capítulo 18

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⚠️ Aviso de Gatilho: Este capítulo contém descrições de violência doméstica e sofrimento emocional. Leia com cautela se esses temas forem sensíveis para você.

Boa leitura 📚

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  Eu não sei o que fiz de errado, mas só sei que apanhei muito. Meu corpo dói, minhas roupas estão ensanguentadas e rasgadas por causa da surra que levei. Não imaginei que meu pai reagiria assim. Tenho aula amanhã, e eu não posso faltar, mas também não tenho forças para caminhar até a escola.

Para ser sincera, nem sequer consigo levantar do chão.

É difícil suportar quando alguém machuca sua alma, mas quando essa pessoa machuca sua alma, seu corpo e, pior, é seu próprio pai, o peso é insuportável.

Os vizinhos provavelmente ouviram meus gritos, mas ninguém fez nada. Ninguém chamou a polícia ou se importou. As pessoas dessa cidade, muitas vezes, são indiferentes.

Fiquei no chão até decidir me levantar. Escorando na cômoda ao lado, fui me levantando aos poucos. Meu quarto era bem ao lado, pelo menos nisso tive alguma sorte. Abri a porta, caminhei mancando até meu quarto e, quando entrei, o único desejo que tive foi a minha cama. Mas antes, precisava tomar um banho e trocar de roupa.

Naomi

Eu estava em casa sem nada para fazer. O Ares foi trabalhar e o Ethan, com certeza, está na academia. O único que me restou foi o Demyan, e claro, eu não o deixaria como última opção. Mas, ultimamente, não o vi muito na escola, então resolvi ir até a casa dele. Ele disse que eu podia ir lá a qualquer hora nos sábados.

Está insuportavelmente quente; eu não aguentaria ficar de calça. Então, coloquei um short jeans e uma camiseta laranja clara com um girassol estampado.

Fechei a casa, apaguei as luzes e coloquei a chave no bolso, indo a pé mesmo.

Quando cheguei, a casa parecia deserta. Não havia um único som vindo de lá. Estranhei, porque normalmente Demyan está cantando com a música alta ou rindo dos memes na internet. Mas hoje, estava tudo em silêncio.

Bati três vezes na porta, e ninguém respondeu. Bati novamente, e nada. Sei que é errado, mas peguei a chave reserva debaixo de um gnomo no quintal. Quando entrei, a cena era desoladora: a sala estava uma bagunça, com papéis espalhados, uma caixa de cigarro e uma garrafa de cerveja virada na mesa. Mesmo assim, subi as escadas e fui até o quarto do Demyan, batendo na porta até ouvir uma resposta trêmula para eu entrar.

Quando fechei a porta atrás de mim, o que vi quase me paralisou: Demyan estava coberto de hematomas, arranhões e cortes. Não hesitei em me aproximar dele, meu coração acelerado e os olhos cheios de lágrimas.

— Demyan! Que porra aconteceu com você? — minha voz tremia de preocupação.

— Ele não aceitou, Naomi... Eu fracassei de novo — ele respondeu, com a tristeza estampada no rosto.

— Como assim? Seu pai fez isso com você? — perguntei, sentando-me à beirada da cama, tentando processar o que estava vendo.

Ele apenas confirmou com um leve movimento de cabeça.

— Mas por quê? O que você fez?

— Eu disse a ele tudo o que tinha para dizer sobre o fato de eu não sentir atração por homens. Também falei que não tenho mais vontade de praticar baseball... — Ele suspirou profundamente, exausto.

— Ele te bateu só porque você se assumiu gay e porque queria aprender coisas novas, não só o que ele quer que você aprenda? — perguntei, a incredulidade e a raiva visíveis na minha voz.

— Sim...

— Demyan, eu posso não ter as palavras certas para confrontar o idiota do seu pai, mas estou tentando encontrar a melhor forma de expressar o que sinto. Somos amigos desde que eu tinha 6 anos e você 9. Não vou deixar isso passar em branco.

— Naomi, não precisa...

— Não, Demyan! Eu vou fazer isso por você! Olha pra você... Está machucado, e não é um machucado qualquer. Seu corpo inteiro está ferido. Ele te bateu por um motivo idiota! — A raiva estava borbulhando dentro de mim.

— Naomi, eu... O que fiz de errado? Passei uma semana inteira ensaiando cada palavra, não cometi um erro sequer e mesmo assim ele não me aceitou. Às vezes, sinto falta da mamãe. Ela provavelmente me abraçaria e diria que está tudo bem...

— Demyan, ela teve que mudar de cidade. Quando as coisas melhorarem, ela poderá até morar com você, se quiser — levantei-me e fui até a gaveta para pegar um remédio. — Já tomou algo para a dor?

— Ainda não, não saí da cama para nada...

— Espera aqui.

Desci as escadas, peguei um copo d'água na cozinha e subi novamente. Entreguei o copo com água e o remédio a ele.

— Demyan, depois que tomar o remédio, você precisa descansar.

— Eu não consigo dormir — ele colocou o copo na mesinha ao lado.

— Lembra quando eu era pequena e você contava histórias inventadas para eu dormir? — perguntei, me sentando na beirada da cama novamente.

— Lembro, você sempre dormia na metade das histórias.

— Sei que éramos mais novos, mas não custa tentar agora, né?

— É, na verdade, não custa — ele se deitou, enrolando-se nas cobertas.

— Então, vamos lá. Preparado?

— Estou — ele me esperou começar.

Havia uma garota que amava flores, de qualquer tipo e cor. Ela amava mais do que tudo. Um dia, conheceu um rapaz que era fechado e sério com todos. Apesar de saber disso, fez questão de se aproximar dele. Todas as segundas e sextas, ela lhe dava uma flor: nas segundas para desejar uma boa semana, e nas sextas para um bom final de semana. As amigas dela se perguntavam por que ela gastava seu dinheiro comprando flores para alguém que nem se abria com ela. Depois de dois anos, a garota não desistiu. Ela era destemida; se queria algo, ia atrás até conseguir. O garoto disse que não sabia cuidar bem das plantas e a chamou para ajudar. Quando ela chegou lá... — dei uma pausa dramática.

— Quando ela chegou lá? — Demyan perguntou, interessado.

— Ele criou um campo de flores só para ela. As flores estavam cuidadas, o campo era colorido como um arco-íris. Ele pesquisou o nome de cada flor que ela lhe deu, só para plantá-las lá.

— E qual é a mensagem dessa história? — Demyan disse, quase pegando no sono.

— Às vezes, mesmo que você não veja os resultados imediatamente, eles estão lá. Não é porque não vê que não existe.

Quando ia dizer algo mais, ele já estava dormindo. Fechei o vidro da janela e fiquei lá, fazendo companhia para ele enquanto dormia como um príncipe encantado.

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Oi xuxus!, gostaram do capítulo? Espero que sim.

Fiquei 3 dias só escrevendo esse capítulo, pensando nas palavras que eu iria colocar.

Bjss, boa leitura 🌷

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