A tempestade rugia do lado de fora das janelas, assolando o reino de Mônaco. Tudo o que se via era a neblina da chuva e os incessantes pingos grossos de água, que embaçavam a vista de quem tentasse se aventurar do lado de fora. O vento jogava as árvores de um lado para o outro sem piedade de seus galhos. O céu noturno ficava tão claro quanto o dia a cada relâmpago, que era seguido por estrondos que estouravam a audição.
Dentro do castelo, no abrigo de um quarto quente, a rainha estava em trabalho de parto. O rei segurava sua mão de forma encorajadora, tentando passar apoio à sua amada, junto às parteiras que incentivavam a mulher a continuar.
— Vamos, minha rainha, continue, está indo muito bem - a parteira incentivava.
— Respire mais uma vez, está quase lá, meu amor, logo nosso filhote estará em nossos braços - o rei beijava sua testa.E então, em um último esforço, ele nasceu, um pequeno ser, frágil e delicado. Mas havia algo de errado. A rainha começou a entrar em pânico, as feições preocupadas das parteiras a deixando mais aflita.
— Por que ele não está chorando? — ela perguntou desamparada. Seu parceiro beijou sua mão, tentando acalmar a rainha, mas estava tão aflito quanto ela. — Por que meu bebê não está chorando? — a ômega começou a chorar.
A parteira mais velha, Martha, pegou o pequeno ser em suas mãos. Ele estava ficando azul-arroxeado. Ela o apoiou na pequena mesa onde apoiava os materiais para o parto e começou a fazer compressões em seu peito frágil. Pascale começou a chorar ainda mais. O rei se juntou a ela de maneira silenciosa, puxando a parceira para si, beijando sua testa.
— Não! Meu filho! — ela dizia angustiada em soluços tão fortes que seu peito doía. — Por favor! Não leve meu filho! Apolo, eu te suplico! Não deixe meu filhote morrer! — ao seu lado, Hervé começou a entoar uma cantiga antiga, uma súplica aos deuses e às forças da natureza.
Martha continuava as compressões. Ao seu lado, sua aprendiz, Tiana, limpava o nariz do bebê, tentando fazê-lo reagir.
— Vamos, pequeno, vamos — a beta orava baixinho.
Por um momento, apenas a voz de Hervé podia ser escutada, recitando a antiga canção monegasca:
Apollon, seigneur de la sagesse
Donne-moi ta bénédiction, ton mentorat
Protège-moi dans le noir
Donne-moi force et courage, avec ton cœurTa lumière guide mon voyage
Ta chaleur, mon âme chaleureuse
Dans l'obscurité, ta flamme brille
Dans ta force, je trouve la vieApollon, seigneur de la sagesse
Donne-moi ta bénédiction, ton mentorat
Protège-moi dans le noir
Donne-moi force et courage, avec ton cœurÔ Apollon, écoute mon appel
Dans ta lumière, je trouve ma vie
Avec ta force, je ferai face à n'importe quelle douleur
Dans ta flamme, je serai toujours un gagnant¹De repente, a janela se abriu com um estrondo, o vento derrubando tudo que via pela frente. As poucas velas acesas se apagaram e as lâmpadas estouraram. O silêncio se instalou. Então, as velas se acenderam novamente, suas chamas maiores e mais intensas, sem se intimidarem pelo vento raivoso. Um brilho cegou os presentes por um instante.
Uma figura apareceu na varanda, uma sombra dourada que emanava o mais puro calor. Ela flutuou até o pequeno filhote. A parteira mais nova se afastou assustada, mas Martha ficou, apenas retirou as mãos do bebê e fez uma reverência à sombra. Ao se levantar, se afastou lentamente.
A sombra esticou o que julgavam ser um braço, que parecia ter um véu pendurado por ele que escorria em uma névoa dourada. Ela tocou o peito do bebê, que se iluminou, e pela sua pele parecia ter ondas de sol líquido escorrendo por debaixo dela. A sombra foi aos poucos se fundindo ao filhote, seu brilho escorrendo para ele pelo ponto em que se tocavam, até que restasse apenas o bebê. Pelo seu peito, as ondas que agora pareciam raios de sol se mexiam por seu corpo e seguiam para suas costas.
Martha cuidadosamente pegou o bebê em seus braços e olhou as costas dele. Os raios brilhantes terminavam de formar uma marca que seguia a linha de sua coluna. No topo, havia um sol estilizado, um círculo perfeito que emanava raios em todas as direções. Esses raios eram longos e esguios, intercalados por pequenos triângulos que davam a impressão de uma luz intensa e poderosa irradiando do centro. Logo abaixo do sol, uma lua crescente repousava, suas pontas delicadamente curvadas para cima, como se estivesse abraçando a luz acima dela. Mais abaixo, uma estrela de quatro pontas emergia, suas extremidades alongadas e detalhadas com pequenos traços adicionais. Ao redor desses elementos principais, pequenos pontos e traços decorativos preenchiam os espaços seguindo em linha, ligando todos os desenhos de forma contínua.
A parteira pôs a mão no peito do bebê e suspirou de alívio ao sentir os batimentos fortes e acelerados, firmes e determinados. Rapidamente o embalou em um cobertor e o entregou à rainha.
— O Fogo respondeu às suas súplicas, meus soberanos — ela fez uma reverência. — Que os deuses abençoem o filho do sol, a mais pura representação do fogo — e com um último aceno, ela e Tiana fecharam as janelas, voltaram-se para a família real e fizeram o gesto para sol em libras, deixando o rei e a rainha em seus aposentos em seguida.
A rainha sentia lágrimas grossas da mais pura felicidade escorrendo pelas bochechas. Seu nariz escorria, e o rei agradecia aos céus, sorrindo e beijando a testa da parceira.
— A minha pequena bênção, obrigada — Pascale sussurrou extasiada.
Ao seu lado, Hervé permitiu que suas lágrimas de felicidade caíssem.
— Bem-vindo ao mundo, Charles — disse, deixando um beijo na testa do filho. Charles abriu seus olhos, duas orbes verdes, manchadas de um marrom que parecia oscilar em dourado. Ele bocejou, olhou para os pais e riu para eles, esticando suas pequenas mãozinhas para tocar o rosto da mãe.
Uma vela tremulou na cômoda, e Hervé a olhou atento. Um sussurro soou em seus ouvidos, ele percebeu a rainha ficar tensa e seus olhos se arregalarem, olhando atentos pelo quarto. Ele segurou sua mão, e Charles riu nos braços da mulher, parecendo atento às expressões dos pais.
— Ele irá sofrer — a voz sussurrou junto de outras que repetiam suas palavras em ecos. — Vai se machucar de inúmeras formas — Hervé puxou a parceira para perto e a abraçou, pousando uma mão nos cabelos do filho. — Ele terá em mãos o mais puro caos e, até que aprenda a conviver com ele, causará desgraça e destruição se as emoções não conciliar — Pascale puxou Charles mais para perto. — Seu oposto já respira nesse mundo, e só quando unidos, a harmonia vai reinar, e o equilíbrio perfeito vão encontrar — a voz se tornou apenas uma, um sussurro solitário — Apenas quando ele aceitar o caos dentro de si, poderá ser feliz.
A vela voltou ao normal e uma brisa passou por eles, brincando com os cabelos de Charles em um último sussurro:
"O filho do Fogo chega para reinar."
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1179 palavras
A imagem de capa de capítulo é a marca de Charles
Autora: Oi kkkkk
Finalmente deixei de ser apenas uma leitora e tomei coragem pra escrever.
Essa história vem dominando minha cabeça a alguns meses. Tenho um capítulo inteiro escrito, bem maior que esse, mas ainda tenho que revisar pra erros gramaticais, portanto comecei com essa introdução ao pequeno mundo que reside em minha mente.
Espero que gostem.
Tia Ecila dá tchau tchau e aconselha a não ir dormir três da manhã a semana inteira ( experiência própria)¹Apolo, senhor da sabedoria
Dá-me tua bênção, tua mentoria
Protege-me na escuridão
Dá-me força e coragem, com teu coraçãoTua luz guia minha jornada
Teu calor, minha alma aquecida
Na escuridão, tua chama brilha
Em tua força, encontro vidaApolo, senhor da sabedoria
Dá-me tua bênção, tua mentoria
Protege-me na escuridão
Dá-me força e coragem, com teu coraçãoÓ Apolo, ouça minha súplica
Na tua luz, encontro minha vida
Com tua força, enfrentarei qualquer dor
Na tua chama, serei sempre vencedor

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The lost souls - book 1: The Water and the Fire
FanficEscute bem o que lhe sussurro, em meu último suspiro lhes profetizo Duas almas destinadas a se encontrar Para amar ou odiar Seus caminhos ligados estão Ao odiar haverá destruição Ao amar no caos reinarão Abençoados dos deuses Escolhidos pelas f...