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Narradora pov.—

Ana sabia que tinha errado e, por isso, precisava ser cautelosa com Chiara. Não aguentava vê-la daquela maneira, indiferente, cinza. Também existiam outras cores  nela, cores que, sempre que seus olhos a encontravam, Ana via mais brilhantes do que nunca! O vermelho principalmente, mas sabia que o cinza que Chiara tanto odiava estava a dominando, e o que mais doía em Ana era estar ciente de que isso tudo era culpa dela. Ana afastou as cortinas brancas e se aproximou de Chiara. A imagem era espetacular, e com certeza faria algo com ela: uma pintura talvez, um poema, ou até mesmo uma música.

– Nada que eu diga vai transmitir tudo que se passa na minha cabeça agora. – A italiana se assusta com a presença de Ana. – O que você está fazendo aqui fora sozinha? — A brasileira pergunta com uma expressão que misturava preocupação e algo que Chiara não conseguiu definir imediatamente.

Chiara tentou manter a postura indiferente, mas não conseguiu esconder a emoção em sua voz.

— Só precisava de um pouco de ar fresco. — Chiara respondeu, olhando para longe.–Vá embora per favore Ana, non quero parlare con te. Non agora. - Chiara murmurou, lançando-lhe um olhar chateado e respirou fundo, tentando controlar o turbilhão de sentimentos. Ela sabia que precisava de um tempo para processar tudo isso, e agora não era o momento certo para uma conversa definitiva.

Ana não sabia como agir. Não tinha como colocar em palavras as emoções que sentia naquele momento. Ignorou o pedido e ficou ali ao lado de chiara, sem desviar os olhos da mulher.

Após algum tempo de hesitação, roçou seu polegar contra o da italiana, sentindo, por uma fração de segundo, aquela pele oliva que tanto sentira falta.

A mão de chiara rapidamente se afasta, seu olhar se voltando para a mulher ao seu lado.

– Che pensa que está a fazer, carolina? Pensa que puoi estragar tutto de novo, che io vou deixar-te ferirme e brincar con il mio cuore? Non, io devo te botar limites. – a italiana gesticulava, tentando controlar o volume da voz.

– Eu não quero te machucar, nem falar nada de errado. – Ana faz uma pausa, molhando seus lábios secos pela bebida – Sabe que sinto sua falta. – sussurrou, com o remorso nublando seu rosto.— Sinto muito, Chiara. Eu... eu sei que as coisas terminaram de maneira difícil, e talvez não tenhamos feito as melhores escolhas, mas... — Ana começou a dizer, mas foi interrompida pela própria dificuldade de encontrar as palavras certas.

Chiara fechou os olhos por um momento, lutando contra a onda de emoções que ameaçava transbordar. Quando os abriu, estavam molhados, mas ela os limpou rapidamente.

Ana tira um charuto pela metade do bolso de seu blazer, o acendendo e dando uma longa tragada. As duas tornam a olhar para a vista, deixando o silêncio se fazer presente. O ar envolta era denso, assombrado por todas as coisas não ditas que tinham entre si. Chiara pega o charuto da mão da brasileira e dá algumas tragadas, soprando a fumaça para longe e tornando a encarar sua ex parceira, que agora parecia tão diferente da ultima vez que havia a visto. Seus cabelos estavam mais claros, com algumas mechas e sua camisa era branca, diferente das escuras que sempre preferia vestir. Sempre ficara bem de branco, mas insistia nas roupas negras. O tipo de lembrança infeliz que chiara ainda tinha em sua memória. 
Chiara sabia que a proximidade era tentadora, mas ela sabia que precisava ser cautelosa. A dor de um relacionamento que ainda a ferisse estava à espreita, e ela não queria abrir feridas antigas sem saber se poderia curá-las.

– Perche fai questo, ana? Nunca vai cansar di sabotarti? – chiara suspira, devolvendo o charuto à sua mão.

– não foi fácil precisar te dividir com o mundo, ter te tido longe mesmo quando sentia sua falta mais que tudo. – os olhos de ana percorreram a italiana, focando em como seu corpo se fazia convidativo naquele vestido carmim.

Jardim dos sonhos - ChianaOnde histórias criam vida. Descubra agora