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Elisa:

Meu nome é Elisa, só Elisa, eu tenho 20 anos e estou quase terminando o meu segundo ano na faculdade de biomedicina.

O curso dos meus sonhos.

Consegui a vaga através de um sorteio que a faculdade Han Belmonte fez. É a melhor e mais renomada faculdade particular do país.

Tive muita sorte, esse sorteio foi o primeiro e talvez o último que a instituição fez.

Uma única vaga.

Uma única chance.

E eu tive essa sorte.

Em meio a tanto sofrimento na minha vida, eu pude ter um vislumbre do que é a felicidade.

Fui abandonada bebê em um orfanato que nem deveria se chamar de orfanato. Aquele lugar parecia um inferno.

Cuidaram de mim quando eu era bebê, mas conforme fui crescendo, fui maltratada. Eu não sofri agressões físicas, mas as verbais eram constantes, percebi que crianças como eu, da minha cor, eram tratadas pelos responsáveis de forma diferente dos outros.

Foi muito difícil para mim, o fato de ser chacota em "casa", me fez ter uma personalidade tímida e introvertida.

Além disso, eu também sofria constantemente na escola, lá sim eu sofri com algumas agressões físicas de um grupo de meninas, isso durou até que me mudei de escola, no ensino médio.

Os adolescentes falavam mal de mim pelas costas, mas era bem melhor do que as brincadeiras que faziam comigo no fundamental.

Nunca entendi ao certo o motivo de sempre ser chacota para as pessoas. Minha aparência, talvez...

Eu sou negra de pele retinta, meu cabelo é crespo e curto, além disso, sou alta e esguia. As pessoas sempre me olham torto e me acham "estranha".

Eu não as julgo por olhar, sei que chamo atenção pois minha aparência não é comum, pelo ao menos na região onde estou, mas fico triste com os cochichos, risadas e o desprezo que os olhos de alguns transmitem.

Nunca namorei, nunca tive amigos, nunca tive aventuras normais de adolescentes. Sempre fui eu e eu.

Saí do orfanato assim que completei 18 anos, ou melhor, fui "convidada" a sair de lá.

Desde então eu tenho me virado sozinha, consegui alugar uma casinha num bairro não muito seguro, não é uma casa de encher os olhos, mas amo meu cantinho.

Além disso, consegui um emprego de garçonete numa lanchonete, o salário não é tão bom, mas é o suficiente para sobreviver. Antes de começar a minha faculdade, eu trabalhava lá durante o dia todo, conversei com o dono e ele entendeu a minha situação, desde então eu trabalho em meio período.

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Entro na sala de aula.

Atrasada...

Eu sempre saio antecipadamente da minha residência, mas hoje eu tive um problema com a água que faltou em todo o bairro, tive que ir em um poço comunitário para buscar água. Meu curso é a tarde, passei quase a manhã toda carregando água para casa.

_Atrasada hoje, senhorita Elisa? -O professor pergunta.

Sinto o deboche na sua voz.

Sei que ele não vai com a minha cara desde quando me destaquei em sua matéria no semestre passado e ele foi forçado a me dar a medalha de melhor aluna.

De Mãos Atadas [Em breve]Onde histórias criam vida. Descubra agora