Hope passou um bom tempo do lado de fora do hospital antes de retornar aos seus pacientes. O ar fresco e o silêncio a ajudavam a colocar os pensamentos em ordem, mas mesmo ali, longe do caos do hospital, a mente dela não parava de girar. Cada encontro, cada nova informação parecia uma pedra sendo lançada em um lago calmo, criando ondas que se espalhavam e perturbavam sua paz interior.
Ao retornar, encontrou-se com Lexie duas ou três vezes. A garota falava sem parar sobre como era legal que ambas fossem neurocirurgiãs e como poderiam trabalhar juntas em casos. Nas duas primeiras vezes, Hope fingiu escutar, mas na terceira vez, pediu que Lexie lhe desse um tempo. Não que ela não gostasse da irmã – que acabou de descobrir que existia – mas precisava de espaço e tempo para processar. Hope sabia que Lexie, ao menos, conhecia sua existência, enquanto ela própria não fazia ideia de que tinha uma irmã. Não havia convivido tempo suficiente com Lexie para saber se a suportaria por perto.
Lexie parecia tão otimista, tão ansiosa para se conectar, e isso só aumentava a sensação de claustrofobia emocional de Hope. Ela não estava pronta para lidar com uma nova família, com novas expectativas e emoções.
A vida de Hope estava uma loucura. Não parou um segundo para processar e nem pararia até estar em seu quarto de hotel à noite, encarando o teto. No trabalho, precisava focar em seus pacientes e deveres. Nunca colocaria seus problemas acima de suas responsabilidades. Até mesmo quando cruzou com Meredith no corredor da emergência e sua irmã tentou chamá-la pela milionésima vez, Hope fingiu não escutá-la. Adorava fazer isso com as pessoas. Evitar seus problemas até eles pararem de ser importantes era sua atividade favorita.
Agora, Hope se encontrava revisando mais uma vez o caso de Anna. Passou a tarde quase toda fazendo seus internos correrem de um lado para o outro, levando e trazendo recados para Amélia Shepherd, que se recusava a encontrá-la de forma civilizada. Descobriu o quão suja a boca daquela mulher era… dentre outras coisas que descobriu na noite passada.
Hope não se dobrou para Amélia nem por um segundo. Astrid havia lhe dito há quase trinta minutos que a doutora Shepherd estava pisando firme em direção à sala de Richard, e Hope se divertia sabendo exatamente o que ela tentaria fazer lá. A médica estava realmente concentrada em Anna agora, precisava de um plano. O novo tumor estava situado em uma área complicada.
Havia a pressão constante de salvar Anna, uma responsabilidade que ela levava a sério, mas também havia Amélia pressionando-a deixar o caso. Hope se levantou para tomar café pelo menos duas vezes, tentando encontrar algum alívio na cafeína e no breve silêncio. Era assim que ela trabalhava – em silêncio, imersa em seus próprios pensamentos. A maior parte do tempo, ela evitava conversas desnecessárias, preferindo a solidão de seu próprio espaço mental. Ela parecia odiar conviver com a mesma pessoa por muito tempo, e a presença constante de uma pessoa sempre a irrita.
— Eu desisto! — Amélia exclamou, interrompendo o silêncio de Hope e invadindoa a sala. — A vida da Anna não é uma competição idiota em que você se meteu. É uma criança que precisa ser operada. E se você não sair do caso, o que Richard garantiu que você não faria, então nós vamos sentar juntas e encontrar uma forma de remover aqueles dois tumores.
Hope levantou os olhos lentamente, sua expressão impassível.
— Não foi exatamente isso que eu propus antes de você mandar Astrid me chamar de quê mesmo? — Ela fingiu pensar, então abriu um sorriso irônico. — Ah, é, de manipuladora sexual ou algo do tipo.
Amélia contraiu os lábios, reconhecendo que estava irritada quando mandou dizer aquilo.
— Tá, isso foi baixo. — Amélia admitiu. Hope deu uma risadinha e voltou para os papéis na mesa redonda em que estava sentada. — Eu vou fazer isso com você, não vai fazer sozinha.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Here comes the sun
Fanfiction"Here Comes the Sun" narra a história envolvente de Hope, uma cirurgiã pediátrica renomada e enigmática, que opta pelo anonimato e carrega consigo profundas cicatrizes emocionais. Após anos de ausência, ela decide retornar à sua cidade natal, Seattl...