vulneráveis, eles caem nas garras do comércio ilegal de ômegas, merg...