Cap. 1

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Capítulo 1: O Convento de Santa Luzia

O vento soprava com força naquela tarde sombria, fazendo as árvores ao redor do Convento de Santa Luzia agitarem suas folhas secas de maneira violenta. Yoongi, com apenas dez anos, estava parado na entrada, segurando a mão da mãe, mas não encontrava nenhum consolo no toque. O coração do garoto batia rápido, cheio de medo e confusão. Ele não entendia por que estavam ali, diante daquela porta pesada. Não entendia o olhar de desprezo nos olhos da mulher que deveria amá-lo acima de tudo.

— Você... manchou meu nome. — A voz dela era fria, quase um sussurro, mas carregada de desgosto. — Como pôde ser tão... sujo?

Yoongi abriu a boca, querendo se explicar, mas as palavras pareciam sufocá-lo. Ele ainda se lembrava claramente do dia em que sua mãe os pegou no parque: ele e Jeongguk, seu melhor amigo, rindo, abraçados como faziam sempre. Mas, naquele dia, houve algo a mais — um selinho inocente, um gesto que ele mal compreendia na época, mas que, para sua mãe, era inaceitável. Algo tão simples e natural para ele havia se tornado a razão do seu exílio.

Ela soltou sua mão abruptamente, como se o simples toque de Yoongi a queimasse. Antes que ele pudesse falar, pedir uma explicação, implorar para que não o deixasse, ela virou as costas e se afastou com passos rápidos. Não olhou para trás, nem uma única vez.

Yoongi ficou parado, impotente, sua voz presa na garganta. O som das dobradiças da porta se movendo atrás dele o fez virar. Uma freira surgiu no batente, com uma expressão serena no rosto, mas havia uma frieza nos olhos dela.

— Venha, meu filho — disse a freira, segurando-o pelo ombro com firmeza, mas sem ternura. Ele lançou um último olhar para sua mãe, que já desaparecia pela estrada empoeirada, e, naquele momento, sentiu como se algo dentro dele tivesse sido arrancado.

Desde o instante em que as portas do convento se fecharam, Yoongi se viu cercado por uma solidão sufocante. O convento era um labirinto de paredes brancas e frias, cada corredor parecia mais vazio e interminável que o outro. Ele era o único menino naquele ambiente, uma presença estranha, uma mancha naquele cenário de pureza, e essa diferença o isolava ainda mais. O silêncio e a rigidez daquele lugar o envolviam como um cobertor pesado, tornando difícil até mesmo respirar.

As palavras de sua mãe ecoavam em sua mente: "Sujo." Por que ela o chamou assim? Tudo o que ele fez foi selar os lábios de Jeongguk em um gesto que ele mal entendia. Mas, para ela, era algo abominável. Ele se perguntava se Deus também o considerava impuro, se aquele lugar sagrado o redimiria ou o condenaria.

Logo nas primeiras horas no convento, Yoongi foi levado para um pequeno quarto, separado do dormitório das meninas. Ao contrário delas, que compartilhavam suas vidas, ele estava destinado a ficar só. A luz fraca que entrava pela pequena janela lançava sombras frias nas paredes, e o espaço parecia menor e mais claustrofóbico a cada segundo.

As meninas o observavam à distância, cochichando entre si. Havia curiosidade em seus olhos, mas também algo mais — uma espécie de desdém, como se sua presença fosse um incômodo. Ele era uma anomalia, uma distorção naquele ambiente controlado e previsível. Yoongi notava os olhares rápidos e os sussurros, e aquilo o fazia se encolher ainda mais dentro de si.

"Antes de tudo desmoronar, Yoongi e Jeongguk eram inseparáveis. Passavam as tardes correndo pelo parque, explorando cada canto, compartilhando risadas e segredos que acreditavam ser eternos. Eles eram mais que amigos.  Lembrava-se de uma tarde específica, quando estavam deitados na grama, com o sol aquecendo suas peles. Jeongguk o olhou com uma seriedade que não combinava com a idade que tinham.

— Yoon, — Jeongguk disse, sua mão firme segurando a de Yoongi, — eu prometo que nunca vou te deixar. Nunca.

Yoongi sorriu, sentindo o peso daquelas palavras. — Eu também prometo. Não importa o que aconteça, estaremos sempre juntos.

A promessa foi selada com um abraço apertado. "

Naquele momento, o mundo parecia seguro, estável, como se nada pudesse separá-los.

Mas, agora, essa lembrança só trazia dor, uma dor que apertava o peito de Yoongi todas as noites, quando ele estava sozinho em seu quarto no convento.

No convento, as freiras logo deixaram claro que Yoongi tinha um papel especial. Ele seria moldado para servir a Deus, preparado para se tornar padre. Mas, para Yoongi, aquilo era uma prisão. Cada dia era uma repetição insuportável: estudos das escrituras, orações longas e exaustivas, práticas de rituais. Ele sentia como se estivesse se afogando em expectativas que não eram suas, tentando se ajustar a um papel que nunca quisera.

As interações com as meninas eram poucas, e sempre breves. Ele não era um de seus pares. Quando cruzavam seus caminhos, ele sentia o desconforto no ar, a distância que era colocada entre ele e as outras crianças. Yoongi sabia que era visto como uma figura estranha, um elemento fora de lugar.

Mas entre todas as figuras do convento, era o padre quem mais o perturbava. O homem, responsável por sua formação espiritual, tinha uma presença inquietante. Seus olhos pareciam penetrar em Yoongi de uma forma que o deixava desconfortável, como se o estivesse julgando ou, pior, desejando algo. As visitas do padre se tornaram cada vez mais frequentes, e cada uma delas aumentava o desconforto de Yoongi.

— Você precisa entender, Yoongi, — o padre dizia, seu sorriso nunca alcançando os olhos, — a pureza é essencial para o serviço a Deus. Você deve manter seu corpo e alma livres de qualquer tentação.

Essas palavras, que deveriam trazer conforto, eram sempre acompanhadas por toques sutis, por um olhar que durava um segundo a mais. Yoongi sentia o estômago revirar a cada vez que o padre se aproximava mais do que o necessário, tocando-lhe os ombros, ou deixando a mão em sua por tempo demais.

As noites eram ainda piores. No quarto austero, Yoongi se sentia totalmente isolado. O silêncio do convento à noite era absoluto, quebrado apenas pelos passos ocasionais das freiras, ou pelas lembranças que não lhe davam paz. Ele se lembrava das tardes com Jeongguk, do som das risadas e da liberdade que pareciam tão distantes agora. Cada lembrança era um alívio momentâneo, mas também uma tortura constante.

Yoongi começava a perceber que o convento não era apenas uma prisão física, mas também emocional. Ele não podia ser quem era, e cada dia sentia-se mais preso, mais sufocado pelas expectativas e pelo olhar penetrante do padre.

Certa tarde, depois de horas lavando as roupas das freiras, Yoongi se encontrou olhando para fora da janela da lavanderia. As árvores balançavam ao vento, da mesma forma que no dia em que sua mãe o deixara ali. O sentimento de perda foi tão forte que suas pernas quase cederam. Ele não sabia se estava com raiva, triste ou simplesmente vazio. Talvez fosse tudo ao mesmo tempo.

— Yoongi, volte para o trabalho. — uma freira chamou. Ele obedeceu sem dizer nada, as mãos mergulhando novamente na água fria. Lavando roupas que não eram suas, sua mente vagava para longe, para um tempo onde ele ainda tinha esperança.

Death Angels | YKOnde histórias criam vida. Descubra agora