I

199 29 26
                                    

30/07/2023 — Kelvin

Era, como sempre, mais um dia monótono na pacata “Nova Primavera”.

Kelvin Santana, o ex-garçom e agora dono da provável única casa de show da pequena cidade acordou após o almoço, ainda exausto devido a viagem do dia anterior. Teve que ir à Campo Grande, encontrar-se com alguns fornecedores do Naitendei, a fim de acertar alguns detalhes para o rebranding do bar. Era exaustivo, e as vezes o fazia ponderar se havia feito o certo ao investir naquela “espelunca”, como carinhosamente chamava o local.

Desceu para o térreo do ambiente, após fazer sua rotina matinal. As vezes, em dias como aquele, após noites difíceis,  optava por fazer suas refeições sozinho, sem a grande comoção — e particular gritaria— que as refeições em grupo ali proporcionava. 

Depois de comer o prato que Zeza havia deixado separado para ele, chamou a todos do bar para uma rápida reunião. Não queria ter que falar muito, e ainda tinham que se preparar para a noite.

— Seguinte, piranhas. A partir de segunda feira que vem, começará a chegar os materiais para a expansão do bar. A ideia, como eu já tinha dito pra vocês, é que o Naitendei realmente se estabeleça como uma casa de show reconhecida na região, vamos fazer shows, atrair público, ressignificar isso aqui pra pararmos de sermos vistos como um puteiro.

— Como? — foi Graciara quem protestou. — e o que vamos hacer?

— Vocês não vão deixar de atender, eu só não quero que sejamos conhecidos só por isso entendeu? E já tenho até a primeira estrela a se apresentar!

— Quem? — Agora tinha sido Berenice a protestar.

— Segredo. Vamos ter um show dia 30 de outubro.

A reunião foi finalizada e todas subiram para os quartos, a fim de se arrumarem para a noite que os aguardava.

🔪🔪


Todas as noites do bar, ultimamente, vinham sendo as mesmas. Mas naquela, havia um burburinho peculiar por entre os assuntos ditos por de baixo da música alta que Nando cantava no palco.

Luana, com nítida preocupação em seu olhar,  correu até Kelvin assim que o ruivo pisara novamente no piso inferior parando em frente a ele, mexendo as mãos ansiosa.

— Kelvina, que risco você correu!

— Que risco, minha velha? — ele a encarou confuso, sem realmente entender todo aquele nervosismo.

— Risco, Kelvin! Você não ficou sabendo? — ele a encarou novamente, em pura expressão de confusão, levantando as mãos expressando o tamanho de sua incerteza. — O assassinato que teve na estrada pra Campo Grande, Kelvin! Bem na hora que você estaria passando por lá! Imagina se fosse você?

O ruivo endireitou a postura, um arrepio gélido percorrendo por suas entranhas pela familiaridade de um medo há muito adormecido. Encarou a amiga, agora com a respiração levemente entrecortada.

— Como assim assassinato, Luana? Esse lugar, essa região, é mais parada que esquilo em época de hibernação!

— Assassinato, minha velha! Sabe o Hugo? Pai do Tadeu? — ele assentiu. Tadeu era um conhecido frequentador do bar, e seu pai não seria menos reconhecido. — Parece que ele tinha ido tratar de alguns negócios lá, e hoje foi encontrado morto!

Jigsaw Killings| Kelmiro Onde histórias criam vida. Descubra agora