POV CAPITÃO NASCIMENTO
Eu estava prestes a fechar a porta da minha sala depois de voltar de uma reunião com a minha equipe quando senti mãos pequenas agarrarem meus braços e a porta atrás de mim sendo fechada violentamente. Eu já havia alcançado minha pistola quando me dei conta de quem era.
- O que você pensa que está fazendo? - perguntei na mesma hora enquanto encarava os olhos selvagens de Maria Luísa.
Apenas um empurrão era suficiente para que ela estivesse do outro lado da sala, eu sabia disso, ela sabia disso. Ela realmente era louca.
Ela começou a exigir que eu falasse porque eu estava agindo estranho, mas eu não conseguia prestar atenção no que ela falava, só no quanto ela estava linda naquele momento. Sua respiração estava ofegante e seus lábios e bochechas rosados, provavelmente da adrenalina, que eu também estava começando a perceber os efeitos.
Honestamente, eu entendia o ponto de vista dela, eu realmente estava evitando ela, mas era por uma boa razão. Primeiramente, ela era minha subordinada e na nossa profissão não existe um cenário em que onde nossa relação estava indo não desse merda. Eu precisava tratá-la igual aos outros.
Quando eu escutei ela e o namorado trasando nunca senti tanto ciúmes na minha vida, nem quando estava casado. Isso me fez perceber o quanto me deixei ir, até o momento pensei que apenas a via como o que de fato ela é: minha colega de trabalho e vizinha, mas aparentemente esse não era mais o caso.
Nós continuamos a discutir, eu estava ficando cada vez mais irritado, eu não entendia porque ela tinha que ser tão difícil. Senti meus músculos ficando mais rígidos e meu sangue mais quente. Finalmente explodi.
- Porra Maria Luísa, você tá me deixando louco. Você quer mesmo saber? quer mesmo?! - gritei e ela me olhou com os olhos arregalados.
Eu retirei suas mãos de mim e a empurrei até minha mesa num movimento brusco. Ela estava a alguns centímetros de mim, tão perto que eu até poderia… Eu estava prestes a mandar tudo pra casa do caralho e fazer todo tipo de loucura com ela ali e agora, mas rapidamente recobrei o juízo.
Não contei toda verdade para ela, ela não precisava saber, mas contei algo que fosse verdade o bastante para ela aceitar e me deixar em paz. Contei que havia escutado ela o namorado, na mesma hora seu rosto ficou vermelho e ela saiu da minha sala quase que imediatamente depois.
Sentei-me na minha cadeira, ainda agitado. Me arrependi da forma como lidei com a situação, eu poderia ter posto ela para fora a força, ter ameaçado ela, não sei, qualquer coisa que não fosse aquilo. Eu tinha que ter tirado ela de cima de mim no mesmo instante, em vez disso eu a deixei, por algum motivo.
Segui com meu dia normalmente, ocasionalmente lembrando do que aconteceu. Voltei pra casa, tomei um banho quente e longo e fui direto dormir. Ainda era cedo quando eu acordei no dia seguinte, fui tomar café e arrumar a bagunça que estava no meu apartamento. Por volta das 8 horas recebi uma ligação do coronel, o que era estranho porque ele nunca ligava pro meu número pessoal e eu não deveria entrar no batalhão até às 15 horas. O coronel não me deu muitos detalhes, apenas disse que a filha do governador havia sido sequestrada na madrugada e me disse para convocar uma reunião de emergência com a minha equipe.
Assim que desliguei suspirei pesadamente e revirei os olhos, eu não tinha um dia de paz. Me esqueci, por um momento, do porquê escolhi essa carreira. Imaginei que nós teríamos que ir atrás da garota e só de pensar já fiquei 10 vezes mais cansado.
Fiz algumas ligações, troquei de roupa e fui direto pro batalhão. Chegando lá, fui direto para a sala de desenvolvimento tático e fiquei esperando com os outros até o coronel chegar. Quando ele chegou, foi direto ao assunto.
-Como alguns de vocês sabem, a filha do governador do estado do Rio de Janeiro foi sequestrada nesta madrugada. Porém, o governador já pagou o resgate. - Alguns murmurinhos de confusão se fizeram presente, confesso que eu também não entendi muito bem, se a menina já foi resgatada porque nós estávamos ali?
- Acontece que ele não está nada feliz com a situação - continuou o coronel. - ele quer a cabeça dos criminosos. O problema é que nós não sabemos nem qual facção que foi e o governador quer tudo resolvido em no máximo duas semanas.
Mais murmurinhos apareceram, só que dessa vez de insatisfação. Na mesma hora em que ele terminou de falar, fiquei em luto pelas minhas noites de sono.
-E o que o senhor diz que nós façamos? - perguntei ao coronel.
-Eu quero que a sua equipe e a do capitão Carvalho se juntem e vão botar terror nas principais favelas suspeitas, não interessa se é morador ou envolvido, vocês vão tentar arrancar qualquer informação possível. Entendido?
-Sim, coronel. Nós vamos começar imediatamente.
-Espera aí, Nascimento, tem mais. Eu quero que você e outra pessoa da sua equipe… - ele passou os olhos pelos meus homens e parou em Soares. - Você, querida. Vem cá.
Pude perceber ela virando os olhos sutilmente enquanto se dirigia até nós, achei graça.
-Sim, coronel? - Soares disse.
-Nascimento, você e essa jovem vão investigar o sequestro.
Olhei de relance para ela, que fez uma cara de quem comeu e não gostou quando escutou as palavras do coronel.
Eu não sabia se eu estava mais incomodado com o fato de que ele ia me deixar fora da operação ou que Maria Luísa seria minha parceira
-É isso por hoje. Carvalho e Nascimento, vou deixar vocês detalharam o plano, quando vocês acabarem deixem um relatório na minha mesa. - Ele fez menção de que ia embora, mas o parei antes disso.
-Calma aí, o senhor vai mesmo me deixar de fora da operação, coronel? - falei indignado.
-Capitão, depois nós conversamos. - ele saiu andando.
Por mais que eu quisesse o seguir e tirar essa história a limpo, eu fiz como ele disse e comecei a montar um plano com as equipes. Nós terminamos rapidamente e pedi para Carvalho cuidar do relatório enquanto eu ia falar com o coronel.
Fui até o seu escritório e bati na porta, ele me chamou pra entrar.
-Coronel, tudo bem?
-Fala Roberto. - ele falou cansado.
-Eu queria falar com o senhor sobre a operação do governador. Qual é o motivo de eu não estar envolvido nela?
-Nascimento, preciso de alguém investigando, a gente precisa acabar com isso o quanto antes. É porque você não viu como o governador tava, parecia uma fera.
-Mas porque me botar pra investigar e a tenente ainda por cima.
-Já tá na hora de você ficar mais no cérebro nas operações, Roberto. Ficar mexendo com fuzil, você acha que isso leva alguém a algum lugar?
Fazia sentido, mesmo assim, deixar só o Carvalho para tomar conta de duas equipes era loucura. E também não explicava porque ele escolheu Soares como minha parceira.
-E Soares? Porque ela?
-Eu quero soldados violentos nessa missão, não uma garota. E outra, teve aquela situação com o jornal, eu acho que é bom pra ela aprender a lição dela.
Soares não era tão indefesa quanto a maioria pensava. Mesmo assim, eu entendia de onde ele tirava esse pensamento.
-Só isso, Nascimento?
-Sim, senhor.
-Dispensado.
Me levantei e saí da sala, encontrando Maria Luísa a alguns passos de distância. Não falei nada com ela, apenas continuei andando e fui resolver outras coisas.
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CICATRIZES | Capitão Nascimento
RomanceMalu finalmente realizou seu sonho, passou o inferno que foram os cinco meses do curso de operações especiais chegou o momento de finalmente exercer sua profissão, como policial do BOPE. Ela só não esperava que seu pesadelo continuaria até depois da...