Esquilinho azarado

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Capítulo 2 novinho em folha, feito com muito amor e tempero!
Espero que gostem!

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Capítulo 2

Eu costumava ouvir que o autismo nível 1 de suporte seria mais fácil de conviver, mas acho que sempre fui rudemente enganado. Durante toda a minha vida alguns dos meus dias me exigiam mais esforço que outros, mas nunca entendi o porquê disso, e constantemente era chamado de preguiçoso. Mas depois do diagnóstico - tardio, devo dizer.-, aos doze anos tudo pareceu clarear, e logo após isso passei a ouvir que na verdade era tudo ladainha. Mas a verdade mesmo é que, diferente do que muitos pensam, nem sempre estarei animado e ansioso para viver, e isso não quer dizer que eu esteja deprimido, eu só não acordei querendo ter que aguentar essa barra que é a vida. Sabe, nem sempre a gravidade parece ser a favor de nós autistas.

 Em dias como este eu adoraria poder ficar deitado durante as 24 horas consecutivas do meu dia, assistindo algum anime e fazendo as minhas necessidades básicas quando me lembrasse; e admito que até os meus quinze anos eu fazia isso as vezes, mas agora, beirando os vinte, as coisas não são mais tão fáceis assim. E bom, certamente hoje era um dos dias que eu não poderia ignorar completamente o fato do sol ter nascido. Sendo mais específico, hoje era o dia da mudança.

Eu juro que não queria me arrepender dessa decisão antes mesmo de me mudar de fato, mas em minha defesa, eu não fazia a menor ideia de que o apartamento ficava, na verdade, ao lado de um grande centro comercial, que infelizmente, continha inúmeras casas de festa. Tenho a leve impressão que o inquilino não contou essa parte propositalmente. E é bem provável que de noite aquilo ali ficaria mais barulhento do que escola de samba.
É, acho que se eu fosse o inquilino também não contaria essa parte.
Bom, de qualquer forma não havia muito o que fazer, então, eu só precisava me mudar e me acostumar com uma vida turbulentamente barulhenta, por, pelo menos, os próximos três anos.

Admito que achei bem estranho não ter ninguém me esperando, e o fato de eu ter que pegar a chave com o porteiro - que parecia já saber que eu viria -. Quer dizer, isso não me pareceu muito seguro. Como  ele sabia que eu era mesmo eu, afinal? Mas nem ao menos havia alguém com quem eu pudesse contestar isso, já que durante os últimos 5 minutos ninguém apareceu, me fazendo comprovar minha teoria. O inquilino não deve ser lá muito amigável.

 Surpreendentemente, o apartamento era bem maior do que eu imaginei. Uma cozinha e sala de estar confortavelmente espaçosas, um banheiro todo de azulejo bem bonitinho até, e dois ótimos quartos. Em geral, era um apartamento muito bom para o preço do aluguel que eu estava pagando. Mas depois de explorar o suficiente notei que o apartamento estava até que mais bem-organizado do que eu esperava,  o que me fez duvidar um pouco sobre aquele ser mesmo o apartamento de um jovem adulto. Talvez minha mãe estivesse certa esse tempo todo e eu fosse mesmo morar com um velho tarado. Caramba, será que nada acaba bem pra mim?!

A mudança ocorreu bem, apesar de eu ter que parar algumas vezes para descansar e voltar ao meu estado normal – admito que sou bem sedentário –, e o calor infernal e a falta de um elevador não ajudava muito, mas aquilo não era nada comparado ao que eu enfrentaria na faculdade em breve. Infelizmente algumas das minhas coisas mais frágeis acabaram quebrando no caminho, mas nada muito significativo o que me relaxou bem mais, apesar de isso ter me deixado evidentemente frustrado. Mas algo que eu achei um pouco estranho foi o outro aluno (ou o velho tarado), que é o dono do apartamento, ainda não ter chegado, e mesmo que sua presença não tenha sido requisitada, eu ainda assim esperava, enfim, conhece-lo, mas parece que isso não aconteceria ainda hoje. Talvez ele só não seja muito sociável, como eu, e ainda não esteja pronto pra conhecer o estranho que morará com ele.

Atipicamente apaixonados - MinsungOnde histórias criam vida. Descubra agora