Estou certa de que tudo não passou de um sonho.
O meu corpo não dói como cheguei a cogitar, mas tive que levantar cinco minutos depois que me joguei na cama de casa porque um deles estava certo. O sangramento veio. Não posso negar que eu não me sinta cansada, as minhas pernas principalmente. Preguiçosas como a dona. Poderia ser qualquer outro dia de exaustão de uma assalariada após trabalhar horas consecutivas se a vergonha não tivesse se infiltrado em todas as camadas da minha pele.
Nunca me senti tão envergonhada em toda a minha vida.
Nem mesmo quando troquei com a minha prima o meu mini celular por um secador e a minha madrinha descobriu um dia depois do meu feito. Tivemos que destrocar, apesar da minha prima não ter se importado em me dar definitivamente o secador. Eu já sabia que a cultura de trocas não era bem vista na minha família, mas o fiz escondido porque pensei que não teria problema.
Ou que não dariam falta do aparelho.
Também não fiquei tão envergonhada na época que eu inventava mil mentiras para as minhas outras primas sobre ter um namorado.
Nunca tive um.
Mas aqui estou eu, servindo como um poço profundo da vergonha. Quando eu era criança, eu era levada para a igreja quase todos os domingos. Ouvia os cânticos. As pessoas lerem salmos da Bíblia, e até o padre dizer que passar muita maquiagem se configurava no pecado da vaidade. Por vezes, eu pedia desculpas ao senhor por não sentir tanta vontade de ir às missas. Para uma criança, discursos prolongados poderiam ser um tédio, e mesmo assim eu me culpava por não gostar de ir.
Às vezes eu pensava que tinha alguma coisa de errado comigo.
Eu sempre soube mentir com muita facilidade, e existia algo dentro de mim que gostava de criar cenários falsos. Eu era uma garota muito curiosa e quieta ao mesmo tempo. Na escola, eu andava com as meninas malvadas, mas a minha função se restringia a ser aquela que faz tudo. As respostas das tarefas vinham de mim. Os favores em ir buscar alguma coisa ou comprar lanches vinham de mim. Eu nunca tive muita emoção para contar nas fofocas, como viver nas festinhas e sair o tempo inteiro, então eu inventava histórias para parecer interessante.
Inventava mentiras, sendo mais específica.
Uma vantagem de ter a aparência de anjo, é que ninguém se espera que você seja a culpada. Não até descobrirem a sua real identidade. Já menti para um garoto que eu gostava enviando fotos normais no Facebook, mas que não eram eu. Como se eu fosse outra pessoa. Claro, foi meio decepcionante ver ele apaixonado pela Madison Beer e não por mim, mas felizmente ele nunca descobriu na época. Ao menos eu soube o que era conversar com um garoto de alta escala que na maioria das vezes, não dão a mínima para sem atrativos como eu. Era uma mistura de alegria e decepção vê-lo de longe sabendo que ele gostava de mim mas que não era eu de fato.
Ele não gostava de você, Lara. Ele gostava da beleza superficial.
Mas não nego que também era engraçado enganar homens no Facebook os fazendo achar que teriam alguma chance comigo.
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Lara • Brahim Díaz e Jude Bellingham
FanfictionLARA | Cansada de viver atrás de um balcão servindo bebidas, Lara aproveita a oportunidade de se passar por uma stripper com o intuito de fisgar a elite do dinheiro e tentar mudar de vida. A armadilha funciona quando os dois jogadores se encantam pe...