05 - João Vitor

40 6 5
                                    

João Vitor Romania

— Giovana, eu já falei que tô bem! — eu disse pela milésima vez nos últimos dez minutos enquanto Madame Pomfrey limpava o pequeno corte que se formou acima da minha sobrancelha.

Não tinha sido grande coisa, mas na hora doeu bastante e um pouco do sangue saiu do local. Giovana e Renan me arrastaram para a enfermaria e Marília nos encontrou no meio do caminho, preocupada por conta das mensagens de Giovana.

— Não importa! — ela bufou, sentando-se na cadeira marrom que ficava ao lado da cama em que fui posto pela enfermeira. — Ele nem se deu ao trabalho de ver o que aconteceu.

Madame Pomfrey riu de forma anasalada, terminando de limpar o pequeno corte. Não era nossa primeira vez na enfermaria, então eu, Giovana e Marília sempre discutimos qualquer coisa na frente dela - porque ela literalmente já conhece a nossa vida inteira só pelo tanto de vezes que viemos parar nessa mesma cama.

A mulher pegou a varinha e murmurou algumas coisas, fechando o corte.

— Pronto. — ela disse antes que Giovana começasse outro monólogo sobre como está preocupada comigo. — Ficou com uma leve cicatriz, mas nada demais. — sorriu, guardando suas coisas no kit de primeiros socorros.

Marília sentou ao meu lado na cama e Renan ficou em pé ao lado da cadeira de Gio, parecendo meio perdido pela nossa conversa.

— O importante é que ele tá bem, nanica. — declarou minha amiga, estreitando os olhos para analisar a fina cicatriz em meu supercílio. — Essas coisas acontecem, ninguém é obrigado a saber quando isso acontece.

Minha prima franziu os lábios, colocando os braços sobre os joelhos e apoiando a cabeça ali.

— Estou brava porque ele não se deu ao mínimo trabalho de, ao menos, se preocupar em pegar o pomo de volta. — começou e eu soube que ela ia fazer um monólogo sobre regras que eu nem mesmo conhecia. — Ele pegou o pomo, ele que guarda. E o pomo estava na sua cabeça! — exclamou, apontando para mim. Eu ri da sua feição irritada.

O único lufano da sala trocou o peso do corpo entre os pés, tentando pensar no que dizer.

— Pedro vai vir ver ele quando souber, Gio. — ele disse, a primeira coisa que ele falou desde que chegou. — Eu conheço ele e vai pedir desculpas.

Giovana se levantou da cadeira, resmungando enquanto caminhava até a saída.

— Eu sei que ele vai. Isso também irrita. — ela disse e eu gargalhei, tentando entender o raciocínio dela, mas desisti no meio do caminho. — Enfim, vou sair daqui antes que ele apareça. Qualquer coisa me liga, seu loiro insuportável! — gritou, saindo em passos fortes da sala.

Marília e eu nos encaramos e encaramos Renan, caindo na gargalhada. Giovana e sua irritação são realmente a minha única diversão ultimamente.

— Pelo lado bom, você vai finalmente conhecer alguém diferente! — a de cabelos escuros diz, cutucando minha coxa com seus dedos.

Renan riu, sentando na cadeira que Gio ocupava antes.

— Pedro também precisa conhecer pessoas novas. — ele disse, referindo-se ao apanhador. — E, aliás, Marília. — começou e arregalei os olhos quando percebi o que ele iria falar. — João olhou bastante para ele durante o jogo.

Mari ergueu as sobrancelhas, me olhando de canto e parecendo tentar segurar uma gargalhada.

— Renan, por que o Zebu nunca me falou de você? — perguntou mais para si mesma do que para ele, pedindo mais informações do jogo.

Me deitei na cama, suspirando pela conversa que os dois tinham - falando de mim como se eu nem estivesse na sala.

Pedro é realmente bonito. É capitão do time e me parece ser uma pessoa legal. Mas geralmente pessoas como Pedro não gostam de pessoas como eu - que não fazem nada além de estudar e não são populares.

Minha mente está dividida em pensar em Pedro e em pensar no motivo pelo qual o pomo de ouro teria ido para minha cabeça. Geralmente, a bolinha menor era leal a algum jogador - por isso eles usam luvas para jogar - então o pomo não deveria ter ido até minha cabeça, mas sim em outro lugar sem pessoas.

Por que precisa ser na minha cabeça?

Madame Pomfrey apareceu em meu campo de visão, acima da minha cabeça. Me entregou uma barra de chocolate, sorrindo levemente e mexendo em meus cabelos.

Vim parar tantas vezes na enfermaria dela que viramos praticamente mãe e filho. Além disso, ela e minha mãe são amigas da época em que estudavam juntas, então as coisas se encaixaram perfeitamente.

Agradeci baixinho, guardando o chocolate no bolso das vestes, onde meu celular se encontrava.

Uma batida na porta tirou minha concentração e me sentei rapidamente, sentindo minha visão embaçar um pouco pelo movimento.

Senti Marília me agarrar para dar estabilidade, mas seu rosto também estava virado para a entrada.

— Posso entrar? — a voz grossa do garoto na porta entrou pelos meus ouvidos e quando meus olhos finalmente focaram nele, quase babei pela beleza dele de perto. Pedro é ainda mais bonito perto de mim.

Marília se levantou, checando se eu estava bem antes de se levantar e puxar Renan pelo braço para fora. Minha amiga até mesmo deu um olhar de canto para a enfermeira, que murmurou alguma coisa e saiu junto com os dois.

Mordi meus lábios, balançando a cabeça em concordância para o moreno, que entrou na sala e veio até a ponta da cama. Seus olhos estavam nas próprias mãos, que abriam e fechavam em uma tentativa de não ficar nervoso.

Analisei todos os seus detalhes: dos cabelos sedosos até o nariz arrebitado e os músculos quase estourando o uniforme de quadribol.

— Sim? — perguntei, mesmo já sabendo o que ele iria dizer.

Pedro respirou fundo, finalmente olhando para mim e cruzando as mãos em frente ao corpo.

— Desculpa por causar um machucado em você. — disse, apontando o dedo para minha cabeça. No mesmo instante, levei o dedo até a fina cicatriz e sorri levemente.

— Não tem problemas. — respondi, me levantando da cama e enfiando as mãos no bolso. — Você não jogou o pomo em mim, só deixou escapar.

Uma risada fraca saiu de sua boca.

— Mesmo assim. Eu não gostaria de ser acertado por um pomo de ouro, ainda mais por alguém como eu.

Bufei, revirando os olhos e indo mais perto dele, mas ficando em uma distância aceitável.

— Alguém como você? — ergui as sobrancelhas. — Você é inteligente, bonito, joga bem e tem uma voz muito gostosa de ouvir. Se fosse para alguém me acertar, que fosse você. — soltei de uma vez, me afastando e indo até a porta, não dando chances ao outro responder.

O jogo de quadribol precisava valer de alguma coisa.

Espero que ele tenha entendido as minhas intenções.

KÁTHARSIS - PejãoOnde histórias criam vida. Descubra agora