Pov Capitão Nascimento

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Acordo com o barulho irritante do despertador. Me coloco de pé relutantemente, eu odeio acordar cedo. Olho para o vazio da minha cama, lembrando de Rosane. Afasto o pensamento e logo entro no banho. Ponho minha farda, o coturno e ajeito mais ou menos o cabelo. Tomo café, escovo o dente e saio de casa em direção ao batalhão.

Lembro que hoje é o primeiro dia dos novos integrantes do Bope, eu não vou facilitar para eles, vou começar com o treinamento de rotina, é bom que eu já ponho em dia o do resto da equipe.

Chego e vou direto para minha mesa, acerto algumas coisas do dia anterior e vou reunir a equipe para o treinamento. Logo de cara encontro com os tenentes Netos, Mathias e Soares. Neto e Mathias eram característicos policiais, Neto é um garoto branco e impulsivo, já Mathias é negro, mais comedido e divido entre a polícia e a faculdade de direito. E daí tem Soares.

Primeiramente que ela é mulher, nada contra as mulheres, mas o lugar delas não é no Bope. O pior é que a desgraçada passou por todas as fases de admissão, então eu nem tenho como sair com ela. Até que ela é durona, mas quando o tempo chegar ela vai perceber que não é capaz do trabalho, eu também não vou facilitar para ela.

Uma coisa tenho que admitir, ela faz bem para a vista. Morena, com um cabelão, corpo violão, boca e olhos grandes; ela tem uma atitude marrenta e calorosa que é de deixar qualquer um maluco. Todo mundo da unidade paga um pau para ela, parecem até que nunca viram uma mulher na vida.

De longe ouço a conversa deles:

– Neto, André! – Ela os abraça. – Que saudade.

– Malu! – eles falam animados.

Porra, logo de manhã cedo e eu tendo que escutar essa viadagem.

– Parece que tem séculos que eu não vejo você. – Neto diz

– Infelizmente, foi apenas um mês que nos deram de folga depois do curso.

– Malu você... –André começa a falar, mas fico de saco cheio e o interrompo.

– Maluzinha – digo ironizando – Tenentes Neto e Mathias, precisam que venham se reunir com a equipe.

– Me perdoe, capitão, mas eu prefiro que me chame de tenente Soares. – Ela falou profissionalmente.

Tudo bem, eu posso ter sido implicante, mas isso aqui é o batalhão da polícia militar, ficar chamando os outros por apelidinho não dá.  

– Então talvez deva aconselhar seus colegas a fazerem o mesmo, Soares. – Respondo.

Saio e vou chamar os outros integrantes. Já no centro de treinamento, começo como habitualmente e os mando fazer alguns exercícios, atento para que eles os executem perfeitamente. Passado algum tempo, observo Soares e percebo sua trança batendo para frente e para trás. Não sei como não notei o erro antes, já é ruim ela ter o cabelo desse tamanho, agora uma trança no meio do treinamento é pedir para ser humilhada.

Espero para todos estarem em formação e me aproximo dela.

– Soares, o que a senhora acha que vagabundo na favela vai fazer quando ver essa sua trança? Passou um mês e a senhora não lembra de nada? A essa altura do campeonato, você só pode tá de sacanagem com a minha cara.

Quem vê de fora acha que eu estou sendo super grosso, mas é assim que as coisas funcionam, se eu vejo fazendo merda tem que corrigir desse jeito, senão eles não aprendem e eu fico com uma equipe cheia de otário.

Agarro seu cabelo e puxo, mas sou surpreendido com sua mão no meu pulso. Aí você vê, a mão dela nem consegue segurar meu pulso direito, como ela vai aguentar o resto?

CICATRIZES | Capitão NascimentoOnde histórias criam vida. Descubra agora