Capítulo 1 - O início.

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Rostov, Rússia/União Soviética - 21 de junho de 1941 - 7:00AM.

Eu acordo.

Bom dia mundo.

Sinto meus cabelos ruivos caindo sobre meu rosto, os fios estão bagunçados sobre minha testa, faz cócegas.
Me levanto devagar e olho pela janela, a neve cai como pequenos grãos de sal. Me pego distraído enquanto observo os pontinhos brancos caírem do céu, antes que possa pensar em mais alguma coisa, ouço a voz da minha mãe gritando meu nome no seu habitual grito escandaloso:

- Alexander! - ela grita, provavelmente seus gritos ecoaram pela casa toda, se não pelo quintal todo..

- Já vou! - Abri meu armário de madeira desgastado que antes pertencia aos meus irmãos mais velhos. Cheirei as roupas e peguei o casaco menos fedido de lá.

Desço as escadas correndo, quase tropeço em uma, quase.

- Seja mais responsável e venha comer sem que eu te chame, sabe quantas vezes eu tive que te gritar!? Você não tem mais 4 anos de idade, está quase com 10! - Meus irmãos mais velhos riem baixo no canto da mesa, meu pai apenas continua lendo o jornal com uma expressão severa, como sempre.

- Desculpe, мать (mãe), eu...

- Não precisa dar desculpas, apenas tome seu café e se arrume pra ir na casa do seu бабушка/babushka (avô).

- Pois é, паршивец (pirralho), escuta a mãe. -Nikolai, o gêmeo mais velho do meu irmão, e o mais irritante, diz.

- Aposto que ele vai contar sobre a história da primeira guerra de novo, e como ele e o papai detonaram com todos no exército -Nikolau, o gêmeo mais novo, e mesmo assim tão irritante quanto Nikolai diz, infelizment, ambos meus irmãos.

- Calados os três, arrumem suas coisas e estejam prontos em 5 minutos! -Meu pai, Maxim, ordenou como sempre, cortando a risadas dos gêmeos, e fazendo minha mãe murmurar uma palavra de desgosto, enquanto sai da cozinha. Sinceramente ele parece mais um general do que um pai.

Sem dizer muito, subo e arrumo minhas malas, não é nada muito significativo, mas o suficiente pra passar uns dias lá sem morrer de tédio. Algumas roupas, meu caderno de anotações (que contém alguns desenhos meus), algumas meias, luvas, o meu estilingue, e meu pequeno rádio.

Em 5 minutos estávamos na sala em fila única, os gritos de meu pai realmente funcionam. Ele nos deixou na porta e voltou pra dentro de casa, estávamos apenas eu e meus irmãos agora, algum de nós teria que tomar a iniciativa pra guiar o caminho até a casa do vovô.

Nikolau apenas deu de ombros e seguiu caminho em direção ao caminho mais perto da casa do vovô, Nikolai e eu apenas o seguimos como sempre. As vezes os gêmeos cochichavam e riam entre si, espero que não estejam planejando nenhuma de suas brincadeiras s graça, da última vez, eles tentaram me enterrar vivo na neve, não foi muito divertido.

21 de junho de 1941 - 12AM.

Estava perto da lareira, vendo meu avô beber mais uma latinha de uma cerveja que eu não sei pronunciar o nome. Nikolai e Nikolau estavam jogando truco, eu ouvi eles dizeram mais cedo que estavam apostando a unha do pé...que nojo!

Mais tarde meu avô cozinhou Borschet, eu tive que ajudar é claro, mas o gosto do arroz, da carne, do tomate e da beterraba todos juntos é gratificante, mesmo tendo que ouvir 20 palavrões em menos de 10 segundos.

21 de junho de 1941 - 3 PM.

Meu avô levou eu e meus irmãos pra sua garagem, oficina, ou seja lá o que for. Ele era do exército e se aposentou como tenente-coronel, meu pai seguiu seus passos e agora é um Coronel, ele trabalhou nas forças aéreas durante a primeira guerra. Por algum motivo meu avô gosta de se gabar de como levou um tiro no pé e mesmo assim conseguiu fugir e se esconder. Sinceramente é impressionante mesmo, mas não é algo no qual eu queira saber todas as vezes.

21 de junho de 1941 - 10PM

De noite, foi a vez dos gêmeos cozinharem. Não vou jantar hoje.

Ao invés disso, fiquei no meu quarto rabiscando qualquer coisa no meu caderninho velho e olhando a neve pela janela, enquanto os pequenos flocos caem na janela e nos pinheiros lá fora. Começo a desenhar o que deveria ser um urso, mas se parece mais com o meu tio depois de ficar um ano sem ir no barbeiro, tenho péssimas lembranças.

Sem pensar muito, deixo meu lápis e meu caderno em cima da escrivaninha de madeira, e me sento na cama, que obviamente range. Solto um bocejo que nem sabia que estavam prendendo. Olho no espelho de parede antigo e vejo meu rosto pequeno (comparado ao dos meus irmãos). Meus cabelos ruivos, meus olhos verdes, minhas pequenas sardas no nariz e minha pele pálida. A única nica coisa que puxei da minha mãe foi o medo incessante de aranhas, e as orelhas pequenas.

22 de junho de 1941 - 7AM.

Bom dia mundo.

Acordo de novo, só passo a mão levemente pelos meus cabelos lisos, visto a roupa menos fedida da minha mala. No banheiro eu me forço a jogar a água fria no meu rosto pra me despertar, escovo meus dentes e desço as escadas em silêncio pra não acordar meus "amáveis" irmãos. Felizmente ou infelizmente sinto uma mão no meu ombro, me viro e...vejo meu avô me encarando com uma expressão de poucos amigos.

- Venha. -Ele diz num tom sério, enquanto seu bafo de cerveja bate no meu rosto, me causando uma pequena careta, mas apenas aceno positivamente.

Lá fora ele se senta numa cadeira, perto da varanda de sua casa, eu acompanho o movimento e o imito.

- Sabe, Alex... - Ele começa, mas eu o interrompo -

- Já sei... na minha idade, o senhor já pensava em se alistar no exército, mas o Nikolai e o Nikolau já podem fazer isso, eles tem 16 anos.

- Não, seu Ребенок/Rebenok! (Moleque) -Ele grita, mas por sorte não alto o suficiente pra acordar os gêmeos - Quero que me ouça, você sempre está tão distante de tudo, distraído, avoado, como se tudo tirasse sua atenção do que é importante.

- E o que é importante pro senhor, vovô?

- Uma carreira, uma família, algo pra que sua vida faça sentido, rapaz. - Eu o vejo dar um suspiro longo e logo olhar pra mim. - Você não serve pro exercício, é molenga demais, fraco demais, pequeno demais.

Se antes eu não estivesse fazendo uma careta, agora estou.

- O que quer dizer?

- Quero dizer que seus irmãos sempre vão se destacar se você continuar assim, tente ser menos avoado, tente acordar mais pra realidade, garoto, a vida é imprevisível e passa num sopro, uma hora estamos conversando, na outra podemos estar correndo de alguém, ou algo. -Meu avô respira fundo, consigo sentir uma certa decepção vinda dele.

- Me diga, Alexander Tsurova, o que você quer ser quando crescer?

- Gentil.

Ele me encara em silêncio, se levanta, entrando na sua cabana e me deixando sozinho em pensamentos.

22 de junho de 1941 10AM.

Ando sobre a neve, num cantinho isolado eu faço um boneco de neve escondido, afinal, se meus irmãos verem podem o destruir. Além de montar bonecos de neve, fiquei os desenhando no meu pequeno caderno de desenhos, quando me canso, apenas guardo o caderno e fico andando pelo quintal..

- Distraído de novo, irmão? -Nikolai pega meu caderno e joga pra Nikolau que ri e joga pro mesmo antes que eu consiga me esticar pra pegar.

- Parem com isso, me devolvam!
Ambos riem, e eu tento empurrar meu irmão, nada. Ele abre meu caderno e eu chuto sua canela, ele grune, por sorte ele não viu meus desenhos bobos, antes que possa tentar fazer outra coisa, ouço os gritos do meu avô, seguidos de o som de um projétil caindo do céu.

- Nikolai, Nikolau, Alexander!!!

E foi assim que o meu mundo começou a cair...

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IOIO, Artch falando! Espero que gostem dos capítulos e da história, foi feito de coração, me desculpem se tiver alguns erros aqui e ali, é minha primeira história "oficial", lembrando que nenhum evento ocorreu na vida real, fora as cotações da 1° e da segunda Guerra. É isso, Vlw <3

1361 palavras.

Crônicas De Um Sonhador -  Sussurros Do ArOnde histórias criam vida. Descubra agora