07 - João Vitor

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João Vitor Romania

Alguns dias depois.

— Joooooão! — a voz de Giovana me chama da porta do meu quarto com Bruno. Seu tom era muito simpático, o que me fez deduzir que ela queria alguma coisa.

Revirei os olhos, movendo-os para a figura paramentada de quadribol de Giovana. Suas vestes eram tão verdes que meus olhos quase doíam. Em uma das mãos, carregava sua vassoura - uma Firebolt, das mais novas -, sua fiel parceira para todas as situações.

Eu estava estudando para Defesa Contra as Artes das Trevas desde o começo da tarde, visto que era terça-feira e eu estava com a tarde livre, e não parei desde então. Essa matéria não era difícil, eu apenas queria fixar melhor os conteúdos que o professor passava.

— Sim, Giovana Romania? — perguntei, soltando meu lápis na mesinha ao lado do caderno e mexendo as mãos, que já doíam por segurar o objeto há algumas horas. Vicente, meu gato, estava atirado em meu colo, dormindo exatamente como alguém que não tem responsabilidades.

Ela bufou, entrando no quarto e fechando a porta com um baque. Bruno havia saído com alguns amigos, o que resultou em ter o quarto inteiro só pra mim.

— Você é tão sem graça. — ela disse, largando a vassoura ao lado da porta e se atirando em minha cama. — Quero te fazer um pedido.

— Estou estudando. — disparei, pegando meu copo cheio de suco verde e bebendo mais da metade.

Ela fez uma careta - provavelmente pelo fato de eu tomar esse suco com tanta facilidade, mas pode ter sido pela minha fala sútil - e se ajustou para conseguir me observar de maneira mais eficiente.

— Não me importo. — retrucou. — Você vai assistir o meu jogo — começou, erguendo um dedo para me impedir de interrompê-la — e vai torcer por mim.

— Gio, eu não tô no clima pra isso hoje…

Ela se levantou da cama com um pulo, colocando as mãos em meus ombros e me chacoalhando um pouco. Dei uma risada pelo seu jeito infinitamente delicado e suspiro baixinho.

— Você está trancado nesse quarto estudando desde o dia depois do jogo. Fala sério, João!

Senti seu queixo se firmar em minha cabeça e agarrei suas mãos que me abraçavam.

— Contra quem você joga hoje? — perguntei, me dando por vencido. Tenho certeza de que se eu continuasse negando, ela iria dar um jeito de me fazer ceder, então é melhor acelerar as coisas.

— No horário de sempre, Jo. Às oito.

— Tudo bem, eu vou. Está frio, mas farei esse sacrifício.

Ela riu, me soltando e deixando um beijo em meus cabelos.

— É melhor você se preparar mesmo. — disse, pegando sua vassoura e indo até a porta outra vez. — Pedro vai estar lá.

Coloquei as mãos sobre o rosto, sentindo minhas bochechas ficarem vermelhas.

— Eu flertei com ele e ele nem ligou. — respondi, a voz abafada pelas duas mãos estarem no rosto.

Giovana gargalhou.

— O Pedro é uma pessoa que pensa demais, assim como você. Às vezes demora um pouco para a cabeça dele dar o estalo de consciência.

Me levantei, fechando meu caderno e começando a guardar as minhas coisas. Afinal, já eram sete e quinze. Coloquei Vicente sobre a minha cama, deixando-o confortável em seu casulo de cobertas fofinhas.

— Você — apontei para ela, me movendo até chegar em minhas vestes e retirar as de inverno. — é péssima.

Ela me mostrou a língua e saiu do quarto, ainda rindo pela minha desgraça.

Faz uma semana que eu deixei meu interesse pelo moreno da Corvinal escancarado e, desde então, nunca mais o vi. Nem mesmo nas aulas que juntam as casas. Só de pensar nisso, minhas bochechas ficam vermelhas.

Vesti minhas roupas, indo até o espelho para dar os toques finais. Ajustei meus cabelos, deixando um único cachinho loiro em evidência e passando um gloss que roubei de Marília nos lábios.

Roubar é uma palavra muito forte. Na verdade, ela comprou e nem sequer abriu, então eu peguei. Amigos são para isso, né?

Gosto de deixar meus lábios em destaque. A boca é uma das partes que eu mais gosto em mim, então manter meus lábios decentes é lei, como o cabelo.

Mesmo que ele seja tingido, tenho conseguido manter os cuidados nele bons o suficientes para não transformá-lo em uma palha seca. Agradeço sempre a minha mãe, pois todos os produtos que eu uso são recomendações dela.

Pegando meu celular, algumas moedas de dinheiro e calçando minhas botas, sai do quarto e corri pelas escadas até sair da torre da minha casa. Encontrei algumas pessoas que estudam comigo, mas ninguém realmente marcante.

Marília e Zebu provavelmente estavam em um encontro de casal, como sempre faziam no tempo livre deles. Se não estavam se beijando, estavam estudando juntos. Conheço os dois o suficiente para saber o que eles gostam de fazer nesses horários de distração durante o dia.

Desde o jogo, tenho me aproximado de Renan, o lufano que estava comigo durante o jogo. Ele é um ótimo amigo e temos feito dupla quando a Lufa-Lufa faz aulas em conjunto com a Sonserina.

Pelas conversas que tive com Renan, ele pretende trabalhar na área da justiça, dentro do Ministério da Magia. Acho que combina muito com ele, pois suas falas e colocações são sempre muito certeiras.

Hoje, infelizmente, ele estava ocupado planejando alguma coisa com outros amigos. Caso ele não estivesse, eu e ele estaríamos estudando juntos.

Caminhei rapidamente até o local do jogo, me movendo entre as centenas de corpos e almas que já estavam presentes para o jogo. Avistei Giovana e Oliver no meio do campo, falando das considerações iniciais juntamente do juiz do jogo.

Fui até a arquibancada, me sentando em um lugar mais desprovido de pessoas e me ajeitando para assistir ao jogo.

Me encolhi, passando os braços em volta do meu corpo para tentar me esquentar. Está muito frio hoje, ainda mais nesse período do dia.

— Posso sentar com você? — congelei ao escutar a voz grossa de Pedro. Mordi os lábios e levantei melhor para ele, vendo-o com duas pipocas e dois refrigerantes. Além disso, estava sozinho.

Sorri, abrindo espaço para ele.

— Claro!

KÁTHARSIS - PejãoOnde histórias criam vida. Descubra agora