The Black Dog | 01

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"Vou jantar com os caras depois do trabalho" — Amor

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"Vou jantar com os caras depois do trabalho" — Amor.

O suspiro sai involuntariamente da minha garganta ao ler a mensagem. Passei o dia correndo para conseguir fazer tudo e desisti de lavar o cabelo para poder fazer janta para ele. Keisuke poderia ter tido a decência de me avisar um pouco mais cedo.

A televisão ainda está alta demais na sala de estar, mas o cansaço já está me dominando. Não tenho forças para gritar para as crianças diminuírem mais uma vez. Só aceito e continuo cumprindo minhas obrigações mesmo com o barulho incessante que nunca abandona minha mente.

— Mãe, amanhã posso ir na casa da minha amiga? A mãe dela já sabe, ela quer fazer uma tarde de filmes.

Ivy, minha filha mais velha, entrou na fase em que sempre está enfiada na casa de alguma amiga. E quando finalmente está em casa, eu tenho outras quatro ou cinco pré-adolescentes para ficar de olho.

Sorrio de canto e concordo com a cabeça, cansada demais para sequer verbalizar a permissão. Conheço as mães das amigas dela e todas nós concordamos que as meninas podem visitar umas às outras, desde que os pais estejam cientes. Ivy sai pulando, o cabelo preto balançando a cada passo dado com as meias brancas no chão. Outra guerra que escolho não comprar.

Terminei de ajeitar e mesa e chamei as crianças para comer. Antes que eu pudesse me sentar, escuto o som alto de algo caindo no chão, seguido do choro de Kian, meu filho mais novo.

— Machucou meu amor? — pergunto enquanto ele chora alto e forte, esfregando a cabeça.

Tem apenas três anos e está na fase terrível onde a palavra favorita dele é "não", desde que seja ele que diga. Preciso de alguns minutos para acalmá-lo antes de finalmente podermos comer.

— Mãe, só três pratos? O pai não vai jantar em casa? — é a primeira coisa que Ivy nota ao sentar-se à mesa.

— Ele vai ficar até mais tarde no trabalho hoje, meu amor.

— Mas hoje é sexta.

— Eu sei. No domingo a gente tenta dar um passeio todo mundo junto, pode ser? — Acariciei o rosto dela e Ivy concordou.

Ela sempre fica magoada pela ausência do pai dentro de casa. Eu tento preservar o máximo possível da inocência dela, então, enquanto jantamos, eu mantenho minha cabeça no lugar e ouço meus dois pequenos contarem tudo aquilo que eles acham que é importante e válido de compartilhar.

Depois de jantar preciso lavar a louça, arrumar a cozinha, dar banho no pequeno, checar se Ivy não vai ficar até tarde no celular, conferir se a casa está toda fechada, ter certeza de que tudo está em ordem, colocar comida para o cachorro, colocar Kian para dormir, conferir novamente se Ivy está dormindo, e não no celular... só então finalmente posso tomar um banho quente e relaxar um pouco.

Já passa da meia-noite e é a primeira vez no dia que eu finalmente tenho um tempo para cuidar de mim.

Dentro do box, a água quente me aquece e me relaxa, me fazendo esquecer um pouco os problemas. O trabalho estressante, as tarefas de casa que nunca se acabam... é tanta coisa que às vezes sinto que vou explodir. Na maioria dos dias, o banho é o único momento em que eu consigo relaxar por completo.

De toalha, de frente para o espelho, passo meus cremes de rosto e me preparo para dormir, limpando o vapor do espelho com o antebraço. A toalha escapou e eu me vi nua por um instante. Desviei meu próprio olhar.

Ter dois filhos mudou meu corpo, isso não é nenhuma novidade. Não tenho mais os peitos empinados do passado e nem a barriga que adorava exibir com mini blusas e calças de cintura baixa. Sei que não estou horrível para a minha idade ou para o resultado de duas crianças, mas toda vez que me olho no espelho parece que meu sex appeal desapareceu por completo.

A ideia só se reforça com a distância do meu marido.

Se ele passa pouco tempo em casa, passa menos ainda deitado comigo. Talvez se eu fosse um pouco mais vaidosa, se conseguisse ir na academia regularmente, se fizesse algumas cirurgias e mantivesse minha aparência um pouco mais sensual ele tivesse mais interesse em passar mais tempo comigo. Mas tudo o que posso oferecer agora é um cabelo escuro e molhado, porém penteado, um rosto limpo, sem maquiagem e um corpo perfumado.

Não sei quando isso se tornou insuficiente para ele, mas a verdade é que Keisuke passa cada vez menos tempo olhando para mim.

Quando finalmente vou me deitar, estranho a ausência dele. É quase uma da manhã, mas ele não voltou para casa ainda. Desisto de secar o cabelo e deito com ele molhado. Ao fechar os olhos, as preocupações me consomem mais uma vez.

Em algum momento do nosso casamento, Keisuke decidiu que a família não era mais tão importante assim. Não que ele seja ruim, ele só se tornou ausente. Os amigos são prioridade, o trabalho é prioridade, o descanso dele é prioridade... tudo é prioridade. Nós só ocupamos algum espaço na vida dele quando sobra tempo.

Talvez ele tenha se cansado das gritarias das crianças, das noites de choro dos bebês... sinceramente? Eu também me cansei, mas não pude me dar ao luxo de simplesmente largar tudo e passar o dia no SPA assim como ele passa com os amigos.

Mas mesmo nesses dias, Keisuke não tem o costume de chegar tão tarde.

Abro o celular e entro no aplicativo de localização e rastreio. Posso ver o aparelho de Ivy em nosso endereço. Nós o temos por segurança da nossa garota, e também para que ela possa ir sozinha a alguns lugares. Keisuke, entretanto, sempre costuma deixar a localização dele desligada para poupar bateria. Eu faço o mesmo, geralmente só ligo quando Ivy está me esperando em algum lugar para que ela saiba quando eu chegar.

Hoje, Keisuke esqueceu de desligar a localização dele.

The Black Dog? — a pergunta escapa de meus lábios ao ver o ícone do celular dele num bar não muito longe do trabalho.

Procuro restaurantes ao redor, mas não há. Seria possível que ele saiu para jantar com os amigos e estendeu para um happy hour? Não que isso seja um problema, ele é ausente, mas nunca brigamos por conta de eventos separados.

Posso ver então o ícone do telefone dele saindo do bar, caminhando e então a informação de que ele está no carro. Fico tentada a clicar no botão que envia uma notificação escrito "eu amo você", mas algo me impede. Apenas bloqueio a tela e apago o abajur, me preparando para dormir.

Quis perguntar para ele quando chegasse em casa, mas o cansaço me traiu e peguei no sono antes mesmo que Keisuke voltasse.

Quis perguntar para ele quando chegasse em casa, mas o cansaço me traiu e peguei no sono antes mesmo que Keisuke voltasse

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