Olhei intensamente para seus olhos profundos de uma perspectiva mais alta, me senti forte, por mais que do momento que ficasse em pé, eu me lembraria bem de qual era a altura e sua força corporal. Pensei que seria fácil lidar contigo, mas ao ver minha cama ensanguentada novamente, sabia que a culpa era toda minha de te permitir entrar pela porta da minha vida. Escorreguei até seu lado, observando as manchas e então seu rosto pálido e cheio de acne, a face de desapontamento e arrependimento estavam óbvias, eu sabia que podia fazer algo, mas eu apenas conseguia pensar no quão lindo seus olhos ficavam cheios de lágrimas.
— Me desculpa.
— É só sangue, vai sair depois de lavar.
— Não é disso que eu estou falando, imbecil.
— Sempre que você me chama de imbecil, me faz lembrar de quando a gente se conheceu, você costumava ser mais legal comigo naquela época, Luís...
— Você também era bem mais legal comigo, até escrevia poemas, lembra? "As pétalas caem, mas seus olhos estão sempre para cima..." - Dizia ele enquanto erguia o pulso, passou a lamina cuidadosamente, tirando de novo um amontoado de sangue de suas veias, sem expressar reação, ele enfim sorriu e largou o corpo na minha grandiosa e desalmada cama, suspirando antes de uma lágrima vir em seguida, mas foi a única que surgiu na penumbra daquela noite amaldiçoada, limpando-a com a palma da mão.
-—Se você morrer, eu vou escrever um poema no seu túmulo, e se eu morre antes de você, tem como colocar aquele bibelô que me deu de aniversário, no meu caixão? Eu gosto do anjinho de véu azul.
De novo, eu observei tudo que ele fez, mesmo enquanto falava, do ato de se virar para a parede e tirar as mechas de cabelo castanho do rosto até quando ele estava olhando de volta para mim, com os lábios comprimidos, as sobrancelhas fazendo rugas em sua testa quando ouvia atentamente tudo que eu dizia, daquele jeito, até parecia que ele se importava comigo.
- Claro, o que tu quiser, só saiba que eu acho bem difícil morrer antes de mim, você me conhece, Marina.
Revirei os olhos igual fiz com meus dedos no meio dos lençóis, não conseguia me imaginar em um mundo onde não tinha Luís, o meu mais grande amor, mas quem disse que ele se importava com meu mundo? O mundo dele era feito de tristeza e mágoas, tudo que ele pensava era em acabar com aquele mundo medíocre. Luís não estava errado, eu também tenho essa vontade, não é à toa que todas as noites ele foge de casa para me visitar e enfim temos nosso momento de auto-destruição, cada dia uma linha nova, cada dia um lugar novo, uma sensação que nunca aumenta ou diminui, mas parece que faz os outro sentimentos ficarem menos aguçados, e por isso meu braço estava cheio dessa sensação, um sentimento sangrento e que no final, não beneficiava nenhum dos dois, mas eu ainda prefiro isso do que ficar sem ele ao meu lado. Seus abraços e beijos em meu rosto mostravam como um corte insignificante nem era realmente doloroso comparado a falta de seu toque e amor, e eu preciso desse amor.
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Pétalas de rosas.
PoésieCada coisa que escrevo é sobre quando meu amor mais genuíno floresce em meu coração, como a pétala de uma rosa.