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erit similis mei

No auge dos seus vinte e dois anos,
Seonghwa nunca havia presenciado
algo tão macabro. O gato da vizinha,
agora morto e pendurado na cerca,
compunha um cenário brutal. Os rastros
de sangue manchavam a calçada
elegante do bairro de luxo onde morava.
A velha senhora, gorda e afligida,
chorava e lamentava o pobre gatinho
laranja, estraçalhado, com as entranhas
expostas e pingando. Os transeuntes
observavam horrorizados. Quem teria
cometido tamanha crueldade contra o
bichano da Sra. Carter?

Seonghwa até teria ficado para tentar
descobrir, mas estava atrasado para um
compromisso na igreja. Com sua Bíblia
católica romana em mãos e trajando
roupas impecáveis, ele caminhava
rapidamente. Há dois anos estudava
para ser padre, ansiando por
aproximar-se cada vez mais dos
ensinamentos de Maria, Mãe de Deus, a
quem adorava desde criança, desde o
dia em que sua mãe lhe contou sobre a
santificação de Maria.

De estatura média e cabelos longos e
pretos, o jovem asiático andava com
sua pequena bata, lamentando que
ainda não fosse a de um padre. O
pingente dourado de cruz na cintura
evidenciava sua devoção. Caminhava
em direção à igreja, a mais bela de
Roma, uma estrutura imponente com
traços negros, reminiscentes de um
castelo medieval de contos de
princesas. Amava estar ali, admirando a
grandiosa obra que o Senhor havia
permitido neste mundo.

As moças passavam por Park, às vezes
soltando risinhos e balançando seus
vestidos lindos e brilhantes, mas o
devoto jovem nem lhes prestava
atenção, focado em entrar na igreja.
Com devoção, limpava as solas dos pés
antes de entrar, ajoelhava-se diante da
imagem à sua frente, e depois se
levantava para se ajoelhar novamente
diante da imagem de Maria.

Às vezes, Park sussurrava para a imagem de Maria, expressando seu desejo de ser como ela: santa, imaculada, pura e bela. O padre daquela igreja, Padre Caius, aparecia apenas durante as aulas para coroinhas ou alunos de teologia. Park, integrante dos alunos de teologia, frequentemente se atrasava por passar horas ajoelhado diante da imagem de Maria, com as mãos juntas em oração, segurando o belo pingente de cruz. Seus cabelos negros caíam sobre os olhos, quase tocando os ombros, compondo uma imagem digna de uma pintura. Mesmo sendo oriental, a beleza de Park era exorbitante.

Padre Caius, o líder espiritual naquele dia, observava Seonghwa em suas rezas, admirando como a beleza do jovem poderia ser comparada à de uma mulher, nutrindo pensamentos impuros. O pobre garoto, no entanto, não fazia ideia dos pensamentos pecaminosos que seu professor alimentava sobre sua aparência.

Ao terminar de rezar, Park levantou-se, reverenciando novamente a imagem, mas assustou-se ao sentir uma mão pousar em suas costas. Virou-se e encontrou Padre Caius, com um sorriso gentil nos lábios.

- Park, não está atrasado para a aula? - disse o padre, segurando seu pingente em mãos.

Seonghwa compreendeu, percebendo que realmente deveria estar atrasado. Agradeceu ao padre e dirigiu-se rapidamente à sala de aula, onde encontrou os outros alunos de teologia já reunidos.

Talvez Seonghwa tivesse chegado cedo demais, pois apenas alguns alunos estavam ali sentados. Ele se acomodou, colocando a Bíblia sobre a mesa de madeira, e aguardou a chegada do padre.

O velho padre entrou devagar, segurando uma régua de madeira, pronto para começar a aula. Hoje, o tema seria o anjo caído, Lúcifer.

Seonghwa sempre se arrepiava ao ouvir esse nome. Sentia uma curiosidade mórbida sobre o demônio e uma vontade de estudar mais sobre o inferno, mas o medo o impedia de aprofundar-se na biblioteca da igreja sobre esses assuntos.

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