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07 de fevereiro, 2024. Sábado.

Eu caminhava de um lado ao outro na sala perfeitamente não-limpa. Meu gato seguia meus passos com os olhos, suas orelhas atentamente apontando para cima.

Como qualquer outro início de final de semana, hoje eu não teria que percorrer o mesmo longo caminho até minha Universidade. Isso significava mais tempo para trabalhar no caso da Annie. E seria o mesmo de sempre, se não fosse por ele...

Ontem, ele apareceu de repente, não disse o próprio nome, quem era, o que ele queria. Ele apenas deixou claro que me ajudaria a encontrar minha amiga, e provou que seria uma peça útil no quebra cabeça.

Eu não pude deixar de aceitar. Seria burro, não?

Anos sem nenhuma pista dela. Andando numa estrada longa e vazia, sem rumo, dando voltas e voltas. Ter uma novidade e algo realmente valioso era algo que eu não podia ignorar. Era uma oportunidade.

E no dia seguinte, aqui estava eu, me questionando de novo e de novo se aquela foi a escolha certa. E se ele for um policial infiltrado? E se ele for o sequestrador querendo me desviar do caso? E se ele for alguém querendo pregar uma peça?

E por que eu sequer estou me referindo a aquela pessoa como "ele"? Mal sei de quem se trata... Vivih ficará furiosa.

Bem, ainda é cedo. Eu posso negar a ajuda desse cara. Eu ainda não disse nada para ele.

E todo Sábado é dia de compras, e do trabalho semanal na casa. Então eu não tenho muito tempo para ficar de um lado para o outro, estressada com isso.

Eu vou conseguir me decidir mais firmemente com a opinião da Vivih.

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14:35, mercado.

Eu andava pelo corredor de frutas, observando o preço dos tomates e pegando apenas os melhores, o murmúrio das pessoas ecoando atrás de mim. Segurava o carrinho de compras com apenas uma mão, me curvando, desatenta.

Por trás de mim, uma mulher de cabelos loiros enrolados, pele bronzeada e olhos castanhos mel se aproximou, dando leves toques no meu ombro, chamando minha atenção. Eu me levantei, e a mulher me abriu um sorriso limpo e claro.

— Milly, né? Se lembra de mim? Sua vizinha. — Ela se explicou, e eu abri minha boca, procurando pelas palavras certas. Ao ver minha confusão, ela ficou sem graça, e complementou.

— A gente se falou uma vez quando você se mudou para o nosso bairro, mas não nos falamos de novo... — E depois de uma pausa, continuou. — Bem, não é exatamente o principal. Nós nos conhecíamos na infância, lembra? A garota da sua escola, representante de sala. Você e sua amiga falavam comigo...

E então eu me lembrei.

June Harley, prodígio da sala. Ela competia contra a Annie de lado a lado. Entretanto, foi ela quem ficou como representante da sala. Ela era melhor quando se tratava de socializar.

— Agora eu lembrei. — Eu dei um sorriso sem graça, colocando uma mecha do meu cabelo para trás do meu ouvido.

— Então, como você está? Não mudou muito, eu já tô vendo. — Ambas rimos, envergonhadas. — Você... Ainda fala com ela? Com a Annie?

E meu sorriso se desfez. Eu olhei para o chão, meu olhar ficando mais sério enquanto não respondia. Ela parecia entender que algo aconteceu, e arregalou os olhos.

— Ela tá desaparecida.

— Ah... Eu... Não sabia. Perdão, eu sinto muito. Faz...

Suponho que ela estava prestes a perguntar quanto tempo faria, mas se segurou. Ela percebeu que faria tudo mais climático. Ambas ficamos em silêncio, contemplando o chão e sua gloriosa sujeira de tantos sapatos. Embaraçoso.

ProfundamenteOnde histórias criam vida. Descubra agora