Capítulo único

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Dia 19 de julho de 1965

Olho para os dois lados, vejo que nenhum dos vizinhos está olhando e começo a procurar entre as flores do jardim em frente a minha casa. Solto um suspiro quando encontro o que eu tanto desejava. Volto correndo para dentro de casa com a carta em mãos, vou até meu pequeno quarto fecho a porta e me sento contra a mesma abrindo a carta.

17 de julho de 1965

Querida Natália,

Desde o momento que os nossos olhos se encontraram pela primeira vez, eu sinto que a minha vida mudou completamente, lembro-me da primeira vez que nossas mãos se tocaram, espero que você tenha sentido nossa conexão o tanto quanto eu senti com aquele simples toque. Eu nunca desejei tanto ser diferente, outra pessoa para simplesmente poder te acompanhar até o serviço, segurando sua mão ou levá-la para dançar. Meu coração dói ao estar longe de você.

Espero que um dia você me perdoe por todo o sofrimento que meu amor te causou.

Com todo o meu amor,

Seu Carlos.

Lágrimas grossas escorrem pelos meus olhos, minhas mãos tremem. Comecei a procurar pelo pequeno espaço as folhas que peguei escondidas no serviço. Seco minhas lágrimas, respiro fundo e começo a escrever.

19 de julho de 1965

Meu amado Carlos,

Lembrar dos seus lindos olhos verdes e seu sorriso é o que me dá forças para continuar, lembra-se do nosso primeiro beijo, foi um leve encostar de lábios no rio enquanto nos banhávamos, sem dúvidas foi o melhor dia da minha vida.

Estar longe de você é como viver com milhares de facas enfiadas em meu coração, dói tanto que às vezes penso que vou falecer de saudade.

Não se culpe pelo que aconteceu, as marcas que ficaram em minhas costas pela cinta do meu pai, é um lembrete diário do que eu estou disposta a enfrentar por você, meu amor. Uma hora eles vão me deixar sair de casa ou parar de me vigiar e eu voltarei para seus braços, até lá não se arrisque.

Eu te amo e sempre amarei,

Sua Natália.

  Escuto batidas na porta e a voz de minha irmã Maria me chamar.

"Natália, está aí?" Solto uma longa respiração, vou até minha cama, me abaixo erguendo uma das madeiras no chão e guardando a carta em uma caixinha que ficava escondida ali. Vou até a porta e abro, com a minha carta em mãos.

"Oi minha irmã" me jogo em seus braços e sinto meus olhos se encherem de lágrimas novamente. "Você encontrou?" ela pergunta baixinho. Maria sabia toda a nossa história e era a única pessoa que não julgava. Ela era 3 anos mais nova que eu, tinha 19 anos e a alma mais pura que eu conhecia. "Sim" me afastei para olhá-la, coloco a carta em suas mãos. "Você coloca ela entre as flores e avisa ela, por favor?" Ela dá um sorriso e acena com a cabeça. "Claro irmã!"

Tinha uma frase que Maria dizia sempre que Carol mandava cartas, ela me puxava para um canto de nossa casa, com uma voz gentil e um sorriso no rosto ela sussurrava: Natália tem amor entre as flores essa era a frase que para mim, simboliza esperança.

Querida NatáliaOnde histórias criam vida. Descubra agora