Capítulo 2

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Diego sorriu e se levantou. Em meio a sua carência, sentiu-se feliz em ser tirado para dançar. Segurou a mão de Amaury e se permitiu olhá-lo mais de perto. Os olhos escuros; os lábios grandes e bem desenhados formavam um sorriso lindo; as pintinhas na bochecha. Era um homem lindo, de fato.

Uma das mãos de Amaury pousou em sua cintura e logo nos primeiros passos Diego achou necessário avisar:

- Eu não sou um bom dançarino - disse em um tom baixo. Não queria arriscar passar uma grande vergonha em meio a tanta gente no restaurante.

Olhando rapidamente, viu que do outro lado do salão Camila já dançava com outro cliente escolhido.

- Qual o seu nome? - a voz rouca do bailarino lhe perguntou.

- Diego.

- Fique tranquilo, Diego... só confia em mim e segue como eu te conduzir, vai ser o tango da sua vida.

Não sabia quão verdadeiro era aquilo. Seria realmente o tango da vida de Diego.

O olhar dominante do homem que lhe conduzia pelo salão ao som de uma música tão sensual, hipnotizaram Diego e tiraram seu fôlego

Tudo fazia com que ele realmente só se deixasse ser guiado. O perfume amadeirado do corpo próximo ao seu, ao qual desejava sentir o calor num toque total de pele, o vinho seco argentino confundindo seus sentidos, a mão firme em sua cintura o fazendo sentir fraco nas mãos de um homem pela primeira vez desde que terminou seu relacionamento...

Outro homem, após anos de namoro e noivado...

Amaury também observava pelo canto do olho, sem que Diego percebesse, a pele leitosa e macia, cheirosa e doce, as pintinhas espalhadas pela bochecha e a boca carnuda. O corpo pequeno moldando ao seu.

O desejo bailava tal qual os passos de seus pés naquele salão, desejo de sentir mais perto...

Mas era somente um cliente do restaurante, e além disso, homem. Não sabia se ele preferia damas...

A música parou e Diego acordou do seu sonho de olhos abertos, se percebendo ofegante e sentindo a camisa de Amaury levemente molhada, fruto do suor que o calor da sua proximidade causava

- Parabéns, você e a sua parceira dançam muito bem - Diego sussurrou, trêmulo, enquanto ouviam uma salva de palmas

Será que a dama do tango era também dama na cama daquele homem?

- Obrigado, ela é minha prima! - Amaury piscou e devolveu Diego para sua mesa solitária de única taça.

Diego sentou, mas apesar da solidão da mesa, os sentimentos ruins que o cercavam no início daquela noite haviam ido embora. Viu o homem dançar com outros clientes no decorrer da noite e, quando saiu para ir embora, viu que Amaury piscou para ele, com um sorriso de canto que ele não tirou da cabeça nas próximas horas.

Assim como não conseguiu esquecer os toques, a forma que Amaury lhe conduziu durante a dança, a mão segurando firme em sua cintura...

No dia seguinte, teve ânimo para o passeio de barco que já estava há tempos agendado. O visual era ideal para casais, e nesses momentos ainda se sentia patético. Porém, aquela dança havia lhe trazido um novo olhar para aquela viagem. Depois de um momento que não saía de sua cabeça, Diego pensava que se a ida a Buenos Aires seria uma memória ruim ou não, dependia apenas dele. E ele queria voltar para o Brasil com memórias boas.

Por isso, no fim do dia, contrariando qualquer lapso de bom senso que o faria pensar em se afastar do homem que alugou seus pensamentos durante o dia, Diego se arrumou com muito mais capricho que na noite anterior e retornou àquele restaurante.

Logo na entrada, avistou Amaury e abriu um sorriso.

- Boa noite, Diego. Vejo que gostou da noite de ontem e decidiu voltar - Diego não sabia se estava mais surpreso pelo homem lembrar seu nome, ou pelo tom sensual com que pronunciou a frase.

- Da comida à dança, tudo foi inesquecível - Diego respondeu e sentiu o corpo arrepiar quando o sorriso do dançarino aumentou

Usou um flerte que nem todo mundo perceberia, mas pelo visto, ele percebeu.

Tanto a comida quanto o dançarino pareciam uma delícia ao seu paladar.

- Espero que coma bem, senhor - Com um aceno, Amaury seguiu para se preparar para mais uma noite de espetáculo e com certeza, mais uma noite em que tiraria Diego para dançar.

Agora, estar sozinho numa mesa com um vinho seco argentino era motivo de ansiedade para Diego.

Se estivesse acompanhado, provavelmente não teria sido convidado ontem para dançar. E agora esperava aquele momento, mesmo sem saber se de fato aconteceria.

Seriam novos casais, novas pessoas para ver aquele lindo par de dança bailando pelo salão, Amaury poderia sequer o olhar...

O que você veio fazer aqui, Diego?

Mas contra todos os pensamentos ansiosos do ruivo, que começavam a fazê-lo se sentir mal em ter ido ali, patético, com vergonha até...

Novamente, após a apresentação, Amaury esticava a mão para o mais baixo para dançarem..

Novamente, Diego se sentia dominado ao ser conduzido de forma tão sensual..

Novamente, aquele choque, aquele arrepio, aquela vontade de fazer uma loucura e pensar na consequência só depois..

- Espero que tudo esteja bom ao seu paladar - Amaury sussurrou no ouvido de Diego antes da dança acabar

- Tem algo que não provei ainda - A resposta veio antes de sua consciência - E enquanto eu não sentir na língua eu não estarei satisfeito...

Devolveu o sussurro no ouvido e pela primeira vez, viu o homem dominante gemer e ofegar.

O ruivo deu um sorrisinho e voltou à sua mesa no final da dança, lançando olhares com cada vez mais malícia para Amaury, e recebendo todos eles de volta na mesma intensidade.

Era bom saber que alguém lhe desejaria e lhe despertaria tanto tesão. Ver que o mundo não acabou com o término do seu relacionamento, e mesmo que jamais passasse de flerte, porque Diego não tinha coragem de ir além com o dançarino, voltava pro hotel no fim daquela noite sorridente

- Ei - Alguém correu atrás de si após o restaurante fechar - Você ainda quer... provar?

Na sua frente, o dançarino de tango, já com roupas trocadas, de jeans e blusa social branca, lhe fazia uma proposta de provar algo único

Como dizer não?

Mais um capítulo de Um Tango de Tragédia!! Reforçando que essa fic é uma collab com a RobertaVerso (leiam as fics dela!!)

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