João Vitor Romania
Alguns dias depois.
— Joooooão! — a voz de Giovana me chama da porta do meu quarto com Bruno. Seu tom era muito simpático, o que me fez deduzir que ela queria alguma coisa.
Revirei os olhos, movendo-os para a figura paramentada de quadribol de Giovana. Suas vestes eram tão verdes que meus olhos quase doíam. Em uma das mãos, carregava sua vassoura - uma Firebolt, das mais novas -, sua fiel parceira para todas as situações.
Eu estava estudando para Defesa Contra as Artes das Trevas desde o começo da tarde, visto que era terça-feira e eu estava com a tarde livre, e não parei desde então. Essa matéria não era difícil, eu apenas queria fixar melhor os conteúdos que o professor passava.
— Sim, Giovana Romania? — perguntei, soltando meu lápis na mesinha ao lado do caderno e mexendo as mãos, que já doíam por segurar o objeto há algumas horas. Vicente, meu gato, estava atirado em meu colo, dormindo exatamente como alguém que não tem responsabilidades.
Ela bufou, entrando no quarto e fechando a porta com um baque. Bruno havia saído com alguns amigos, o que resultou em ter o quarto inteiro só pra mim.
— Você é tão sem graça. — ela disse, largando a vassoura ao lado da porta e se atirando em minha cama. — Quero te fazer um pedido.
— Estou estudando. — disparei, pegando meu copo cheio de suco verde e bebendo mais da metade.
Ela fez uma careta - provavelmente pelo fato de eu tomar esse suco com tanta facilidade, mas pode ter sido pela minha fala sútil - e se ajustou para conseguir me observar de maneira mais eficiente.
— Não me importo. — retrucou. — Você vai assistir o meu jogo — começou, erguendo um dedo para me impedir de interrompê-la — e vai torcer por mim.
— Gio, eu não tô no clima pra isso hoje…
Ela se levantou da cama com um pulo, colocando as mãos em meus ombros e me chacoalhando um pouco. Dei uma risada pelo seu jeito infinitamente delicado e suspiro baixinho.
— Você está trancado nesse quarto estudando desde o dia depois do jogo. Fala sério, João!
Senti seu queixo se firmar em minha cabeça e agarrei suas mãos que me abraçavam.
— Contra quem você joga hoje? — perguntei, me dando por vencido. Tenho certeza de que se eu continuasse negando, ela iria dar um jeito de me fazer ceder, então é melhor acelerar as coisas.
— No horário de sempre, Jo. Às oito.
— Tudo bem, eu vou. Está frio, mas farei esse sacrifício.
Ela riu, me soltando e deixando um beijo em meus cabelos.
— É melhor você se preparar mesmo. — disse, pegando sua vassoura e indo até a porta outra vez. — Pedro vai estar lá.
Coloquei as mãos sobre o rosto, sentindo minhas bochechas ficarem vermelhas.
— Eu flertei com ele e ele nem ligou. — respondi, a voz abafada pelas duas mãos estarem no rosto.
Giovana gargalhou.
— O Pedro é uma pessoa que pensa demais, assim como você. Às vezes demora um pouco para a cabeça dele dar o estalo de consciência.
Me levantei, fechando meu caderno e começando a guardar as minhas coisas. Afinal, já eram sete e quinze. Coloquei Vicente sobre a minha cama, deixando-o confortável em seu casulo de cobertas fofinhas.
— Você — apontei para ela, me movendo até chegar em minhas vestes e retirar as de inverno. — é péssima.
Ela me mostrou a língua e saiu do quarto, ainda rindo pela minha desgraça.
Faz uma semana que eu deixei meu interesse pelo moreno da Corvinal escancarado e, desde então, nunca mais o vi. Nem mesmo nas aulas que juntam as casas. Só de pensar nisso, minhas bochechas ficam vermelhas.
Vesti minhas roupas, indo até o espelho para dar os toques finais. Ajustei meus cabelos, deixando um único cachinho loiro em evidência e passando um gloss que roubei de Marília nos lábios.
Roubar é uma palavra muito forte. Na verdade, ela comprou e nem sequer abriu, então eu peguei. Amigos são para isso, né?
Gosto de deixar meus lábios em destaque. A boca é uma das partes que eu mais gosto em mim, então manter meus lábios decentes é lei, como o cabelo.
Mesmo que ele seja tingido, tenho conseguido manter os cuidados nele bons o suficientes para não transformá-lo em uma palha seca. Agradeço sempre a minha mãe, pois todos os produtos que eu uso são recomendações dela.
Pegando meu celular, algumas moedas de dinheiro e calçando minhas botas, sai do quarto e corri pelas escadas até sair da torre da minha casa. Encontrei algumas pessoas que estudam comigo, mas ninguém realmente marcante.
Marília e Zebu provavelmente estavam em um encontro de casal, como sempre faziam no tempo livre deles. Se não estavam se beijando, estavam estudando juntos. Conheço os dois o suficiente para saber o que eles gostam de fazer nesses horários de distração durante o dia.
Desde o jogo, tenho me aproximado de Renan, o lufano que estava comigo durante o jogo. Ele é um ótimo amigo e temos feito dupla quando a Lufa-Lufa faz aulas em conjunto com a Sonserina.
Pelas conversas que tive com Renan, ele pretende trabalhar na área da justiça, dentro do Ministério da Magia. Acho que combina muito com ele, pois suas falas e colocações são sempre muito certeiras.
Hoje, infelizmente, ele estava ocupado planejando alguma coisa com outros amigos. Caso ele não estivesse, eu e ele estaríamos estudando juntos.
Caminhei rapidamente até o local do jogo, me movendo entre as centenas de corpos e almas que já estavam presentes para o jogo. Avistei Giovana e Oliver no meio do campo, falando das considerações iniciais juntamente do juiz do jogo.
Fui até a arquibancada, me sentando em um lugar mais desprovido de pessoas e me ajeitando para assistir ao jogo.
Me encolhi, passando os braços em volta do meu corpo para tentar me esquentar. Está muito frio hoje, ainda mais nesse período do dia.
— Posso sentar com você? — congelei ao escutar a voz grossa de Pedro. Mordi os lábios e levantei melhor para ele, vendo-o com duas pipocas e dois refrigerantes. Além disso, estava sozinho.
Sorri, abrindo espaço para ele.
— Claro!
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KÁTHARSIS - Pejão
Fanfiction"Nós corremos nossa vida inteira Agora já podemos descansar Deita e o vento te leva Pra onde você deve estar Tempos de glória" - Em tempos de perdição, os tempos de glória estão mais perto do que João e Pedro imaginam. PEJÃO + HARRY POTTER